CEOs brasileiros ouvem demandas de jovens líderes negros e indígenas
CEO da Klabin, Movida, Eldorado e Neoenergia ouviram demandas de equidade e justiça em evento, paralelo à COP26 e organizado pela Rede Brasil do Pacto Global
Marina Filippe
Publicado em 9 de novembro de 2021 às 17h00.
Última atualização em 9 de novembro de 2021 às 20h14.
De Glasgow, na Escócia*
Pouquíssimos são os brasileiros que conseguem duas horas da agenda de CEOs de grandes empresas para falar abertamente sobre demandas e pautas como racismo, juventude e equidade. Mas, foi isto que ocorreu na manhã desta terça-feira, 9.
No evento, paralelo à COP26 e organizado pela Rede Brasil do Pacto Global, cinco CEOs receberam um grupo de lideranças para um café da manhã. Estiveram presentes Amanda Costa e Mahryan Sampaio, do Perifa Sustentável; Marcelo Rocha, do Fridays For Future Brasil e Instituto Ayika; e as líderes indígenas Samela Awiá e Txai Suruí se encontraram com Cristiano Teixeira, da Klabin; Renato Franklin, da Movida; Rodrigo Lilaber, da Eldorado; e Solange Ribeiro, da Neoenergia.
“Para as empresas terem seus negócios de fato sustentáveis as florestas precisam estar em pé, e isto pode ser feito com a sabedoria dos povos indígenas”, disse Txaí Suruí.
Já Samela Awiá aproveitou o momento para expor a luta do povo e a necessidade de melhorias urgentes. “Crianças do meu povo estão sendo afogadas por criminosos na terra, as demarcações diminuem, precisamos sobreviver”.
O tom de urgência marcou todas as falas. Para Marcelo Rocha, é importante que os discursos aconteçam na COP26, mas que eles não parem no evento e, mais do que isto, considerem as singularidades de cada região.
“O Fridays for Future com a sede em Estocolmo tem demandas diferentes do Brasil, na qual os jovens organizam um ato no MASP, em São Paulo, e precisam sair correndo para trabalhar e ter o dinheiro do aluguel no fim do mês”, afirmou. Rocha, inclusive, discursou no mesmo palco de Greta Thunberg na última sexta-feira.
Acessibilidade e justiça
Os jovens têm concordado, na COP26, sobre a importância da justiça climática para que sejam desenvolvidas adaptações, mitigação e resiliência ao se olhar para os que mais sofrem com a crise climática.
Além disso, há uma tentativa de desburocratizar as falas do tema. “Quem mais sofre com os impactos negativos das mudanças climáticas são as mulheres, negras, periféricas, quilombolas e indígenas. Elas precisam entender o que estamos falando e também estar nos espaços de decisões que irão afetar suas vidas”, diz Mahryan Sampaio.
Ainda em relação à inclusão, Amanda Costa, lembrou como a maioria das lideranças de empresas são majoritariamente brancas. "Fomos invisibilizados, mas devemos estar nesses espaços".
Após escutar as demandas da juventude, os CEOs comentaram a importância do momento. "Continue com a fúria e garra que precisamos para a mudança", disse Teixeira.
Mulheres na COP
A quinta-feira foi marcada pelos debates de gênero e equidade na COP26 . Para além de falar dos impactos das mudanças climáticas na vida de todos, a programação focou em mostrar como as mulheres são mais afetadas, visto que são elas que mais sofrem com desemprego, jornadas extras de cuidado da família e do lar, além de outros impactos que economicamente afetam a todos.
Neste cenário, o Reino Unido anunciou a destinação de 165 milhões de libras para combater as mudanças climáticas e abordar as desigualdades. "O Reino Unido está comprometido a enfrentar esse duplo desafio de frente, com novos financiamentos para capacitar comunidades e grupos de mulheres a tomar medidas de adaptação lideradas localmente, para construir resiliência local, nacional e global", disse Anne-Marie Trevelyan, presidente do principal evento do Gender Day e Representante Internacional do Reino Unido para Adaptação e Resiliência para a Presidência da COP26.
O valor, porém, não será para o Brasil. Do total, 45 milhões de libras serão destinados a ajudar a capacitar comunidades locais e grupos de mulheres na Ásia e no Pacífico para desafiar as desigualdades de gênero e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas. E 120 milhões de libras, serão usados para construir resiliência, prevenir a poluição, proteger a biodiversidade, fortalecer a energia renovável e gerenciar melhor os resíduos, ao mesmo tempo em que apoiam a liderança das mulheres, o acesso a finanças, educação e habilidades em Bangladesh.
EXAME na COP
A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (UNFCCC) é um tratado internacional com o objetivo de estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
Uma das principais tarefas da COP é revisar as comunicações nacionais e os inventários de emissões apresentados por todos os países-membros e, com base nessas informações, avaliar os progressos feitos e as medidas a ser tomadas.
Para além disto, líderes empresariais, sociedade civil e mais, se unem para discutir suas participações no tema. Neste cenário, a EXAME atua como parceira oficial da Rede Brasil do Pacto Global, da Organização das Nações Unidas.