Uruguai teve ano marcado por legalização da maconha
A venda de maconha recreativa em farmácias colocou o Uruguai na vanguarda mundial por um novo modelo de luta contra o tráfico de drogas
EFE
Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 22h56.
Última atualização em 28 de dezembro de 2017 às 22h58.
Montevidéu, 28 dez (EFE).- A venda de maconha recreativa em farmácias colocou o Uruguai na vanguarda mundial por um novo modelo de luta contra o tráfico de drogas em um ano conturbado na política local e no qual o governo deu mais um passo para que o país tenha uma segunda planta de celulose da empresa finlandesa UPM.
Em 19 de julho, o Uruguai concluiu a implementação da lei aprovada em 2013 no governo do ex-presidente José Mujica, que esteve no poder de 2010 a 2015 e que determinava a produção e a distribuição de maconha estatal no país como uma alternativa para lutar contra o tráfico.
Com a habilitação da compra e venda de cannabis para uso recreativo em 16 farmácias uruguaias, o governo fechou um processo marcado pelas demoras e, após a concretização do regulamento do cultivo próprio e da criação de clubes, garantiu a terceira via de acesso. Com esse último passo, realizado mediante a venda de embalagens de cinco gramas a um custo aproximado de US$ 1,30 por grama nas farmácias, o país se tornou o primeiro a aplicar um controle estatal da produção e do comércio de cannabis em nível global.
As primeiras vendas motivaram a chegada de meios de comunicação de todo o mundo ao país para registar os consumidores inscritos no Instituto de Regulamento e Controle do Cannabis (Ircca) obtendo as primeiras embalagens.
O processo enfrentou sérios obstáculos quando vários bancos privados internacionais advertiram que o dinheiro obtido legalmente pelas farmácias uruguaias era vinculado a uma atividade que é ilícita nos seus países de origem. Isso fez com que as entidades bancárias anunciassem o fechamento das contas bancárias das farmácias associadas à venda ou produção de cannabis, e que vários desses estabelecimentos resolvessem abandonar a comercialização da erva.
Em setembro, o governo anunciou que habilitará novos estabelecimentos, diferente de farmácias e que vão operar em dinheiro, para manter em funcionamento a venda de maconha recreativa para os usuários registrados, embora ainda se desconheça quando estarão disponíveis. Segundo dados do Ircca atualizados em 10 de dezembro, 17.536 pessoas estão inscritas para comprar maconha recreativa nas 12 farmácias restantes, que ficam na capital e nos departamentos de Canelones, Flores, Lavalleja, Maldonado, Paysandú, Salto e Tacuarembó.
Ao todo, já são 7.700 cultivadores no país e 71 clubes registrados no Ircca, números que indicam uma boa recepção do processo de parte da sociedade uruguaia, ao que se soma o fato de que não foram registrados grandes incidentes.
O ano de 2017 também foi um ano de sombras para a política uruguaia. A coalizão de esquerda que governa o país, a Frente Ampla (FA), precisou superar uma grande questão interna depois de a revelação que o ex vice-presidente Raúl Fernando Sendic fez um procedimento inaceitável na utilização do dinheiro público.
O filho de Raúl Sendic, que fundou partido Tupamaros, foi vice-presidente da Ancap entre 2005 e 2009 e presidente entre 2009 e 2013, se viu envolvido numa polêmica depois que a revista uruguaia "Búsqueda" publicou as despesas que ele fez com o cartão corporativo da empresa. Os valores, que incluíam compras em lojas de roupa, de joias e de eletrônicos, fizeram com que que Raúl Fernando fosse submetido a uma análise do Tribunal de Conduta Política da FA, que reprovou a sua forma de agir e abriu um intenso debate na política interna.
Isto derivou na apresentação da renúncia "indeclinável" do político, que se demitiu em 9 de setembro no Plenário Nacional, o maior órgão da direção da FA. Como consequência, a senadora Lucía Topolansky, integrante do Movimento de Participação Popular (MPP), liderado pelo seu marido, Mujica, foi designada.
O escândalo, qualificado de "crise política" pela oposição, foi minimizado pelo presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, que afirmou que a renúncia não afetaria o funcionamento do governo.
O golpe que significou para a FA a renúncia de Raúl Fernando foi amortecido pela conquista alcançada pelo governo em 7 de novembro, quando o Uruguai fechou o primeiro período de negociações para a instalação de uma segunda planta de celulose da empresa finlandesa UPM no país. Depois de 17 meses de negociações, o governo finalizou o primeiro período de acordos para a possível instalação de uma segunda fábrica, o que significaria o maior investimento privado da história do país, com US$ 4 bilhões.
Agora, virá a segunda etapa que, se for concluída, será fundamental na concretização das obras ferroviárias necessárias para a sua instalação. Caso o investimento se materialize, o Uruguai incrementaria o seu PIB em mais de 2% e aumentaria as exportações em mais ou menos US$ 1 milhão por ano. EFE