Zelensky devia ter sido convidado por Lula para vir ao Brasil, diz chefe de gabinete dele
Andriy Yermak pede que país não convide Putin para reunião de cúpula do Brics
Repórter de macroeconomia
Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 15h36.
Última atualização em 14 de janeiro de 2025 às 15h58.
A falta de convite para uma visita do presidenteVolodymyr Zelensky ao Brasil incomodou o governo da Ucrânia, disse Andriy Yermak, chefe de gabinete da Presidência do país. Zelensky gostaria de ter participado da reunião do G20, em novembro, no Rio de Janeiro, que atraiu dezenas de chefes de Estado.
"A Ucrânia celebrou a decisão [ do Brasil ] de não convidar o ditador Putin ao G20, mas infelizmente também não convidou nosso presidente. A voz do Brasil é importante para negociar com a Rússia, e é uma oportunidade para mostrar liderança em resolver crises humanitárias no cenário global", afirmou, em entrevista coletiva da qual a EXAME participou.
Yermak disse que um convite do Brasil para que Putin participe da reunião do Brics, bloco que o Brasil ocupa a Presidência rotativa, também seria um mau sinal ao mundo. Uma reunião de cúpula do grupo, do qual a Rússia faz parte desde o início, deverá ocorrer em julho no Rio de Janeiro.
"O senhor Lula recebeu o senhor Lavrov [ chanceler da Rússia ] por duas vezes, mas não recebeu o chanceler da Ucrânia nem Zelensky nenhuma vez. A Ucrânia pode trazer parcerias em aviação, com a Antonov, na agricultura e na exploração espacial. Lula não está interessado em ouvir sobre isso, mas o povo do Brasil está", disse.
Lula se encontrou com Zelensky às margens da Assembleia-Geral da ONU, em setembro de 2023, mas nunca o recebeu no Brasil. O país busca manter uma posição mais neutra no conflito e tenta mediar uma solução, junto com a China. Lula e Zelensky já trocaram farpas públicas em outras ocasiões. O líder ucraniano costuma cobrar o Brasil por uma ação mais enfática contra a Rússia.
A guerra na Ucrânia, iniciada em 2022 após uma invasão da Rússia, completará três anos em fevereiro. Há a expectatitva de que a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, possa acelerar o fim do conflito, ou ao menos um cessar-fogo.
Cessar-fogo
Yermak disse ainda que um cessar-fogo temporário na Ucrânia, sem maiores garantias, não funcionará. Ele diz temer que uma pausa na guerra, que já dura quase três anos, poderá servir apenas para que a Rússia ganhe tempo para preparar um novo ataque.
"Será importante saber qual tipo de paz será e como essa guerra terminará. Cessar-fogo por si só não funcionará. Dará a chance ao Kremlin de se preparar para uma nova agressão. Não é algo que o povo da Ucrânia está disposto a aceitar", afirmou.
"Durante as reuniões entre o presidente Zelensky e o presidente Trump, ainda candidato, em Nova York, e depois da eleições, em Paris, eu vi por mim mesmo que o presidente Trump entende totalmente quem é o agressor, que é Putin, e entende que a paz é muito importante, e que a paz precisa ser justa", disse.
"Estamos esperando o dia 20 de Janeiro [ data da posse ]. Eu visitei os Estados Unidos depois das eleições, para algumas consultas e reuniões. Mas as conversas reais só começam depois da posse. Espero que muito em breve tenhamos uma reunião entre os presidentes Trump e Zelensky", afirmou.
Um dos pontos delicados, no entanto, é se a Ucrânia aceitaria um acordo de paz no qual perderia parte de seus territórios para a Rússia. Sobre o tema, Yermak diz que seu governo mantém o plano de recuperar todas as áreas, mas reconhece que isso poderá levar tempo.
"Nossa meta é tirar os agressores de todas as nossas as terras, dentro da fronteira reconhecida internacionalmente e restaurar a integridade territorial completa da Ucrânia. Mas somos pessoas realistas, e é impossível fazer isso imediatamente", afirma.