Uma aldeia da Colômbia decide viver em paz, custe o que custar
Pequena comunidade se recusa a participar da disputa entre FARC e paramilitares e tenta continuar a vida sem ligar para o confronto
Da Redação
Publicado em 19 de outubro de 2011 às 17h30.
San Jose da Apartado, Colômbia - Cavalos passam entre barracos de madeira e árvores em flor, e perto dali um bebê brinca quase nu. A cena idílica é observada na entrada do lugarejo de San Josecito de Apartado, na Colômbia que, no entanto, pagou caro por ter optado pela neutralidade no conflito que ainda abala o país.
San Josecito de Apartado - designado para o prêmio Sakharov do Parlamento europeu para a "liberdade de espírito", que será entregue no dia 27 de outubro - é parecido com muitos outros vilarejos colombianos: aninhado num vale, na selva quente e úmida, na região bananeira de Uraba (cerca de 800 km a noroeste de Bogotá) o povoado fica praticamente inacessível com as chuvas.
Vive-se da terra, sendo abatido de vez em quando um porco.
Na entrada, um cartaz distingue San Josecito dos outros vilarejos próximos. Lê-se: "Comunidade de paz".
Aqui, "não participamos da guerra direta, nem indiretamente"; "não usamos armas"; "não damos nenhuma informação sobre os lados" em conflito, previne o painel.
"Em 1996 começaram as primeiras matanças cometidas por milícias paramilitares", explica Arley Tuberquia, 20 anos, porta-voz da comunidade.
Essas milícias, criadas oficialmente para combater a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), expulsavam a população. Os que não queriam deixar suas terras eram assassinados.
Cerca de 173.000 homicídios praticados por essas milícias já foram confessados, segundo o Ministério Público, relacionados a um período que começou nos anos 1980-90 e parando em 2005.
Em San José, "os militares nos diziam: 'depois de nós, chegam os corta-cabeças', os 'paras', paramilitares, com frequência aliados do exército regular, lembra-se o jovem evocando a primeira matança de seis moradores, cometida no dia 18 de fevereiro de 1997. As vítimas tiveram os "corpos desmembrados, com serras elétricas".
Arley, na época com quatro anos de idade, e sua mãe não tinham nenhum lugar para ir. No dia 23 de março de 1997, um grupo de famílias - 500 pessoas - decidiu, então, criar "uma zona humanitária", que, mais tarde, seria transformada nesta "comunidade de paz".
Quatorze anos depois, 1.300 pessoas vivem ainda em San Josecito a alguns quilômetros de San José, em suas próprias terras.
A comunidade, dirigida por um conselho de oito membros eleitos, trabalha coletivamente a terra. Os rendimentos tirados da agricultura ou de doações internacionais são partilhados. Diariamente ao meio-dia, Liliana Flores Ramos, cozinheira da "cantina comunitária", serve 40 refeições gratuitas a 28 escolares e a onze anciãos do local.
Uma vida solidária ensombrecida pela paranoia na qual vivem hoje os moradores desta região, onde ainda estão em confronto as Farc e bandos compostos de ex-paramilitares desmobilizados entre 2003 e 2006.
Segundo eles, desde 1997, 210 membros da comunidade foram assassinados pelas partes - exército, paramilitares ou guerrilha - que se recusavam a crer em sua neutralidade, acusando-os de cumplicidade com um ou outro lado.
A escolha de San Josecito para o prêmio do Parlamento europeu, que anunciará na quinta-feira da próxima semana os três finalistas, foi contestada pela organização "UnoAmérica", de luta contra a extrema-esquerda na América Latina e que acusa seus moradores, em carta aberta ao Parlamento, de serem aliados da guerrilha.
O parlamentar Ivan Cepeda, do Polo Democrático Alternativo (esquerda), defensor desta comunidade, nega: San Jose "não pode ser acusada de aliar-se à guerrilha, uma vez que muitos de seus membros foram mortos por ela", comenta.
No dia 22 de março de 2011, um membro da comunidade, Bernardo Rios, de 27 anos, foi assassinado por balas não longe de lá.
Neste clima, a cozinheira Liliana, 34 anos, não esconde o medo. Seus cinco filhos, diz ela, não têm o direito de deixar a propriedade, mesmo o mais velho, de 16 anos.
Os moradores de San Josecito são ainda hoje acompanhados por "observadores internacionais", entre eles os voluntários das Brigadas de paz internacionais e uma ONG católica italiana, em seus deslocamentos fora da comunidade.
San Jose da Apartado, Colômbia - Cavalos passam entre barracos de madeira e árvores em flor, e perto dali um bebê brinca quase nu. A cena idílica é observada na entrada do lugarejo de San Josecito de Apartado, na Colômbia que, no entanto, pagou caro por ter optado pela neutralidade no conflito que ainda abala o país.
San Josecito de Apartado - designado para o prêmio Sakharov do Parlamento europeu para a "liberdade de espírito", que será entregue no dia 27 de outubro - é parecido com muitos outros vilarejos colombianos: aninhado num vale, na selva quente e úmida, na região bananeira de Uraba (cerca de 800 km a noroeste de Bogotá) o povoado fica praticamente inacessível com as chuvas.
Vive-se da terra, sendo abatido de vez em quando um porco.
Na entrada, um cartaz distingue San Josecito dos outros vilarejos próximos. Lê-se: "Comunidade de paz".
Aqui, "não participamos da guerra direta, nem indiretamente"; "não usamos armas"; "não damos nenhuma informação sobre os lados" em conflito, previne o painel.
"Em 1996 começaram as primeiras matanças cometidas por milícias paramilitares", explica Arley Tuberquia, 20 anos, porta-voz da comunidade.
Essas milícias, criadas oficialmente para combater a guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), expulsavam a população. Os que não queriam deixar suas terras eram assassinados.
Cerca de 173.000 homicídios praticados por essas milícias já foram confessados, segundo o Ministério Público, relacionados a um período que começou nos anos 1980-90 e parando em 2005.
Em San José, "os militares nos diziam: 'depois de nós, chegam os corta-cabeças', os 'paras', paramilitares, com frequência aliados do exército regular, lembra-se o jovem evocando a primeira matança de seis moradores, cometida no dia 18 de fevereiro de 1997. As vítimas tiveram os "corpos desmembrados, com serras elétricas".
Arley, na época com quatro anos de idade, e sua mãe não tinham nenhum lugar para ir. No dia 23 de março de 1997, um grupo de famílias - 500 pessoas - decidiu, então, criar "uma zona humanitária", que, mais tarde, seria transformada nesta "comunidade de paz".
Quatorze anos depois, 1.300 pessoas vivem ainda em San Josecito a alguns quilômetros de San José, em suas próprias terras.
A comunidade, dirigida por um conselho de oito membros eleitos, trabalha coletivamente a terra. Os rendimentos tirados da agricultura ou de doações internacionais são partilhados. Diariamente ao meio-dia, Liliana Flores Ramos, cozinheira da "cantina comunitária", serve 40 refeições gratuitas a 28 escolares e a onze anciãos do local.
Uma vida solidária ensombrecida pela paranoia na qual vivem hoje os moradores desta região, onde ainda estão em confronto as Farc e bandos compostos de ex-paramilitares desmobilizados entre 2003 e 2006.
Segundo eles, desde 1997, 210 membros da comunidade foram assassinados pelas partes - exército, paramilitares ou guerrilha - que se recusavam a crer em sua neutralidade, acusando-os de cumplicidade com um ou outro lado.
A escolha de San Josecito para o prêmio do Parlamento europeu, que anunciará na quinta-feira da próxima semana os três finalistas, foi contestada pela organização "UnoAmérica", de luta contra a extrema-esquerda na América Latina e que acusa seus moradores, em carta aberta ao Parlamento, de serem aliados da guerrilha.
O parlamentar Ivan Cepeda, do Polo Democrático Alternativo (esquerda), defensor desta comunidade, nega: San Jose "não pode ser acusada de aliar-se à guerrilha, uma vez que muitos de seus membros foram mortos por ela", comenta.
No dia 22 de março de 2011, um membro da comunidade, Bernardo Rios, de 27 anos, foi assassinado por balas não longe de lá.
Neste clima, a cozinheira Liliana, 34 anos, não esconde o medo. Seus cinco filhos, diz ela, não têm o direito de deixar a propriedade, mesmo o mais velho, de 16 anos.
Os moradores de San Josecito são ainda hoje acompanhados por "observadores internacionais", entre eles os voluntários das Brigadas de paz internacionais e uma ONG católica italiana, em seus deslocamentos fora da comunidade.