Cielo se preparou melhor para o fim da exclusividade, dizem especialistas
Operadora foi a mais agressiva em parcerias e exposição da marca
Tatiana Vaz
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h39.
São Paulo - A partir de hoje (1º/7), finalmente o tão debatido fim da exclusividade no mercado de cartões começa a vigorar. À parte os eventuais ajustes necessários à nova situação e os potenciais ganhos para os lojistas, as duas principais credenciadoras do mercado brasileiro vão, enfim, pôr à prova a estratégia que traçaram para este dia. Cielo e Redecard tiveram um ano para se adequar. Por isso, a pergunta é: quem se preparou melhor para os novos tempos? E, para os especialistas, a Cielo está largando na frente.
Além de mudar o nome de Visanet para Cielo, em novembro de 2009, a empresa tomou a dianteira em termos de publicidade da marca e números de parcerias, de acordo com Adriano Gomes, professor de administração de empresas da ESPM. "Acredito que a Redecard, por ser a mais tradicional do setor no país, achou que a concorrente não iria ter muito espaço no mercado e se acomodou", diz Gomes. "Enquanto isso, a Cielo investiu em comunicação de massa e tem ganhado a preferência dos lojistas e parceiros".
Toda essa movimentação da Cielo deve incentivar a Redecard a também bolar uma estratégia de fidelização de lojistas e clientes, diz Álvaro Musa, ex-presidente da Credicard no Brasil e sócio da consultoria Partner Conhecimento. "A Redecard tem tecnologia e força de marca suficientes para incomodar a concorrente, e a disputa entre elas deve ficar cada vez mais acirrada daqui para frente."
O consultor acredita que dificilmente as credenciadoras conseguirão oferecer aos lojistas benefícios como a redução dos custos com as transações de cartões. "Creio que os lojistas e clientes serão beneficiados de outras maneiras, como premiações e bônus", diz Musa. "Afinal de contas, os lojistas e clientes querem apenas que a operação de compra e venda funcione, independente da credenciadora que faça a transação".
Novas regras
O fim da exclusividade começou a ser debatido entre as operadoras e o governo há um ano. A partir de agora, as credenciadoras (responsáveis por habilitar os lojistas a receber o pagamento por meio das bandeiras) estão livres para aceitar qualquer cartão, ao contrário do que ocorria antes, quando a Cielo era parceira da Visa, e a Mastercard, da Redecard.
A nova fase promete beneficiar usuários e lojistas, além de acirrar ainda mais a disputa das duas maiores bandeiras do país, Visa e Mastercard. As mudanças darão aos lojistas brasileiros o livre arbítrio de optar pelo uso de uma única credenciadora para aceitar pagamentos com cartões de diversas bandeiras. Ou seja, tanto o cliente quanto os donos de lojas são agora clientes das marcas de cartões - e seus principais alvos comerciais.
Atualmente, cerca de 25% de todas as transações de compra e venda no país são feitas por meio de cartões de crédito. Para se ter ideia, de 1995 a 2009, o número de transações saltou de 15 milhões ao ano para 500 milhões - com a estimativa de que alcance 1 bilhão este ano. Nesse período, o valor das transações anuais também aumentou de 9 bilhões de reais para 350 bilhões. Os dados são da consultoria Partner Conhecimento, especializada no setor. "A meta é que, até 2025, 60% das transações comerciais do país sejam feitas por meio cartão, um nível semelhante ao do mercado europeu atualmente", diz Musa.