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Venezuela lança corrida do ouro para sobreviver à maior crise da história

País decide processar Reino Unido em 1 bilhão de dólares por recusa do Banco Central britânico em devolver toneladas de barras de ouro

Venezuela pede que Reino Unido devolva barras de ouro depositadas em Banco Central inglês (Getty Images/Getty Images)

Venezuela pede que Reino Unido devolva barras de ouro depositadas em Banco Central inglês (Getty Images/Getty Images)

CA

Carla Aranha

Publicado em 22 de maio de 2020 às 18h30.

Última atualização em 23 de maio de 2020 às 09h47.

Sem recursos financeiros para estimular a maior (e praticamente única) indústria do país, de extração de petróleo, a Venezuela trocou no fim de abril cerca de 9 toneladas de ouro com o Irã para contar com assistência técnica dos iranianos para suas depauperadas refinarias. Com isso, a Venezuela praticamente raspou o fundo do tacho de suas reservas, que já vinham minguando.

Agora, o governo venezuelano pressiona o Banco Central da Inglaterra para liberar 930 milhões de euros em barras de ouro depositadas nos cofres da instituição. Com uma queda no PIB de mais de 60% nos últimos sete anos, desde que o presidente Nicolás Maduro assumiu o poder, a Venezuela passa pela pior crise de sua história e precisa desesperadamente de recursos.

Neste ano, com a indústria petroleira em seu momento mais crítico, com a falta de investimentos, a expecativa é que o PIB caia 15%, um recorde. “Não há mais gasolina, a energia elétrica vive falhando e não temos remédios”, diz o analista de petróleo venezuelano José Martin, de 38 anos, que vive em uma cidade do interior do país.

“Outro problema é o coronavírus. Não sabemos ao certo quantas pessoas pegaram a doença, e de qualquer forma não há equipamentos para tratar os doentes”, afirma. Oficialmente, a Venezuela tem pouco mais de 880 casos confirmados da covid-19.

Para o governo venezuelano, a última âncora de salvação para a crise econômica e da saúde é recuperar as barras de ouro depositadas nos cofres ingleses. Mas, aparentemente, isso não será fácil. O governo britânico não reconhece a legitimidade do governo Maduro, acusado de fraudar as eleições de 2018, assim como outras 60 nações. Ao mesmo tempo, as sanções americanas impedem os países de fazer negócios com a Venezuela.

Diante da recusa britânica em devolver o ouro, o governo venezuelano decidiu processar o Banco Central da Inglaterra em cerca de 1 bilhão de dólares. A instituição financeira não comenta o assunto.

O governo venezuelano resolveu não economizar para ter seu ouro de volta. O conhecido (e caro) escritório de advocacia britânico Tim Lord e Zaiwalla & Co foi escolhido para levar o processo adiante. A firma conseguiu um acordo com o governo britânico em 2019 numa complexa disputa judicial de 1,3 bilhão de libras por sanções econômicas impostas pelo Reino Unido a Teerã, que acabaram sendo consideradas ilegais.

Os efeitos mundiais da pandemia também estão colaborando para tornar o cenário na Venezuela ainda mais complexo. Além do Irã, um dos principais aliados do governo venezuelano é a Rússia, que enfrenta uma crise sem precedentes, com aumentos impactantes no número de casos confirmados de coronavírus. Já são mais de 335.800 infectados. A Rússia ocupa o segundo lugar no ranking dos países com o maior número de casos, logo depois dos Estados Unidos.

Com o mundo em meio a uma pandemia e uma grave crise econômica, a última alternativa que resta à Venezuela é tentar obter liquidez por meio de suas reservas de ouro depositadas no Reino Unido. Mas, no momento, nem isso parece estar adiantando muito.

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