Villa las Estrellas, uma cidadezinha em plena Antártica
A cidade de Villa las Estrellas tem 64 habitantes, entre homens, mulheres e crianças que moram em pouco mais de uma dezena de casas
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2014 às 10h35.
Villa las Estrellas - A professora se prepara para mais um dia de aula, enquanto os alunos pegam cadernos e lápis para anotar a lição.
Estamos em uma escola de ensino fundamental chilena, igual a tantas outras, com a exceção de que fica em Villa Las Estrellas, uma cidadezinha em plena Antártica .
Vizinha à base chilena de Frei, na baía Fildes, a cidade tem 64 habitantes, entre homens, mulheres e crianças que moram em pouco mais de uma dezena de casas.
Além de escola , possui mercado, shopping, correios, academia de ginástica e até uma agência bancária.
Os moradores são famílias, chefiadas na maioria por militares que servem na base aérea chilena, que precisam se adaptar às rigorosas condições do frio antártico e a dividir o espaço com animais como os pinguins-papua ou pinguins-gentoo ( Pygoscelis papua ), com seus característicos bico e patas alaranjados, abundantes nas praias da região.
“Viver aqui é divertido, em comparação com o continente. A parte difícil é ter que passar muitos dias confinado por causa do frio. No inverno passado, por exemplo, passamos oito dias sem poder sair de casa por causa do vento e das nevascas”, contou à AFP José Carillán Rosales, diretor e professor da Escola Básica de Villa Las Estrellas.
Morar na Antártica exige planejamento. Os itens de higiene pessoal, como pasta de dente e sabonetes, precisam ser trazidos do continente e armazenados, assim como os alimentos, que devem ser congelados.
O mercadinho local abre apenas duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras, e não tem variedade, apenas coisas básicas, uma marca de cada produto.
Faz dois anos que Rosales, originário de Chillán, oitava região do Chile, a 450 km de Santiago, onde as temperaturas podem chegar aos 38ºC no verão, vive na Antártica com a mulher, também professora da escola de ensino fundamental, e os dois filhos pequenos, um menino que está na sexta série e uma menina, na segunda.
Apesar de ter que se adaptar ao inverno, quando as temperaturas podem despencar até os – 40ºC, ele vê vantagens em morar aqui.
“Aqui a vida é tranquila, a gente não se preocupa com assaltos, com o trânsito. Além disso, lá no continente, a gente vê o filho na hora do almoço e à noite. Aqui estou com eles o dia todo”, afirmou.
Escola polar
Estas vantagens, além do salário cinco vezes maior, atraem os professores de todo o Chile a viver em um ambiente tão inóspito.
“Para vir para cá, os professores participam de um concurso nacional. Aqueles que querem vir e cumprem os requisitos, podem se candidatar”, relatou à AFP a professora Maria Cristina Hernández, esposa de Rosales.
"O primeiro requisito é ser casado e que ambos sejam professores. Além disso, pedem muitas coisas no currículo, como licenciatura, experiência de pelo menos um ano trabalhando. Depois, o ministério [da Educação] aplica diferentes provas e manda a seleção para a Força Aérea, que escolhe as pessoas”, relatou.
Não são aceitos candidatos solteiros porque os selecionados precisarão dividir uma única casa, explicou Maria Cristina. No fim deste ano, um novo concurso deverá ser realizado.
A escola funciona desde 1985 e tem duas salas, um salão grande para atividades diversas, armazém, dois banheiros, uma pequena sala de computação. As aulas são ministradas das 08h30 às 13h00 e das 14h30 às 16h00. O currículo é o mesmo do de outras escolas do Chile ou “do continente”, como dizem os moradores de Villa, embora a Antártida ainda seja um território sem dono.
Por lá já passaram 290 crianças, filhos e filhas de oficiais da Força Aérea Chilena e dos professores e funcionários que trabalham ali. Atualmente, seis crianças estudam na escola: duas na segunda série, duas na quarta, uma na sexta e outra na sétima.
Josefina Opaso, de 9 anos, é filha de um oficial da Força Aérea e do Chile e de uma funcionária do pequeno shopping da vila.
Na quarta série da escola, ela relata com entusiasmo as coisas de que mais gosta de viver na Antártica.
“É fascinante viver em um lugar aonde quase ninguém vem. Também é um desafio porque pra viver aqui, temos que sair sempre muito bem agasalhados e às vezes nem mesmo podemos sair por causa das nevascas. Essa é a parte difícil de viver na Antártica”, contou a menina, acrescentando que se pudesse escolher entre ficar em casa e visitar a família, em Santiago, não hesitaria em passar as férias no continente gelado.
Além das vantagens financeiras, viver novas experiências parece ser um atrativo a mais para os chilenos que decidem residir ali.
Morando em Villa desde dezembro passado e com contrato até julho próximo, Francisco Fuentes, de 62 anos, gerencia a única agência do banco BCI na cidade.
Casado há 37 anos, pai de dois filhos adultos, ele deixou a família no Chile para ser o único funcionário do banco que funciona diariamente, das 10h00 às 14h30 e das 16h00 às 18h30.
Ali, seus cerca de 80 clientes – que trabalham em bases chilenas, Frei e a vizinha Governação Antártica Marítima chilena - podem fazer saques em pesos chilenos, transferências, trocar dólares e fazer investimentos.
“O que gosto de fazer aqui são coisas impensáveis quando eu vivia no continente, como voar de helicóptero sobre os glaciares”, disse Fuentes, que ganha 120% mais do que ganhava no Chile para viver e trabalhar na Antártica.
Villa las Estrellas - A professora se prepara para mais um dia de aula, enquanto os alunos pegam cadernos e lápis para anotar a lição.
Estamos em uma escola de ensino fundamental chilena, igual a tantas outras, com a exceção de que fica em Villa Las Estrellas, uma cidadezinha em plena Antártica .
Vizinha à base chilena de Frei, na baía Fildes, a cidade tem 64 habitantes, entre homens, mulheres e crianças que moram em pouco mais de uma dezena de casas.
Além de escola , possui mercado, shopping, correios, academia de ginástica e até uma agência bancária.
Os moradores são famílias, chefiadas na maioria por militares que servem na base aérea chilena, que precisam se adaptar às rigorosas condições do frio antártico e a dividir o espaço com animais como os pinguins-papua ou pinguins-gentoo ( Pygoscelis papua ), com seus característicos bico e patas alaranjados, abundantes nas praias da região.
“Viver aqui é divertido, em comparação com o continente. A parte difícil é ter que passar muitos dias confinado por causa do frio. No inverno passado, por exemplo, passamos oito dias sem poder sair de casa por causa do vento e das nevascas”, contou à AFP José Carillán Rosales, diretor e professor da Escola Básica de Villa Las Estrellas.
Morar na Antártica exige planejamento. Os itens de higiene pessoal, como pasta de dente e sabonetes, precisam ser trazidos do continente e armazenados, assim como os alimentos, que devem ser congelados.
O mercadinho local abre apenas duas vezes por semana, às terças e sextas-feiras, e não tem variedade, apenas coisas básicas, uma marca de cada produto.
Faz dois anos que Rosales, originário de Chillán, oitava região do Chile, a 450 km de Santiago, onde as temperaturas podem chegar aos 38ºC no verão, vive na Antártica com a mulher, também professora da escola de ensino fundamental, e os dois filhos pequenos, um menino que está na sexta série e uma menina, na segunda.
Apesar de ter que se adaptar ao inverno, quando as temperaturas podem despencar até os – 40ºC, ele vê vantagens em morar aqui.
“Aqui a vida é tranquila, a gente não se preocupa com assaltos, com o trânsito. Além disso, lá no continente, a gente vê o filho na hora do almoço e à noite. Aqui estou com eles o dia todo”, afirmou.
Escola polar
Estas vantagens, além do salário cinco vezes maior, atraem os professores de todo o Chile a viver em um ambiente tão inóspito.
“Para vir para cá, os professores participam de um concurso nacional. Aqueles que querem vir e cumprem os requisitos, podem se candidatar”, relatou à AFP a professora Maria Cristina Hernández, esposa de Rosales.
"O primeiro requisito é ser casado e que ambos sejam professores. Além disso, pedem muitas coisas no currículo, como licenciatura, experiência de pelo menos um ano trabalhando. Depois, o ministério [da Educação] aplica diferentes provas e manda a seleção para a Força Aérea, que escolhe as pessoas”, relatou.
Não são aceitos candidatos solteiros porque os selecionados precisarão dividir uma única casa, explicou Maria Cristina. No fim deste ano, um novo concurso deverá ser realizado.
A escola funciona desde 1985 e tem duas salas, um salão grande para atividades diversas, armazém, dois banheiros, uma pequena sala de computação. As aulas são ministradas das 08h30 às 13h00 e das 14h30 às 16h00. O currículo é o mesmo do de outras escolas do Chile ou “do continente”, como dizem os moradores de Villa, embora a Antártida ainda seja um território sem dono.
Por lá já passaram 290 crianças, filhos e filhas de oficiais da Força Aérea Chilena e dos professores e funcionários que trabalham ali. Atualmente, seis crianças estudam na escola: duas na segunda série, duas na quarta, uma na sexta e outra na sétima.
Josefina Opaso, de 9 anos, é filha de um oficial da Força Aérea e do Chile e de uma funcionária do pequeno shopping da vila.
Na quarta série da escola, ela relata com entusiasmo as coisas de que mais gosta de viver na Antártica.
“É fascinante viver em um lugar aonde quase ninguém vem. Também é um desafio porque pra viver aqui, temos que sair sempre muito bem agasalhados e às vezes nem mesmo podemos sair por causa das nevascas. Essa é a parte difícil de viver na Antártica”, contou a menina, acrescentando que se pudesse escolher entre ficar em casa e visitar a família, em Santiago, não hesitaria em passar as férias no continente gelado.
Além das vantagens financeiras, viver novas experiências parece ser um atrativo a mais para os chilenos que decidem residir ali.
Morando em Villa desde dezembro passado e com contrato até julho próximo, Francisco Fuentes, de 62 anos, gerencia a única agência do banco BCI na cidade.
Casado há 37 anos, pai de dois filhos adultos, ele deixou a família no Chile para ser o único funcionário do banco que funciona diariamente, das 10h00 às 14h30 e das 16h00 às 18h30.
Ali, seus cerca de 80 clientes – que trabalham em bases chilenas, Frei e a vizinha Governação Antártica Marítima chilena - podem fazer saques em pesos chilenos, transferências, trocar dólares e fazer investimentos.
“O que gosto de fazer aqui são coisas impensáveis quando eu vivia no continente, como voar de helicóptero sobre os glaciares”, disse Fuentes, que ganha 120% mais do que ganhava no Chile para viver e trabalhar na Antártica.