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Analistas não sabem o que esperar de resultado da Petrobras

Expectativa para a divulgação do resultado não auditado da Petrobras do terceiro trimestre de 2014 é grande, mas analistas evitam comentários ou previsões

Petrobras: números operacionais já são conhecidos, mas a publicação dos dados financeiros foi atrasada mais de uma vez (Sergio Moraes/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2015 às 17h10.

Rio de janeiro - A expectativa no mercado para a possível divulgação, na terça-feira, do resultado não auditado da Petrobras do terceiro trimestre de 2014 é grande, mas analistas evitam comentar ou fazer previsões sobre o que pode ser divulgado.

Os números operacionais do período já são conhecidos, mas a publicação dos dados financeiros foi atrasada mais de uma vez devido à Operação Lava Jato , da Polícia Federal, que investiga um esquema de corrupção envolvendo a Petrobras.

"A gente não sabe nem o que falar, o que esperar, está todo mundo um pouco tenso com isso, mas espero que ele (balanço) saia e consigam acalmar os ânimos um pouco", afirmou a analista Mariana Bertone, da corretora GBM.

Embora muitos analistas procurados pela Reuters tenham preferido manter-se em silêncio, aguardando os desdobramentos do caso, os que aceitaram falar com a reportagem manifestaram incerteza e muita cautela.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Adriano Pires, ressaltou que a publicação de números não auditados traz bastante dificuldade para os atuais executivos da petroleira. "Eles serão responsáveis por qualquer número que saia ali, não vão ter a cobertura da auditoria", frisou Pires.

Segundo informações da PF, de procuradores do Ministério Público e de delatores do caso, executivos da estatal indicados por partidos políticos conspiraram com empresas de engenharia e construção do país para sobrevalorizar refinarias, navios e outros bens e serviços da Petrobras.

Os valores excedentes dos projetos teriam sido desviados para executivos, políticos e partidos.

No início do mês, a companhia disse que apresentará as demonstrações contábeis não auditadas ao Conselho de Administração em 27 de janeiro, e que a divulgação dos números nessa data dependerá de "resultado da reunião".

Também no começo de janeiro, a Reuters publicou que a Petrobras planeja contabilizar toda a esperada perda de bilhões de dólares decorrente do escândalo, segundo fonte com conhecimento direto do assunto.

Para o diretor do Cbie, o reconhecimento de baixas relacionadas à corrupção será uma decisão delicada. "Eles fazendo isso (baixa contábil), vão assinar um papel dizendo que houve corrupção. E aí como faz? Envolve quem, quem fez, onde estão as pessoas?", indagou. "Para mim não vai ser surpresa se eles adiarem mais uma vez."

Como os números previstos não serão auditados pela PriceWaterhouse&Coopers (PwC), o advogado e sócio da área de óleo e gás do escritório Veirano Advogados, Alexandre Calmon, acredita que possíveis baixas contábeis deverão ser apresentadas de forma conservadora.

"Eu tenho dificuldade em achar que vamos ver, em um primeiro momento, uma quantidade enorme de baixas contábeis, até porque não está muito clara a extensão das denúncias", afirmou ele, para quem a celeuma entre Petrobras e auditoria externa deve estar na definição do que deve ser contabilizado como baixa.

"Se fosse uma questão de se ter todas as baixas possíveis, não vejo porque uma auditoria independente se negaria a assinar o balanço", afirmou o advogado, acrescentando que a falta da chancela do auditor vai dar margem para muita especulação.

"O que para mim parece a grande armadilha é que a Petrobras vai apresentar números não auditados, que basicamente ela vai querer que os analistas confiem, em um cenário onde a credibilidade da diretoria da Petrobras anda absolutamente em cheque", afirmou Calmon.

Há ainda quem acredite que não sejam registradas quaisquer baixas contábeis na terça-feira.

Questionado se a publicação do balanço pode reduzir a ansiedade do mercado em relação à Petrobras, o analista Henrique Florentino, da UM Investimentos, afirmou que vai depender de possíveis reconhecimentos de baixas contábeis por corrupção.

"Acredito que a companhia esperará a revisão dos auditores para realizar baixas, porém qualquer sinalização nesse sentido pode minimizar o receio do mercado com as potenciais perdas", disse Florentino.

Em vídeo publicitário que começou a ser veiculado no fim de semana, a Petrobras afirma que "década após década, desafio após desafio, seguimos em frente. Recentemente fizemos uma descoberta que surpreendeu o mundo: o pré-sal. Hoje os desafios são outros. Por isso, estamos aprimorando a governança e a conformidade na gestão".

São Paulo - O primeiro trimestre ainda nem acabou, mas a Petrobras já acumulou problemas neste período que podem valer para o ano inteiro. Entre processo de investigação de propina, preço das ações despencando e produção de petróleo menor, a petroleira dá indícios que não vive um bom momento. Veja, a seguir, 10 enroscos em que a Petrobras já se meteu neste ano:
  • 2. Investigação sobre propina

    2 /11(Sérgio Moraes/Reuters)

  • Veja também

    Em fevereiro, ex-funcionários da holandesa SBM, que aluga navios-plataformas, fizeram denúncias que apontam que empregados da Petrobras receberam propina para fechar negócios. O processo indica que funcionários e intermediários da petroleira receberam cerca de 140 milhões de dólares. A Petrobras abriu uma auditoria interna para apurar as denúncias. Segundo Graça, os primeiros resultados da auditoria levaram 30 dias para sair. A Comissão de Fiscalização da Câmara dos Deputados aprovou hoje requerimento para que a empresa esclareça tais irregularidades.



  • 3. Endividamento bilionário

    3 /11(REUTERS/Nacho Doce)

  • A captação de  8,5 bilhões de dólares anunciada pela Petrobras nesta semana deve impactar ainda mais o endividamento da estatal. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, a dívida líquida da petroleira deverá passar de 100 bilhões de dólares até 2018. De acordo com o novo plano de negócios quinquenal da Petrobras (2014-2018), 60,5 bilhões de dólares serão levantados em dívida bruta nos próximos cinco anos.

  • 4. Queda da produção

    4 /11(Pedro Lobo/Bloomberg News)

    Em 2013, a produção de petróleo da Petrobras caiu 2,5% no Brasil. Neste ano, em janeiro, a produção também recuou.  No primeiro mês do ano, a produção total de petróleo e gás natural ficou 2,2% abaixo do total produzido em dezembro de 2013, quando atingiu 2,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia. Segundo a empresa, a interrupção da produção em duas unidades instaladas na Bacia de Campos e a venda de participação no Parque das Conchas impactaram a produção do período.


  • 5. Multa bilionária

    5 /11(REUTERS/Sergio Moraes)

    Entre outubro de 2013 e janeiro deste ano, a Petrobras recebeu cinco autuações da Receita Federal que somam 8,7 bilhões de reais. As informações estão no prospecto preliminar publicado na Securities and Exchange Comission (SEC), regulador do mercado de capitais da América do Norte. A Petroleira informou que já apresentou recursos em todos os casos. O processo ainda está em fase de julgamento.

  • 6. Ações despencaram

    6 /11(Alexandre Battibugli/EXAME)

    No final do mês passado, as ações ordinárias e preferenciais da Petrobras caíram  para o menor nível desde 2005 após a divulgação de que a dívida líquida da empresa havia crescido 50% no último ano. Os papéis preferenciais da empresa tiveram a maior queda da bolsa de São Paulo no dia 26 de fevereiro. As ações fecharam o dia cotadas a 13,70 reais, seu menor valor desde 27 de dezembro de 2005.

  • 7. Valor de mercado menor

    7 /11(Dado Galdieri/Bloomberg)

    A Petrobras foi a empresa que mais encolheu em valor de mercado no mês de fevereiro deste ano.
    Segundo dados da consultoria Economática, a estatal perdeu 12 bilhões de reais no mês passado na bolsa brasileira, período no qual o Ibovespa recuou 1,14%. Boa parte da queda é atribuída aos maus resultados de 2013 apresentados pela empresa.

    No final de fevereiro, o valor de mercado da estatal era de 172,8 bilhões de reais.

  • 8. Preço do dólar divergente

    8 /11(Bruno Domingos/Reuters)

    Durante evento para divulgar seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, a Petrobras afirmou que vai trabalhar com um dólar de 2,23 reais neste ano.

    A cotação média do mercado, no entanto, ultrapassa a cifra de 2,40 reais e a diferença está preocupando o mercado, que não consegue entender como a estatal chegou a esse valor.
  • 9. Preço do combustível

    9 /11(Divulgação/Petrobras)

    A interferência do governo nos negócios da Petrobras também tem preocupado investidores, principalmente quando o assunto é o polêmico  reajuste no preço do combustível.

    A fim de não aumentar a inflação, o governo tem segurado os preços e a estratégia tem impactado negativamente a petroleira. A estimativa do mercado é que a empresa tenha deixado de ganhar 1,1 bilhão por não repassar alta do petróleo.

  • 10. Independência do governo

    10 /11(Francois Lenoir/Reuters)

    No mês passado, Silvio Sinedino, funcionário da Petrobras há 26 anos e presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), ganhou o direito de ocupar uma cadeira no conselho de administração da estatal. Ao que tudo indica, Sinedino quer deixar claro que os funcionários da companhia não compactuam com a ideia de que as decisões da empresa teriam de estar totalmente alinhadas às decisões do Governo Federal. Hoje o conselho da Petrobrás é formado por dez membros, sete indicados pelo governo, um pelos acionistas minoritários de ações minoritárias, um pelos acionistas de ações preferenciais e um pelos empregados.





  • 11. Agora, veja 20 empresas que dominam o país

    11 /11(AGÊNCIA BRASIL)

  • Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCorrupçãoEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEscândalosEstatais brasileirasFraudesGás e combustíveisIndústria do petróleoOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

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