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A Copersucar sem presidente

O cargo vago é apenas um sinal de como pode ser difícil mudar a cultura de uma empresa -- mesmo quando o dono quer

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h41.

Vista da porta para fora, a Copersucar é um modelo para o setor. Seu complexo portuário em Santos, no litoral paulista, é uma máquina gigante e poderosa, responsável por quase 30% dos embarques de álcool e 14% do açúcar exportado pelo Brasil. Entre os consumidores mais velhos, ela é lembrada por ter patrocinado a primeira equipe de Fórmula 1 brasileira, criada nos anos 70 pelo piloto Emerson Fittipaldi. Mas quem olha a empresa na intimidade não vê uma potência moderna e competitiva. Os processos de decisão são lerdos, até os altos executivos têm pouca autonomia, e muita energia se perde em incontáveis reuniões.

Os donos sabem disso. Há cinco anos, os 29 usineiros associados à Copersucar identificaram a necessidade de tirar o pó acumulado nos 46 anos de existência da cooperativa e encomendaram uma reestruturação a uma consultoria. Foram necessárias mudanças estratégicas. Para se concentrar no ponto forte -- venda de grandes volumes para a indústria e para exportação --, a empresa vendeu à americana Sara Lee as marcas de café Caboclo, Pilão e União. Há poucos meses, desfez-se também do açúcar União, comprado pela Nova América. Com intenção de profissionalizar a gestão, foram contratados executivos para substituir os cooperados na diretoria.

Foi aí que a Copersucar enfrentou o que talvez seja hoje um dos maiores desafios das empresas -- transformar a própria cultura. Nesses momentos, um misto de costumes enraizados, apego a processos e medo do desconhecido parece tomar conta das organizações que se dispõem a experimentar uma transição radical. Às vezes, o choque entre o velho e o novo produz baixas. A mais evidente foi a do executivo Cassio Paulo França Domingues Filho, ex-diretor da multinacional Cargill, chamado para ser o primeiro profissional a ocupar a presidência na Copersucar. Ele ficou apenas um ano e meio e pe diu demissão em dezembro passado. Até o fechamento desta edição, a vaga era ocupada interinamente por Luís Pogetti, diretor administrativo-financeiro. "Cassio quis se dedicar a projetos pessoais", diz Hermelindo Ruete de Oliveira, presidente do conselho de administração da Copersucar. Não é o que se comenta na empresa. "O Cassio não su portou o centralismo dos cooperados", diz um de seus amigos. "Telefonavam até para saber se os navios tinham atracado no porto."

A Copersucar em números
Principais indicadores da empresa nos últimos anos
Faturamento (em bilhões de reais)
2003/ 2004
3,7
2004/ 2005
4,5
Exportações de açúcar (em milhões de toneladas)
2003/ 2004
2
2004/ 2005
2,3
Exportações de álcool (em milhões de litros)
2003/ 2004
240
2004/ 2005
570
Fonte: empresa

A centralização é parte de um contexto. O agronegócio no Brasil deixou de ser sinônimo de lavouras atrasadas para virar uma das mais competitivas indústrias nacionais. Mas gestão profissional ainda é uma novidade para a maior parte dos usineiros, capitães de um setor que, em alguns aspectos, não muda desde o ciclo do açúcar, no século 16. "O dono de uma usina acorda pela manhã, pega o telefone e liga para o canavial para saber detalhes do corte da cana", diz um ex-executivo da Copersucar.

Domingues também teve dificuldade para lidar com as duas grandes facções que dividem a Copersucar. De um lado, o líder é o discreto Antonio José Zillo, com vários cursos no exterior e respeitado pela habilidade como negociador. De outro, o extrovertido Homero Corrêa de Arruda Filho, representante de um ramo da família canavieira Ometto. "As duas partes não concordavam sobre a venda da União, o que atrasou as negociações", diz um executivo do setor. De acordo com Oliveira, a Copersucar ainda não desistiu da profissionalização. "Estamos procurando um novo presidente", diz. "Mas poucos executivos à altura do cargo atuam na área." Enquanto isso, a empresa encolhe. Nos últimos 15 anos, perdeu quase 60 associados. Cada um que sai leva uma fatia da produção. Há apenas cinco anos, ela detinha quase 30% da cana do Centro-Sul. Segundo as próprias estimativas, vai contribuir com 20% na próxima colheita. "Vamos fazer um plano para atrair novos associados", diz Oliveira. "Só assim poderemos iniciar uma nova fase de expansão."

Com reportagem de Cristiane Mano

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