Soldados prendem manifestante em Moscou, na Rússia: mais de mil já foram presos até agora (Shamil Zhumatov/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de julho de 2019 às 11h37.
A polícia russa prendeu 1.373 pessoas que participavam, no sábado, de uma manifestação em Moscou por eleições livres - informa a ONG OVD-Info, especializada no monitoramento de protestos, em informe divulgado neste domingo (28).
De acordo com a ONG, trata-se do maior número de detenções já registrado desde o movimento de protesto que se seguiu, em 2012, ao retorno de Vladimir Putin ao Kremlin.
Segundo números da polícia de Moscou, cerca de 3.500 pessoas, incluindo 700 jornalistas e blogueiros, acompanharam o ato no sábado. Ontem, a polícia havia informado que 1.074 pessoas foram detidas por "infrações diversas".
A oposição denuncia a exclusão de candidaturas independentes para as eleições locais de 8 de setembro, que se anunciam complicadas para os candidatos que apoiam a situação, em um contexto de forte insatisfação social.
O protesto de sábado, diante da prefeitura de Moscou, aconteceu após uma concentração que reuniu 22.000 pessoas no último domingo - algo que também não se via desde 2012.
Várias das prisões feitas ontem se deram de forma violenta, com muitos manifestantes feridos na cabeça, segundo jornalistas da AFP.
A embaixada dos Estados Unidos na Rússia denunciou o uso "desproporcional da força policial".
"A violência e as detenções minam o direito dos cidadãos a participarem do processo democrático", tuitou a porta-voz da embaixada, Andrea Kalan.
Em nota divulgada mais cedo neste domingo, a União Europeia (UE) também criticou a onda de detenções.
"Estas detenções e o uso desproporcional da força contra os manifestantes pacíficos (...) atentam, mais uma vez, gravemente, contra as liberdades fundamentais de expressão, de associação e de reunião", disse Maja Kocijancic, porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.
"Estes direitos fundamentais estão inscritos na Constituição russa, e esperamos que sejam protegidos", reforçou a porta-voz, citada no comunicado.
A poucos meses das eleições russas, a UE insistiu em que "se criem condições iguais" para todas as forças políticas.
"Esperamos das autoridades da Federação Russa que respeitem seus compromissos com a OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e as demais obrigações internacionais, quando organizarem as próximas eleições locais", completou a nota.
Ontem à noite, a ONG Anistia Internacional denunciou o "uso excessivo da força" por parte da polícia e pediu a "libertação imediata de manifestantes pacíficos".
Pela manhã, antes do ato, vários opositores ao governo já haviam sido presos, e suas residências e locais de trabalho, revistados.
O opositor Ilia Iashin anunciou uma "nova grande manifestação", em 3 de agosto, em Moscou.
Na última quarta-feira, o principal opositor ao Kremlin, Alexei Navalni, foi condenado a 30 dias de prisão por violação das "regras das manifestações".
Neste domingo, Navalni foi hospitalizado, devido a uma "grave reação alérgica", informou sua porta-voz, acrescentando que ele nunca teve nenhum tipo de alergia antes.
Estas ações judiciais se deram após a abertura de uma investigação por "obstaculização do trabalho da Comissão Eleitoral" de Moscou, durante manifestações em meados de julho.