Bancos intensificam busca por mais receitas com tarifas
Os bancos privados do país estão intensificando iniciativas para ampliar receitas com tarifas e serviços, tentando amortecer os efeitos da contração do crédito
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2016 às 18h54.
São Paulo - Os grandes bancos privados do país estão intensificando iniciativas para ampliar receitas com tarifas e serviços, tentando amortecer os efeitos da contração do crédito e aproveitando um ambiente em que o número de competidores encolhe.
No cardápio estão condições mais rigorosas para conceder isenção de tarifas, aproximação com públicos menos bancarizados e esforços para fazer clientes que têm contas em várias instituições concentrarem operações bancárias em apenas uma.
O Santander Brasil passou a condicionar a isenção de anuidade para seu cartão de crédito para clientes que fizerem ao menos 100 reais em compras todo mês. Além disso, serviços como saques e pagamento avulso de contas e boletos com o cartão de crédito, antes gratuitos no Santander, estão agora sujeitos a tarifas.
"Vamos manter a isenção da tarifa para clientes que fizerem um uso mínimo do cartão", disse à Reuters o diretor de relações com investidores do banco, Angel Santodomingo. "Queremos ter algo bom para o cliente e para a instituição." Já o Bradesco está "se aproximando mais dos clientes", nas palavras de seu diretor de relações com investidores , Luiz Carlos Angelotti.
Entre as medidas nesse sentido, o banco por trás da financeira Ibi Promotora, criada em parceira com o Banco do Brasil, está ampliando o time da operação. Com foco na população de menor renda, o banco que começou há algumas semanas a operar tem 1 bilhão de reais em empréstimos e operações com cartões já na saída.
No Itaú Unibanco, o chamado "não crédito" já há dois anos representa mais da metade da receita do banco. Desde o ano passado, o mesmo também é verdade para o Bradesco. A tendência se reforçou no primeiro trimestre. Somados os números de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, enquanto no primeiro trimestre a carteira de crédito encolheu 2,8 por cento, as receitas com serviços cresceram 7,9 por cento, para 16,66 bilhões de reais.
Embora seja uma reação natural à queda nos financiamentos, esse foco mais intenso sobre tarifas também reflete o esforço dos bancos para deixar o balanço mais leve, em preparação para a fase 3 do acordo de Basileia, que terá implementação integral no Brasil em 2019.
Na prática, isso significa que quanto menos atrelado a crédito um banco estiver, menos provisões terá que fazer para perdas com calotes. Com receita com tarifas, essa necessidade diminui sensivelmente. É a mesma lógica por trás do movimento de migração dos bancos para linhas de menor risco, como consignado e imobiliário.
Mas o foco dos bancos em defender um balanço mais sólido e rentável começa a fazê-los enfrentar desafios novos. Um deles é o aumento da concorrência aberta, com todos tentando seduzir clientes a concentrarem operações num banco apenas.
"O nosso plano é mostrar que temos a melhor oferta de serviços e fazer o cliente concentrar as operações conosco", disse o diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel.
Para analistas, o problema da tática de tentar compensar menos ganho no crédito ampliando as receitas com tarifas é que ela tem efeito de duração limitada, especialmente num ambiente de contração da renda de famílias e empresas.
"Pode dar certo por um ano, dois. Depois disso, vira uma disputa de um banco tentar tirar receita de outro", disse à Reuters o diretor de instituições financeiras da Fitch no país, Claudio Gallina. "Além disso, a projeção de receitas fica menos previsível." Um outro risco para os bancos é justamente o de desagradar os clientes, tentando tirar deles mais relacionamento -e mais tarifas- justamente num momento de contas apertadas para pessoas e empresas.
Segundo dados mais recentes do órgão de defesa do consumidor Procon-SP, após seis semestres consecutivos de queda, o número de reclamações contra bancos, incluindo sobre tarifas, subiu na segunda metade de 2015 para 10,6 mil ante 9,5 mil na primeira metade do ano.
E o processo de concentração bancária em curso, com a compra do HSBC Brasil pelo Bradesco, no ano passado, e a iminente saída do Citi das operações de varejo no país podem piorar ainda mais a relação entre bancos e clientes. Segundo o presidente presidente da Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif), Aparecido Donizete Píton.
Nesta sexta-feira, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, do Ministério da Justiça, multou o HSBC em 3,6 milhões de reais, por cobrança indevida de tarifa de cadastro de clientes que já tinham crédito com o banco.
"Os números de reclamações só não são maiores porque muitos consumidores não buscam as instâncias competentes, mas com a contração na renda das famílias esse cenário pode mudar", disse Píton.
São Paulo - Os grandes bancos privados do país estão intensificando iniciativas para ampliar receitas com tarifas e serviços, tentando amortecer os efeitos da contração do crédito e aproveitando um ambiente em que o número de competidores encolhe.
No cardápio estão condições mais rigorosas para conceder isenção de tarifas, aproximação com públicos menos bancarizados e esforços para fazer clientes que têm contas em várias instituições concentrarem operações bancárias em apenas uma.
O Santander Brasil passou a condicionar a isenção de anuidade para seu cartão de crédito para clientes que fizerem ao menos 100 reais em compras todo mês. Além disso, serviços como saques e pagamento avulso de contas e boletos com o cartão de crédito, antes gratuitos no Santander, estão agora sujeitos a tarifas.
"Vamos manter a isenção da tarifa para clientes que fizerem um uso mínimo do cartão", disse à Reuters o diretor de relações com investidores do banco, Angel Santodomingo. "Queremos ter algo bom para o cliente e para a instituição." Já o Bradesco está "se aproximando mais dos clientes", nas palavras de seu diretor de relações com investidores , Luiz Carlos Angelotti.
Entre as medidas nesse sentido, o banco por trás da financeira Ibi Promotora, criada em parceira com o Banco do Brasil, está ampliando o time da operação. Com foco na população de menor renda, o banco que começou há algumas semanas a operar tem 1 bilhão de reais em empréstimos e operações com cartões já na saída.
No Itaú Unibanco, o chamado "não crédito" já há dois anos representa mais da metade da receita do banco. Desde o ano passado, o mesmo também é verdade para o Bradesco. A tendência se reforçou no primeiro trimestre. Somados os números de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander Brasil, enquanto no primeiro trimestre a carteira de crédito encolheu 2,8 por cento, as receitas com serviços cresceram 7,9 por cento, para 16,66 bilhões de reais.
Embora seja uma reação natural à queda nos financiamentos, esse foco mais intenso sobre tarifas também reflete o esforço dos bancos para deixar o balanço mais leve, em preparação para a fase 3 do acordo de Basileia, que terá implementação integral no Brasil em 2019.
Na prática, isso significa que quanto menos atrelado a crédito um banco estiver, menos provisões terá que fazer para perdas com calotes. Com receita com tarifas, essa necessidade diminui sensivelmente. É a mesma lógica por trás do movimento de migração dos bancos para linhas de menor risco, como consignado e imobiliário.
Mas o foco dos bancos em defender um balanço mais sólido e rentável começa a fazê-los enfrentar desafios novos. Um deles é o aumento da concorrência aberta, com todos tentando seduzir clientes a concentrarem operações num banco apenas.
"O nosso plano é mostrar que temos a melhor oferta de serviços e fazer o cliente concentrar as operações conosco", disse o diretor de relações com investidores do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel.
Para analistas, o problema da tática de tentar compensar menos ganho no crédito ampliando as receitas com tarifas é que ela tem efeito de duração limitada, especialmente num ambiente de contração da renda de famílias e empresas.
"Pode dar certo por um ano, dois. Depois disso, vira uma disputa de um banco tentar tirar receita de outro", disse à Reuters o diretor de instituições financeiras da Fitch no país, Claudio Gallina. "Além disso, a projeção de receitas fica menos previsível." Um outro risco para os bancos é justamente o de desagradar os clientes, tentando tirar deles mais relacionamento -e mais tarifas- justamente num momento de contas apertadas para pessoas e empresas.
Segundo dados mais recentes do órgão de defesa do consumidor Procon-SP, após seis semestres consecutivos de queda, o número de reclamações contra bancos, incluindo sobre tarifas, subiu na segunda metade de 2015 para 10,6 mil ante 9,5 mil na primeira metade do ano.
E o processo de concentração bancária em curso, com a compra do HSBC Brasil pelo Bradesco, no ano passado, e a iminente saída do Citi das operações de varejo no país podem piorar ainda mais a relação entre bancos e clientes. Segundo o presidente presidente da Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif), Aparecido Donizete Píton.
Nesta sexta-feira, a Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça, do Ministério da Justiça, multou o HSBC em 3,6 milhões de reais, por cobrança indevida de tarifa de cadastro de clientes que já tinham crédito com o banco.
"Os números de reclamações só não são maiores porque muitos consumidores não buscam as instâncias competentes, mas com a contração na renda das famílias esse cenário pode mudar", disse Píton.