Vaticano alerta contra episódios imaginários relacionados a milagres e aparições
Aprovadas pelo papa Francisco, as normas permitem uma interpretação mais moderada desses casos
Agência de notícias
Publicado em 17 de maio de 2024 às 15h56.
Da multiplicação de pizzas às lágrimas em imagens religiosas, o Vaticano atualizou, nesta sexta-feira, 17, as regras relacionadas aos acontecimentos sobrenaturais, reconhecendo que episódios imaginários e "mentiras" podem prejudicar os fiéis.
As novas normas, publicadas pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovadas pelo papa Francisco, permitem uma interpretação mais moderada deste tipo de acontecimento.
"Em certas circunstâncias, nem tudo é preto ou branco", disse o cardeal argentino Víctor Manuel Fernández, chefe do Dicastério, durante coletiva de imprensa.
"Às vezes uma possível reação divina se mistura (...) a pensamentos e fantasias humanas", disse ele. A história da Igreja Católica está repleta de fenômenos estranhos ou inexplicáveis envolvendo estátuas religiosas ou objetos de todos os tipos.
Há dois meses, o Vaticano rejeitou como falsos os supostos milagres de uma imagem da Virgem Maria na pequena cidade de Trevignano Romano, a noroeste de Roma, que não só teria chorado sangue como teria aumentado o tamanho das pizzas.
As novas regras atualizam as que existiam desde 1978 e orientam os bispos, que até agora tinham liberdade para determinar a autenticidade das visões e aparições. Segundo o documento, o Vaticano "resolveu" apenas seis casos deste tipo desde 1950.
"Hoje chegamos à convicção de que estas situações complicadas, que causam confusão entre os fiéis, devem ser sempre evitadas", indicou o cardeal Fernández no documento.
Maior colaboração entre dioceses e Vaticano
As novas regras exigem maior colaboração entre as dioceses e o Vaticano no caso de eventos deste tipo.
Além disso, a decisão final de reconhecê-los deverá ser aprovada pelo Dicastério, um passo crucial para evitar "crimes, manipulação de pessoas, danos à unidade da Igreja, benefícios econômicos indevidos, graves erros doutrinários, etc., que poderiam causar escândalos e minar a credibilidade da Igreja".
Caso o acontecimento seja reconhecido com um "Nihil obstat" ("nada obsta"), "isso não implica uma declaração de autenticidade de possíveis fenômenos sobrenaturais", observa o documento.
Os fiéis podem "aderir" à ideia de que se trata de um fenômeno sobrenatural, mas não vai haver uma declaração oficial de autenticidade, que no geral deve ser evitada sob as novas regras, a menos que seja autorizada pelo papa.
Para o cardeal argentino, a maioria dos grandes locais de peregrinação da Igreja se desenvolveram ao longo dos anos sem declaração oficial sobre a autenticidade do milagre original.
Nos casos mais graves, para evitar qualquer confusão ou escândalo, o Dicastério pedirá ao bispo local que declare publicamente que a crença no fenômeno não é permitida e que explique as razões desta decisão.
A Igreja, sublinha o Dicastério, deve reagir mais rapidamente, porque estes fenômenos "adquirem proporções nacionais e até globais", devido à difusão nas redes sociais.
Os fatores a considerar são “a possibilidade de erros doutrinários, uma simplificação excessiva da mensagem do Evangelho ou a difusão de uma mentalidade sectária”.
Outros elementos incluem fiéis “enganados por um acontecimento atribuído à iniciativa divina, mas que nada mais é do que o produto da imaginação de alguém” ou de pessoas inclinadas à “mentira”.
Segundo o cardeal Fernández, é impossível saber a quantidade de eventos sobrenaturais que ocorrem a cada ano, já que a maioria é administrada pelas dioceses.