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Vítimas do genocídio na Bósnia pedem que Handke perca Nobel de Literatura

Peter Handke é considerado "admirador" do ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, que foi condenado por crimes de guerra

Hanke: já foram coletadas 12 mil assinaturas para exigir a retirada do Nobel de Handke por ser admirador de Milosevic, o "açougueiro dos Bálcãs" (Christian Hartmann/Reuters)
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EFE

Publicado em 11 de outubro de 2019 às 14h20.

Belgrado/Viena — A principal associação de vítimas do genocídio cometido na cidade bósnia de Srebrenica, em 1995, anunciou nesta sexta-feira que pedirá a retirada do prêmio Nobel de Literatura de 2019 concedido a Peter Handke, acusado de defender responsáveis por crimes de guerra.

Munira Subasic, presidente da associação Mães de Srebrenica, declarou ao portal bósnio "Klix" que o pedido será entregue ao Comitê Nobel.

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"O homem que defendia os açougueiros balcânicos não pode obter esse prêmio. Estamos muito afetados como vítimas. Como pode ganhar o prêmio Nobel alguém que defende os criminosos e, sobretudo, que cometeram o genocídio?", disse Subasic.

Em Srebrenica, milícias servio-bósnias assassinaram 8 mil muçulmanos durante a guerra na Bósnia, ato que a justiça internacional classificou como genocídio.

A posição pró-Sérvia de Handke reabriu velhas feridas nos Bálcãs ocidentais, um território ainda traumatizado pelas consequências das guerras de desintegração da antiga Iugoslávia.

Para alguns, Handke faz apologia aos crimes cometidos em nome do nacionalismo sérvio. Para outros, é um intelectual que se atreveu a lutar contra a demonização dos sérvios como causadores de todos os males das guerras na Iugoslávia.

Sefik Dzaferovic, membro muçulmano da tripla presidência bósnia (composta por um bósnio-muçulmano, um croata e um sérvio), também considera uma vergonha a premiação de Handke, o qual classificou como um admirador do autoritário ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic.

"É vergonhoso que o Comitê Nobel ignore o fato de que Handke justifica e defende Slobodan Milosevic e seus executores Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que foram condenados pelos crimes de guerra mais graves, incluindo o genocídio", argumentou Dzaferovic.

O presidente do Kosovo, Hashim Thaçi, também criticou a concessão do prêmio a Handke.

"O genocídio na Bósnia-Herzegovina teve um autor. Handke optou por apoiar e defender esses autores. A decisão sobre o prêmio Nobel trouxe imenso repúdio às inúmeras vítimas", escreveu Thaçi no Twitter.

O primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, usou a mesma rede social para se manifestar no mesmo tom.

"Nunca pensei que sentiria vontade de vomitar por um prêmio Nobel, mas a falta de vergonha está se tornando normal no mundo em que vivemos. Não, não podemos ser tão insensíveis com o racismo e o genocídio", declarou.

Vários intelectuais de Bósnia, Kosovo e Albânia criticaram a decisão, se referindo a Handke como um apologista e negacionista dos crimes cometidos em nome do nacionalismo sérvio.

Na plataforma de petições "Change.org" já foram coletadas 12 mil assinaturas para exigir a retirada do Nobel de Handke por ser admirador de Milosevic, o "açougueiro dos Bálcãs".

Já na Sérvia, onde Handke é amplamente reconhecido e agraciado, o prêmio foi recebido com alegria. O ministro da Cultura, Vladan Vukosavljevic, destacou que o escritor esteve com "o povo sérvio" nos momentos mais difíceis.

O cineasta sérvio Emir Kusturica também comemorou o prêmio e disse que a "luta política (de Handke) foi a continuação da sua literatura".

Desde que publicou "Uma viagem de inverno pelos rios Danúbio, Sava, Morava e Drina ou justiça para a Sérvia", em 1996, o escritor sempre foi acompanhado pela polêmica gerada pelas posições políticas.

Os críticos consideraram essa crônica de sua viagem aos Bálcãs um panfleto pró-Sérvia. Alguns afirmam até que o escritor chega a questionar o genocídio de Srebrenica.

Handke nega que tenha questionado ou minimizado o massacre. Segundo ele, a intenção era matizar a imagem maniqueísta da imprensa internacional de que os sérvios eram "malvados" e os bósnios-muçulmanos eram "bons".

Durante os bombardeios da Otan em 1999 contra a então Iugoslávia - justificados pelos excessos no Kosovo - Handke afirmou que a aliança pretendia criar "um novo Auschwitz", em referência ao Holocausto desenvolvido pela Alemanha nazista. Posteriormente, Handke se desculpou por te usado essa expressão.

A polêmica aumentou anos depois, ao defender o autoritário Milosevic, o qual inclusive visitou na prisão em Haia, em 2004, quando foi julgado como criminoso de guerra. Handke também discursou no enterro de Milosevic, em 2006.

Intelectuais austríacos como a Nobel de Literatura de 2004, Elfriede Jelinek, e o escritor Robert Menasse, defenderam o direito à dissidência de Handke e criticaram como censura as tentativas de calá-lo.

Para outros, como a escritora americana Susan Sontag, que morreu em 2004, mas esteve em Sarajevo durante o assédio sérvio-bósnio, e o italiano Claudio Magris, a posição de Handke minimiza o ultranacionalismo sérvio e as suas ações agressivas.

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