Após perder o irmão, ele criou uma startup que gerencia memórias e patrimônio de quem já partiu
Em rodada pré-seed, a startup recebeu aporte de US$ 150 mil da Antler, fundo de investimentos de Singapura que chegou ao Brasil em meados do ano passado
Repórter de Negócios
Publicado em 17 de março de 2023 às 09h18.
Última atualização em 28 de abril de 2023 às 14h00.
A startup Guardadoria acaba de captar US$ 150 mil (cerca de 750 mil reais) para explorar um mercado novo no Brasil, o de death techs. O dinheiro veio do Antler, fundo de investimentos em startups criado em Singapura em 2017 e que chegou ao Brasil na metade do ano passado.
A Guardadoria lida com memórias e questões financeiras de pessoa de pessoas falecidas. O impulso para a criação da startup vem de um evento trágico. Fabricio Santana, cofundador e idealizador da startup, perdeu o irmão precocemente, quando o familiar estava com 40 anos.
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A dor da perda foi acentuada pela ausência de informações tanto operacionais quantos emocionais:
- Onde encontrar o contrato de locação de imóvel
- Em quais bancos estão as contas bancárias
- Quais as contas digitais
- Que tipo de cerimônia de despedida ele gostaria de ter
- O que ele gostaria de dizer aos seus filhos quando fizerem 15 anos, quando se formarem na escola
O impacto fez com que Santana começasse a reunir diversas informações sobre a sua própria vida. Se algo acontecesse, a esposa e o filho teriam um pouco mais de facilidade de todos os processos e questões que acompanham a perda de um familiar.
Como surgiu a startup
Ele imprimia as informações sobre contas, imposto de renda e memórias. Colocava tudo em uma pasta física. Um ano depois, percebeu que digitalizar essas informações era o caminho mais adequado.
Conversando com Thiago Campos, empreendedor serial, amigo de longa data e hoje sócio, entenderam que a dor era compartilhava por mais pessoas.
Fundaram a Guardadoria, em Brasília, com investimentos de R$ 100 mil reais. Formado em tecnologia da informação e em direito, Santana usou o próprio conhecimento para criar a primeira versão da plataforma, um espaço para memórias, registros e dados pessoais.
Lá, gratuitamente, as pessoas colocam as informações e indicam contatos de confiança que terão acesso aos conteúdos em caso de óbito dos usuários.
Ao longo de 2022 e com participação na primeira turma do programa de residência da Antler no Brasil, a startup estruturou melhor o modelo de negócio.
Quais as novas soluções
A inspiração vem de startups dos Estados Unidos e Europa, mercados em que as deathtechs se encontram em estágios mais maduros. Empresas como Empathy, Cake, Just Vanilla e Farewill têm captado milhões de dólares para desenvolver produtos e planos que ajudem as pessoas em momentos de dor.
Desde o começo do ano, a Guardadoria começou a oferecer novos serviços. Incluiu o memorial, uma espécie de Wikipedia em as pessoas podem ter as suas histórias contadas; testamento digital e a formação de holding familiar. Os produtos têm custos que variam entre R$ 497,00, com o memorial, a R$ 15 mil, caso da holding familiar. A parte de registros e dados continua gratuita.
As soluções são mais focadas em questões patrimoniais e evitar conflitos familiares entre os herdeiros do contratante do serviço. "Quando a gente fala da parte emocional e operacional, todo mundo acha legal, mas o que eu percebo é que o brasileiro está preocupado com o dinheiro. Ele quer saber da herança: os meus filhos vão brigar pela herança, vão pagar quanto para receber", afirma Santana.
Quanto deve faturar a Guardadoria este ano
O desafio da Guardadoria – e até a isso Santana credita o investimento da Antler – é o de desenvolver o mercado para que as pessoas entendam que o planejamento deve ser feito por todos, independentemente da idade.
“Existe uma aceitação inicial muito grande, mas ao mesmo tempo as pessoas acham que não está na hora delas”, afirma Santana. O executivo conta que as pessoas sempre pensam nos pais e avós quando ele comenta sobre a plataforma. Hoje, a base de idade de clientes da startup está acima de 60 anos, normalmente pessoas com patrimônio consolidado.
Há também um barreira cultural, a morte é tabu no país e um dos assuntos a ser evitado. Como solução, a startup pretende ampliar os investimentos em educação e conscientização sobre a importância do planejamento.
Para este primeiro ano com a nova oferta de produtos, a startup estima um faturamento de R$ 1,5 milhão.