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Vale a pena viajar para Argentina agora? Destino é o mais buscado por brasileiros para 2024

Com a medida do novo governo, brasileiros que planejam realizar uma viagem para o país vizinho questionam se a situação econômica pode impactar a intenção de tirar o plano das férias do papel

Argentina: medidas duras de Milei pode favorecer turistas brasileiros (John W. Banagan/Getty Images)
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 15h38.

O governo Javier Milei anunciou na terça-feira, 12, um pacote de medidas para enfrentar a crise econômica da Argentina. Entre os principais pontos está a desvalorização do câmbio em 54%, que passará a ser de 800 pesos por dólar.

Com a medida do novo governo, brasileiros que planejam realizar uma viagem para o país vizinho questionam se a situação econômica pode impactar a intenção de tirar o plano das férias do papel. A EXAME consultou economistas e operadoras de turismo para explicar o cenário.

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Segundo Bruno Imaizumi, LCA Consultoria Econômica, com a desvalorização do peso argentino, outras taxas de câmbios devem ser impactadas, o que pode favorecer o turista brasileiro.

"Olhando por esse aspecto turístico brasileiro, o que mais chamou a atenção ontem no pacote argentino de medidas econômicas foi a desvalorização do peso. Como essa taxa oficial é balizadora para as outras taxas paralelas de câmbio, elas também devem subir", disse.

A Argentina é o único país do mundo que tem mais de 10 tipos de conversão da moeda, dependendo do setor. As restrições e tributos criaram cotações para diferentes segmentos da economia. O país possui dólar comercial, paralelo e de turismo, além dos câmbios para "vinho", "trigo" e "Bolsa", por exemplo. O chamado dólar blue, mais conhecido no mercado paralelo, subiu 7,5% em relação ao fechamento anterior eé vendido a 1.150 pesos.

Imaizumi explica ainda que a desvalorização do câmbio oficial fará com que o real siga competitivo na região. "No curto prazo, para quem vai viajar agora, não deve ter muitas mudanças", explica. Mesmo que o real tenha ganhado valor em relação ao peso argentino, os brasileiros que planejam visitar o país devem ficar atentos para conseguir uma cotação mais vantajosa.

Os produtos argentinos, que já são considerados baratos para consumidores de outros países, podem ficar ainda mais atrativos quando os preços são convertidos em moedas mais fortes, como dólar, euro e até o real, o que pode favorecer os turistas.

"O país, em especial Buenos Aires, é um destino atrativo economicamente para os brasileiros. Temos a questão do câmbio favorável, que possibilita um upgrade nos serviços, com excelentes hotéis, restaurantes, vinhos e passeios a custos abaixo do que normalmente seriam. isso já aconteceu outras vezes e sempre que isso ocorre, nós vemos a demanda pelo país aumentar. Esses fatores fazem com que o destino tenha um atrativo a mais, além de tudo que ele já oferece e as pessoas adoram, e seja cada vez mais procurado", disse Fabiano Camargo, presidente do Conselho da BRAZTOA.

Melhor momento para viajar para a Argentina

De acordo com Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club, o melhor momento para o brasileiro viajar para Argentina é quando há uma grande valorização do dólar de forma repetida, porque assim o turista consegue fazer a conversão de real para pesos de forma vantajosa.

"Nesse cenário, o brasileiro ainda consegue aproveitar os preços antes de serem reajustados. A medida em que valor do dólar sobe os comerciantes da Argentina também vão aumentar os seus serviços, mas existe um delay para isso ocorrer. Esse é o momento bom para o turista", explicou.

Mudança de cenário no longo prazo

No médio e longo prazo,a vantagem econômica em viajar para a Argentina pode acabar. Com o pacote de Milei, a projeção é que os preços acelerem nos próximos meses. O ministro da economia, Luis Caputo, admitiu, durante o anúncio do pacote de medidas, que a situação socioeconômica no país, no primeiro momento, vai se agravar, inclusive com aumento da inflação, que já supera 140% em 12 meses.

"Mais para frente, outros fatores também dependerão, sobretudo os preços de passagens aéreas, que, em teoria, não são controladas por governos e sim reguladas livremente pelas leis de oferta e demanda do mercado aéreo", disse Imaizumi.

A preocupação com o custo da viagem se explica pelos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Nos últimos três meses, as passagens aéreas no Brasil registraram três altas consecutivas de dois dígitos, com avanço no período de 56,29%.

Argentina é o destino favorito dos brasileiros

Segundo levantamento feito pelo Airbnb, Buenos Aires foi a cidade com o maior número de pesquisas entre os brasileiros que estão considerando sair do país em 2024. O estudo teve como base pesquisas realizadas no período entre 1º de janeiro de 2023 e 30 de setembro de 2023, para viagens ao longo de 2024.

Neste ano, a Argentina vive um boom do turismo, com brasileiros e outros vizinhos inundando a Argentina para aproveitar a crise cambial que torna tudo 'barato', desde estações de esqui aos famosos bife de lomo e vinho Malbec .

No primeiro trimestre de 2023, dados oficiais indicam que 1,9 milhão de turistas estrangeiros entraram ao país, quase o dobro do 1 milhão que visitaram a Argentina no mesmo período de 2022. Entre janeiro e março, os turistas estrangeiros injetaram US$ 1,5 bilhão na economia argentina.

Cartão de crédito e dólar blue

Diante da forte instabilidade, o uso do cartão de crédito pode ser bastante arriscado para quem quer economizar na viagem. Por ser um meio oficial, o câmbio é feito pelo dólar oficial, o que pode representar um prejuízo dependendo da cotação em relação ao paralelo. Assim, qualquer compra no cartão também está sujeita à cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6,38%.

Os turistas também podem enfrentar dificuldades na hora das compras, pois muitos estabelecimentos comerciais não aceitam cartão de crédito, preferindo pagamentos em dinheiro em espécie. Por isso, muitos estrangeiros têm andados pelas ruas do país com bolo de notas. Por exemplo: quem troca R$ 1 pode usar até 120 notas de mil pesos no país.

Contudo, para atrair mais dólares para o turismo, o governo argentino permitiu que a Mastercard e Visa ofereçam aos viajantes uma taxa de câmbio que quase dobra seu poder de compra.

As autoridades monetárias também autorizaram as administradoras a usarem taxas de câmbio semelhantes às oferecidas no mercado paralelo, atualmente cerca do dobro da taxa oficial, para compras feitas com cartões de crédito e débito emitidos no exterior. Com essa iniciativa, lançada em novembro de 2022, as transações da Mastercard na Argentina aumentaram 25% no início daquele mês, segundo o Banco Central.

Como trocar dinheiro na Argentina

Uma das maneiras mais seguras de sacar dinheiro é por companhias como a Western Union, com transações legalizadas. É possível efetuar transferências de reais pelo app ou site da companhia (por Pix, por exemplo) e sacar em pesos em uma loja na Argentina. Apesar das taxas, a cotação costuma ser melhor do que em casas de câmbio paralelas. Também existem alternativas, como Wise e Remessa Online, com diferentes taxas.

Os turistas podem recorrer às agências do Banco de la Nación Argentin a e trocar dólares por pesos em espécie pela cotação MEP, contanto que o cliente comprove que é turista estrangeiro.

De qualquer modo, levar real pode ser vantajoso para os brasileiros, pois realizar muitas conversões pode significar a perda de altas quantias. Em cidades bastante procuradas pelo estrangeiros, como Buenos Aires e Bariloche, a troca de moeda pode ser feita facilmente em qualquer casa de câmbio. Mas, em cidades menores e menos movimentadas, o dólar é a melhor opção.

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