Após crise, bancos médios mudam estratégia para crescer
Um grupo de oito instituições, três delas perto de ter ações listadas em Bolsa, encerrou o ano com lucro consolidado 33% acima do ano anterior
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de fevereiro de 2020 às 12h34.
Os bancos médios ou de nicho mostraram nos resultados de 2019 que estão posicionados para crescer e enfrentar a concorrência, após passarem pelo menos três anos se recuperando da turbulência causada pela crise financeira de 2015 e da Lava Jato. Um grupo de oito instituições, três delas perto de ter ações listadas em Bolsa, encerrou o ano com lucro consolidado de R$ 5,32 bilhões, 33% acima do ano anterior. Se comparado a 2017, o aumento foi de 82%.
Os caminhos escolhidos para sobreviver aos efeitos da crise no mercado foram a diversificação dos negócios e serviços, a digitalização e o foco nas empresas menores. O grande evento para essas instituições está, no entanto, no forte crescimento das plataformas de investimento.
Por meio das plataformas de terceiros ou próprias, esses bancos têm captado recursos a custos mais competitivos, deixando de depender do apetite dos grandes bancos e outros investidores institucionais, majoritariamente os únicos compradores de certificados de depósito bancário (CDBs) e de letras financeiras (LFs) emitidas por eles até então.
Para boa parte dos bancos médios ou de nicho, agora é possível captar com custo inferior ao CDI, algo novo na história desse grupo. Por exemplo, o custo de captação do Banco Inter já se equipara ao do Banco do Brasil.
"Isso diminui a barreira de entrada para acesso a mais clientes" afirma o analista da XP Investimentos Marcel Campos. Ele lembra que, somado a um gasto menor com agências e funcionários e capilaridade maior, por causa da digitalização, essas instituições no mínimo podem hoje competir com maior facilidade.
Campos diz ainda que a abertura do sistema bancário deve ser favorecida pela agenda do Banco Central relacionada ao open banking, pagamentos instantâneos e desconto de recebíveis.
Segundo o vice-presidente e analista sênior da agência de classificação de risco Moody's, Alexandre Albuquerque, a rentabilidade dos bancos, de modo geral, é um dos principais focos de atenção da agência nesse momento, uma vez que a queda da Selic deverá testar a capacidade de oferecerem produtos e serviços competitivos para compensar a remuneração menor do patrimônio.
"A preocupação é colocar os recursos em empréstimos que tenham retorno adequado e rentabilizar essa alocação", diz o analista.
Caminhos
Depois da crise de 2015, em que parte das instituições acabou varrida pela exposição excessiva a um único segmento ou empresa, a maioria focou sua carteira de empréstimos em empresas menores e no crédito consignado. Entre eles, está o banco ABC Brasil, que há um ano e meio reclassificou sua carteira, mirando clientes menores.
Paralelamente, entrou no segmento de pessoas físicas e aposta na diversificação de receitas, por meio de seu banco de investimentos. Banrisul e Pan também têm valorizado clientes menores. Enquanto o gaúcho está na disputa pelos microempreendedores, o Pan busca ser identificado como o banco digital das classes C, D e E. O consignado é o alvo do mineiro BMG e do Paraná Banco. O Daycoval se destaca no crédito para veículos usados.
No campo digital e de inovação, Inter e BV buscam voo mais longo. O Inter lançou no ano passado seu superapp, um marketplace com agressivo apelo de cash back para fidelizar clientes de grandes varejistas para consumirem todos os serviços da instituição mineira. Já o BV mira a estrutura do open banking e se prepara para isso há alguns anos, gestando fintechs e startups. O foco é se vender como uma plataforma de inovação para as novatas do mercado financeiro. Isso sem abandonar sua maior vocação, o crédito para o segmento de veículos.
Embora mirem mercados distintos, há consenso em uma estratégia: a volta para a Bolsa como forma de captação de recursos para expansão. Nesse sentido, Paraná e Daycoval, que saíram do mercado em 2016 e 2015, respectivamente, já anunciaram a reestreia no mercado acionário.
O BV também está na fila para emplacar uma oferta pública inicial de ações no Brasil - os sócios Banco do Brasil e a família Ermírio de Moraes preparam operação de R$ 5 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.