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Você queimaria US$105 milhões? Quênia fez isso por boa razão

País pôs fogo no maior estoque de marfim apreendido no mundo para mostrar compromisso de combate à caça ilegal, que ameaça extinguir elefantes e rinocerontes

Batalha: país queimou maior estoque de marfim apreendido no mundo para mostrar compromisso de combate à caça ilegal. (REUTERS/Thomas Mukoya)

Vanessa Barbosa

Publicado em 4 de maio de 2016 às 16h30.

São Paulo - Uma fogueira de valor estimado em 105 milhões de dólares (cerca de 367 milhões de reais). Quem deliberadamente queimaria tanto dinheiro assim? O Quênia fez isso — e por uma boa razão.

No último sábado (30), o país colocou fogo em mais de 105 toneladas de presas de elefantes e chifres de rinocerontes, o maior estoque ilegal de marfim apreendido já queimado no mundo.

A investida teve um objetivo claro: chamar a atenção da comunidade internacional para demonstrar o compromisso do Quênia com o combate à caça furtiva, que ameaça levar à extinção os elefantes e rinocerontes na África.

REUTERS/Thomas Mukoya

A prática de abate de elefantes tem como único fim a retirada das presas. Estimativas falam numa média de 30 000 animais mortos todos os anos para esse fim.

Mais da metade do material furtado vai para China, onde o marfim alimenta um mercado negro de esculturas, armações de óculos e até pauzinhos usados para comer entre outros produtos ilegais. O quilo do marfim, conhecido como "ouro branco", varia de mil a três mil dólares.

No caso dos rinocerontes, só no ano passado, mais de 1 300 animais foram mortos por caçadores para abastecer um mercado ilegal que movimenta cerca de 70 bilhões de dólares por ano. Moído, o chifre do rinoceronte é vendido a centenas de dólares por grama no mercado negro para ser usado na medicina asiática.

REUTERS/Thomas Mukoya

Queima de marfim no Quênia em 30.04.2016
REUTERS/Thomas Mukoya

A queima das piras gigantes de marfim no Quênia coincide com o encontro do The Giants Club (ou Clube dos Gigantes), um fórum que reúne líderes de nações que servem de lar para elefantes e rinocerontes. Junto com ONGs, especialistas e grupos ambientalistas, eles discutem soluções e mecanismos para reduzir o massacre sanguinário de animais.

"Ninguém, repito, ninguém, irá comercializar marfim, se esse comércio for sinônimo de morte dos nossos elefantes e morte para o nosso patrimônio natural", disse o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, durante a cerimônia.

Há quem considere a medida "um tiro no pé". A fogueira histórica representa 5% do estoque global de marfim, e quando se tira uma grande quantidade dessa do mercado, corre-se o risco de gerar o efeito contrário e indesejado: aumento do valor do marfim e, consequentemente, da caça furtiva.

REUTERS/Thomas Mukoya

Quando ficou claro para a comunidade internacional que os esforços de regulamentar esse comércio haviam fracassado, criou-se em 1989 a proibição internacional do comércio de marfim sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES).

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São Paulo - Uma fogueira de valor estimado em 105 milhões de dólares (cerca de 367 milhões de reais). Quem deliberadamente queimaria tanto dinheiro assim? O Quênia fez isso — e por uma boa razão.

No último sábado (30), o país colocou fogo em mais de 105 toneladas de presas de elefantes e chifres de rinocerontes, o maior estoque ilegal de marfim apreendido já queimado no mundo.

A investida teve um objetivo claro: chamar a atenção da comunidade internacional para demonstrar o compromisso do Quênia com o combate à caça furtiva, que ameaça levar à extinção os elefantes e rinocerontes na África.

REUTERS/Thomas Mukoya

A prática de abate de elefantes tem como único fim a retirada das presas. Estimativas falam numa média de 30 000 animais mortos todos os anos para esse fim.

Mais da metade do material furtado vai para China, onde o marfim alimenta um mercado negro de esculturas, armações de óculos e até pauzinhos usados para comer entre outros produtos ilegais. O quilo do marfim, conhecido como "ouro branco", varia de mil a três mil dólares.

No caso dos rinocerontes, só no ano passado, mais de 1 300 animais foram mortos por caçadores para abastecer um mercado ilegal que movimenta cerca de 70 bilhões de dólares por ano. Moído, o chifre do rinoceronte é vendido a centenas de dólares por grama no mercado negro para ser usado na medicina asiática.

REUTERS/Thomas Mukoya

Queima de marfim no Quênia em 30.04.2016
REUTERS/Thomas Mukoya

A queima das piras gigantes de marfim no Quênia coincide com o encontro do The Giants Club (ou Clube dos Gigantes), um fórum que reúne líderes de nações que servem de lar para elefantes e rinocerontes. Junto com ONGs, especialistas e grupos ambientalistas, eles discutem soluções e mecanismos para reduzir o massacre sanguinário de animais.

"Ninguém, repito, ninguém, irá comercializar marfim, se esse comércio for sinônimo de morte dos nossos elefantes e morte para o nosso patrimônio natural", disse o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, durante a cerimônia.

Há quem considere a medida "um tiro no pé". A fogueira histórica representa 5% do estoque global de marfim, e quando se tira uma grande quantidade dessa do mercado, corre-se o risco de gerar o efeito contrário e indesejado: aumento do valor do marfim e, consequentemente, da caça furtiva.

REUTERS/Thomas Mukoya

Quando ficou claro para a comunidade internacional que os esforços de regulamentar esse comércio haviam fracassado, criou-se em 1989 a proibição internacional do comércio de marfim sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (CITES).

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