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Compra da Fnac pela Cultura (ambas em apuros) causa surpresa

Segundo consultores entrevistados por EXAME.com, operação causou surpresa no mercado, já que as duas empresas enfrentavam dificuldades financeiras

Fnac: “Não só nos livros, mas também vemos queda nas vendas de CDs, DVDs e até eletrônicos”, afirmou consultor (Paul Cooper/Bloomberg)

Karin Salomão

Publicado em 19 de julho de 2017 às 19h01.

Última atualização em 19 de julho de 2017 às 20h07.

São Paulo – Para ganhar força e enfrentar a ameaça da Amazon, a Livraria Cultura anunciou a compra da operação brasileira da Fnac .

Segundo consultores entrevistados por EXAME.com, a operação causou estranheza no mercado, já que as duas empresas enfrentavam dificuldades financeiras.

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Elas sofriam com vendas de livros cada vez mais baixas. A queda real foi de 17,1% de 2006 a 2016, já com valores atualizados pela inflação, segundo pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Os números melhoraram ligeiramente em 2017, segundo dados da Nielsen, mas ainda estão longe do auge.

“Não só nos livros, mas também vemos queda nas vendas de CDs, DVDs e até eletrônicos”, afirmou Jean Paul Rebetez, sócio-diretor da consultoria GS&Consult.

Assim, "a Fnac já cambaleava há um tempo e a Livraria Cultura conseguia segurar as pontas, mas sem muita margem para grandes movimentações", afirmou ele.

Sérgio Herz, presidente da Livraria Cultura, afirmou ao EXAME Hoje que a rede operava no prejuízo desde 2012 e já esperava mais um ano no vermelho para 2017.

Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, nos últimos dois anos a Livraria Cultura viu sua receita cair 17%. Para combater as quedas, buscou ser mais eficiente e cortou custos. Reduziu seus escritórios de três andares para um e demitiu 800 funcionários. "A gente fez a lição de casa, reduzimos custos e ganhamos eficiência”, disse Herz ao jornal.

Já a empresa comprada, no Brasil desde 1999, está em processo de reestruturação na Europa e decidiu alocar investimentos diretos apenas para a expansão dos negócios no continente, enquanto que para negócios internacionais, como o Brasil, o capital para investimentos virá de fontes externas.

Por isso, desde o final do ano passado a Fnac buscava um sócio ou comprador para tocar a operação no Brasil, algo necessário para a expansão e continuidade da empresa, segundo Arthur Negri, presidente da Fnac do Brasil, em uma entrevista a EXAME.com em março.

Preço atraente e sinergias

As empresas não divulgaram o valor da operação. Mas, por conta da baixa no mercado e dos apuros financeiros das companhias, os consultores avaliam que o preço deve ter sido bem atraente para a compradora.

A Fnac já buscava um sócio desde o ano passado e, para ter fechado a operação apenas agora, deve ter oferecido um preço oportuno para a Cultura, analisa Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada em varejo e bens de consumo.

A compra pode ajudar a Cultura a se levantar, analisam os consultores. Com a aquisição, a empresa pode cortar custos duplicados em sua operação e ganhar com sinergias. "A empresa pode otimizar a mão de obra e até ter mais força para discutir com fornecedores", diz Rebetez.

A rede também se torna mais capilar e presente no Brasil. Com as 12 lojas da Fnac, ela passa a ter 30 livrarias pelo Brasil.

Experiência em eletrônicos

A maior vantagem para a Cultura, porém, é o ganho de experiência na venda de eletrônicos. Segundo o comunicado enviado pela rede de livrarias, a aquisição permite que ela "diversifique seus negócios adicionando novas linhas dos produtos e serviços".

"A compra é uma forma para a Livraria Cultura ganhar mais musculatura e conhecimento em um mix mais ampliado", afirma Foganholo. Para ele, as vendas de eletrônicos podem impulsionar o comércio eletrônico da empresa.

Ele afirmou que o modelo de negócios da Fnac é muito peculiar. Não só as suas lojas são maiores que as da concorrência, mas também o mix de produtos é bastante distinto, com muitos produtos eletrônicos, eletrodomésticos e até roupas e miniaturas para colecionadores.

Essa variedade pode se tornar um grande atrativo para a Cultura que precisará se reinventar para voltar a crescer.

Ameaça gigante

Além das dificuldades financeiras, as redes de livrarias ainda sofrem com a ameaça da Amazon. A gigante do comércio eletrônico começou as vendas de livros físicos no Brasil em 2014, mas ainda tem pouca força no mercado brasileiro. No entanto, ela começou a se fortalecer por aqui, com contratações e investimentos.

"A Amazon ainda está muito acanhada no Brasil. Mas, na hora em que esse gigante resolver colocar o pé no acelerador, pode ser uma ameaça muito grande para o mercado", afirma Rebetez.

 

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