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Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
O administrador de empresas paulistano José Roberto Sevieri começou, há 25 anos, a publicar e a vender gibis sobre segurança no trabalho. Especializou-se no assunto e passou a receber convites para dar palestras e participar de congressos. Dali até organizar ele mesmo os eventos foi uma questão de tempo. Ao longo dos anos, criou mais de uma dezena de feiras e exposições voltadas para a segurança no trabalho e outros temas técnicos aparentemente áridos, como automação predial e segurança no trânsito. Fundou o grupo Cipa, que se tornou um dos dez maiores promotores de feiras do país, com faturamento de 11,5 milhões de reais neste ano. Das 23 feiras que promoveu em 2002, 19 foram realizadas em São Paulo. "O tamanho da cidade justifica essa concentração", diz Sevieri. Seu carro-chefe é a Exposec, uma das cinco maiores feiras do mundo no setor de segurança patrimonial. Realizada em novembro, com 600 expositores, atraiu 42 000 visitantes ao Pavilhão Imigrantes.
Sevieri é um exemplo de empresário que soube identificar um nicho e aproveitar as oportunidades criadas pelo mercado de eventos em São Paulo. Trata-se de um negócio que movimenta cerca de 1,6 bilhão de reais por ano na cidade, segundo a União Brasileira dos Promotores de Eventos (Ubrafe). Esse valor é a soma do faturamento das empresas organizadoras, da receita obtida pelas diversas prestadoras de serviços que gravitam em torno dos eventos e dos gastos realizados pelos visitantes com hospedagem, alimentação e transporte. Estima-se que os turistas de negócios gastem ainda 1 bilhão de reais por ano com compras e lazer na cidade.
Das 150 maiores feiras de negócios do país, 108 são realizadas em São Paulo. Em alguns segmentos são promovidos até três eventos por ano. "Não há público para tanta feira", afirma Sevieri. "Com tanta oferta no mercado, o expositor pode ser mais seletivo." Em outras palavras, dá para escolher o evento capaz de proporcionar o maior retorno.
Retorno é o que promete também um evento inusitado como a Feira Internacional do Consumidor Cristão (Ficoc), que pretende tornar-se o maior balcão de negócios cristãos da América Latina. A primeira edição foi realizada em setembro no ExpoMart, em São Paulo. Reuniu 60 expositores e gerou 3,5 milhões de reais. "Para o ano que vem, já estão garantidos 100 expositores", diz o empresário Eduardo Pacheco, da EBF Eventos, que administra a Ficoc. O principal alvo do evento são os evangélicos e os seguidores de alguns ramos protestantes, que somam 30 milhões de fiéis no país. "É um consumidor ponderado na hora da compra e bom pagador", afirma Pacheco. A patrocinadora da feira é a Sociedade Bíblica do Brasil, que só no ano passado vendeu mais de 4 milhões de Bíblias. "Não estamos acostumados a falar de números, mas, na hora dos negócios, temos uma visão secular", diz Pacheco.
Grandes negócios
Se a feira cristã ainda está em fase embrionária, não faltam exemplos de eventos consolidados que movimentam os negócios em São Paulo. A temporada de 2003 será aberta em janeiro com a Couromoda, já em sua 30a edição. O Pavilhão de Exposições do Anhembi deverá reunir 800 expositores, responsáveis por 80% da produção brasileira de calçados. Durante a feira, são negociados de 25% a 30% do total produzido no país no ano. "São cerca de 200 milhões de pares", diz o empresário Francisco Santos, presidente da Couromoda. A feira de calçados gerou frutos em outras áreas. O mesmo grupo que promove a Couromoda está por trás da Hospitalar, feira do setor médico-hospitalar, e da Hair Brasil, voltada para beleza e estética.
A Hospitalar, a segunda maior do mundo no gênero, demonstra a força de um segmento que costuma passar ao largo do público leigo. É dirigida a médicos, administradores e outros profissionais que influenciam ou decidem as compras de hospitais, clínicas, consultórios e laboratórios --um mercado que movimenta em torno de 54 bilhões de reais por ano no Brasil. São Paulo abriga metade dos 800 congressos, convenções e outros eventos realizados durante o ano no país para esse público altamente especializado. O motivo é simples: a cidade concentra 65% do poder decisório sobre a compra e a venda de equipamentos e produtos médicos no país.
"No setor de saúde, os congressos e as feiras são importantes porque ninguém compra nada só olhando um catálogo", diz Mauro Stormovski, diretor executivo da Hospitalar. Para a próxima edição da feira, em junho de 2003, no Expo Center Norte, são esperados 70 000 visitantes. Desses, 3 000 são compradores de países da América Latina, do Caribe, da África e da Ásia. "Eles vêm em busca das nossas soluções, que são adequadas à maioria dos países em desenvolvimento", diz Stormovski.
Realizar eventos de alcance internacional é um objetivo perseguido por muitos promotores de eventos, mas eles enfrentam alguns dos conhecidos problemas de São Paulo, como a violência urbana e deficiências na infra-estrutura. "Faltam ainda instalações adequadas às exigências internacionais", diz Carlos Alberto Júlio, presidente da HSM, que organiza congressos e seminários com gurus estrangeiros da área de administração. Para realizar no início de novembro a Expomanagement, o maior evento de educação executiva do mundo, a HSM optou pelo Transamérica Expo Center, em Santo Amaro. O local escolhido tem ar-condicionado (parece um item básico, mas ainda não é uma regra entre os grandes espaços de eventos da cidade) e é estratégico: fica próximo dos executivos que comandam empresas na região da marginal Pinheiros e da Berrini.
A empresária Cecília Rotenberg, diretora da MKTática, especializada em planejamento e organização de eventos, com clientes na área de tecnologia, como Microsoft e Samsung, também aponta falhas nas instalações. "Há lugares onde a entrada do salão fica ao lado da tela do palestrante. O entra-e-sai de gente é constrangedor", diz Cecília. Outro problema é a falta de mão-de-obra qualificada. Há alguns anos, um dos vice-presidentes de uma multinacional atendida por Cecília ficou preso num elevador por 20 minutos durante um congresso. Teria sido um probleminha fácil de resolver se do outro lado do interfone houvesse alguém que falasse inglês.
É bom mesmo que mais pessoas aprendam inglês e outros idiomas. "O mercado internacional é hoje a melhor alternativa", diz Rafael Guagliardi, diretor-superintendente da Alcântara Machado, a maior organizadora de feiras da América Latina, responsável por eventos como a Fenit, a feira da indústria têxtil, e o Salão do Automóvel, que neste ano atraiu 600 000 visitantes ao Anhembi. Com 27 feiras programadas para 2003, a Alcântara Machado espera o aumento da participação de compradores chineses e indianos nos setores têxtil e de máquinas e equipamentos -- eles poderiam compensar a queda da presença de empresários argentinos.
Se o Salão do Automóvel tem a cara de São Paulo, alguns dos grandes eventos internacionais itinerantes, ao estilo da ECO 92, parecem ainda mais associados a cidades como o Rio de Janeiro. "O Rio tem uma tradição de marketing contínuo que São Paulo não fez direito nos últimos anos", afirma Eduardo Sanovicz, presidente da Anhembi Turismo, órgão da prefeitura de São Paulo. "Parece estranho, mas São Paulo é relativamente desconhecida lá fora", diz Jorge Mattoso, secretário de relações internacionais da prefeitura paulistana. "O Rio, por sua beleza, e Porto Alegre, pelo Fórum Social Mundial, são mais lembrados que São Paulo."
Numa tentativa de mudar esse quadro, São Paulo voltou a participar em 2001, depois de uma longa ausência, da EIBTM, a feira das feiras, em Genebra, na Suíça. E, no dia 3 de dezembro, a prefeitura e entidades de turismo da cidade lançaram um plano de marketing para divulgar no Brasil e no exterior os atrativos gastronômicos, culturais e de entretenimento de São Paulo. Com 2 000 restaurantes, 124 museus, 62 teatros e um comércio sofisticado, a metrópole tem condições de atrair mais visitantes. "Somos a cidade com melhor infra-estrutura na América Latina", diz Roberto Gheler, presidente do São Paulo Convention & Visitors Bureau. O plano de marketing pretende elevar o número de turistas na cidade dos atuais 6,5 milhões de pessoas por ano para 15 milhões até 2010. Além disso, quer incentivar os participantes de feiras e exposições a aproveitar a viagem para ficar mais tempo na cidade. A média atual de permanência dos turistas em São Paulo é de 2,3 dias, segundo Nelson Baeta Neves, presidente da seção paulista da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira. "Precisamos criar condições para que os visitantes fiquem mais alguns dias para aproveitar a cidade, como acontece com Miami, Buenos Aires e Rio", diz Baeta.
A indústria dos eventos
Alguns números do mercado paulistano de feiras e exposições
Os palcos das feiras
As principais áreas de eventos
Transamérica Expo Center
Localização: zona sul (marginal Pinheiros)
Área: 22 000 metros quadrados, divididos em três pavilhões
Características: direcionou-se para eventos empresariais
Facilidades: é próximo das empresas instaladas na avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini; hotel e centro de convenções conjugados; é climatizado
Problemas: o trânsito da marginal
Anhembi
Localização: zona norte (perto da marginal Tietê)
Área: 57 600 metros quadrados em dois pavilhões; um pavilhão desmontável de 9 000 metros
Características: abriga algumas das maiores feiras do país, como o Salão do Automóvel e a Couromoda
Facilidades: é próximo do centro; ganhará um hotel em 2003
Problemas: o trânsito pesado; redondezas sujeitas a alagamentos; o pavilhão não é climatizado
Expo Center Norte
Localização: zona norte (ao lado do Shopping Center Norte)
Área: 60 000 metros quadrados, divididos em seis pavilhões
Características: dividido em módulos, costuma abrigar feiras grandes e pequenas ao mesmo tempo
Facilidades: perto do centro; hotel anexo; 2 000 metros quadrados de área em nove auditórios; será climatizado em 2003
Problemas: o trânsito pesado; imediações sujeitas a alagamentos
ITM Expo
Localização: zona oeste (próximo à Ceagesp)
Área: 38 000 metros quadrados em quatro pavilhões
Características: concebido para ser um shopping atacadista, costuma receber feiras de porte médio e congressos
Facilidades: é climatizado; estacionamento coberto; centro de convenções sob o mesmo teto
Problemas: é longe do centro; região sujeita a engarrafamentos
Pavilhão Imigrantes
Localização: zona sul (rodovia dos Imigrantes)
Área: 50 000 metros quadrados, divididos em três pavilhões
Características: recebe de feiras agropecuárias a congressos médicos; sediará a Bienal do Livro até 2010
Facilidades: fica perto do aeroporto de Congonhas; possui área para demonstração de máquinas pesadas; centro de convenções sob o mesmo teto
Problemas: não é climatizado; é longe do centro
Espaços em obras
O ano de 2003 será de reformas nos principais centros de eventos da cidade. O Expo Center Norte adquiriu ecentemente uma área de 130 000 metros quadrados anexa ao atual complexo, formado por seis pavilhões e nove auditórios. O plano é ampliar o estacionamento, melhorar as vias de acesso e instalar ar-condicionado nos pavilhões. "Vamos dar mais qualidade aos expositores e visitantes", diz o diretor Sérgio Pasqualim.
O velho Anhembi, a maior área contínua de exposições de São Paulo, foi o primeiro a entrar em obras. O pavilhão ainda não tem ar-condicionado, mas o Palácio de Convenções ganhou a esperada refrigeração e ares mais modernos. Há também o projeto de um hotel da rede Six Continents, que deve ficar pronto no segundo semestre de 2003.
O Pavilhão Imigrantes ganhou projeção ao abrigar a Bienal do Livro, mas seu forte tem sido as feiras técnicas e agropecuárias. Para atrair clientela nova, vai investir na construção de um viaduto e de uma alça de acesso à rodovia dos Imigrantes. "Isso acabará com a impressão errônea de que estamos num local de difícil acesso", diz o gerente-geral Maurizio Sarcinella.
Construído para ser um shopping atacadista, o ITM Expo (ex-Centro Têxtil) acabou se especializando em convenções, como as do setor médico, e feiras para até 20 000 visitantes. "Nosso diferencial é colocar tudo sob o mesmo teto. Assim, o público não se dispersa", diz o diretor-superintendente Fernando Amaral.
Inaugurado no ano passado, o Transamérica Expo Center, do Grupo Alfa, sediou eventos como a Expomanagement e a MaxiMídia. "São eventos menores e dirigidos", diz o diretor Vilmar Rodriguez. "Há mercado para atender clientes sofisticados." O espaço já tem 40 eventos agendados para 2003.