Arrecadação do Barcelona fica perto da soma dos 20 maiores times do Brasil
O time com maior arrecadação do País, o Flamengo, registrou um saldo de R$ 649 milhões, apenas 15% do total do clube catalão
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de outubro de 2018 às 19h49.
São Paulo - Estudo da empresa de marketing esportivo Sports Value mostrou que o Barcelona faturou sozinho, em sua última temporada, um valor que se aproxima do total arrecadado pelos 20 clubes brasileiros com as maiores receitas em 2017. O relatório reforça o enorme hiato entre o mercado do futebol nacional e o europeu.
O Barça arrecadou mais que qualquer europeu em um ano considerado atípico. O faturamento total durante a temporada 2017/2018 foi recorde para o clube catalão: 914 milhões de euros, o equivalente a mais de 4 bilhões de reais. Parte da receita está relacionada à venda de Neymar ao Paris Saint-Germain, que garantiu ao clube 222 milhões de euros (cerca de 1 bilhão de reais), valor da multa contratual.
Entre os clubes brasileiros, a realidade é bem diferente: os 20 times com maior receita conseguiram arrecadar juntos, em 2017, um total de 5,02 bilhões de reais. O Flamengo obteve o maior faturamento. O time rubro-negro arrecadou 649 milhões de reais, apenas 15 por cento do total do clube catalão em sua última temporada. O Palmeiras vem em seguida, com 504 milhões de reais. Já o São Paulo ficou na terceira posição, com um faturamento de 480 milhões de reais.
Quatro parâmetros foram utilizados para comparar o Barcelona com os brasileiros: arrecadação com direitos de TV, marketing, transferência de jogadores e receita de estádios, que inclui programas de sócio-torcedor. O relatório aponta alguns fatores responsáveis para tamanha discrepância entre os valores arrecadados: gestão da marca realizada globalmente, gerência de negócios altamente profissional, além de marketing e comunicação global são alguns deles.
O responsável pelo estudo, Amir Somoggi, demonstra preocupação com o estado do futebol brasileiro. Para ele, é grave que os 20 maiores clube do Brasil tenham quase a mesma renda que o time europeu e que isso é resultado da má gestão dos clubes do futebol brasileiro.
"O Barcelona, de 2003 para cá, acordou para a globalização da sua marca. Foi o mesmo ano em que os clubes brasileiros se depararam com os pontos corridos (no Campeonato Brasileiro). Então, poderia ter havido, em 2003, um momento efetivo de mudança quando mudou a legislação, estatuto do torcedor, etc. Foi naquele momento que os clubes falharam no Brasil", diagnosticou.
O autor do estudo diz que, ao analisar os números, é possível afirmar que os clubes brasileiros gastam dinheiro no futebol em si, mas não investem no negócio. Ao contrário do Barcelona, que, segundo ele, "gasta com escritórios de negócios ao redor do mundo". Somoggi explicou que o clube "investe na marca e tem patrocinadores espalhados pelo mundo inteiro", o que justifica o seu alto faturamento.
GESTÃO NO FUTEBOL
Questionado sobre a crise de arrecadação no futebol brasileiro, ele reconhece que a questão é complexa. "Não é só uma crise, é uma crise financeira, mercadológica, ética e de transparência". Somoggi afirmou ainda que o ambiente de negócios é péssimo no Brasil, o que dificulta a entrada de novos investidores, como russos e árabes, já conhecidos no futebol europeu. "A mentalidade da gestão dos times brasileiros não acompanhou o que aconteceu no mundo."
Ele também criticou as mudanças de presidência nos clubes a cada biênio: "Não adianta a gente ficar mudando de presidente a cada dois anos, presidentes que não entendem nada do negócio e quererem atrair a atenção de gestor".
Para Somoggi, os clubes deverão trabalhar internamente questões ligadas aos estádios, sócio-torcedor e patrocinadores, além de focar em um trabalho global. "O Brasil é um dos maiores mercados do mundo de futebol, mas não o único. Clubes americanos estão começando esse processo de globalização, chineses também, e nós ainda esperamos o que vamos fazer com o sócio-torcedor. Estamos muito atrasados."
Receitas dos clubes (arrecadação de 2017, em milhões):
1 - Flamengo: 648,7
2 - Palmeiras: 503,7
3 - São Paulo: 480,1
4 - Corinthians: 391,2
5 - Cruzeiro: 344,3
6 - Grêmio: 341,3
7 - Atlético-MG: 311,4
8 - Santos: 287,0
9 - Botafogo: 280,5
10 - Internacional: 245,9
11 - Fluminense: 212,12
12 - Vasco da Gama: 191,5
13 - Atlético-PR: 161,3
14 - Coritiba: 119,1
15 - Sport: 105,5
16 - Bahia: 104,9
17 - Chapecoense: 99,8
18 - Vitória: 90,5
19 - Ponte Preta: 68,8
20 - Goiás: 64,8