A view of a spent nuclear fuel storage grounds at the Russian-controlled Zaporizhzhia nuclear power plant in southern Ukraine on March 29, 2023. (Photo by Andrey BORODULIN / AFP) (Photo by ANDREY BORODULIN/AFP via Getty Images) (ANDREY BORODULIN/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 7 de julho de 2023 às 07h44.
A cidade ucraniana de Zaporizhzhia vive sob o medo de um desastre nuclear provocado pela Rússia em sua usina, ocupada pelas tropas de Moscou. Em meio à ameaça, a população se prepara para uma possível catástrofe.
"Estamos vivendo há um ano e meio esperando o pior", disse Yevgeniya Chuksina, uma mulher de 43 anos. "A guerra nos ensinou que os russos são capazes de qualquer coisa. No entanto, pensamos que a comunidade internacional estará vigilante, que fará pressão de todas as formas possíveis para que o pior não aconteça".
O grande medo gira em torno da maior usina nuclear da Europa, conhecida como Zaporizhzhia, mas que está localizada na cidade vizinha de Enerhodar, cerca de 50 quilômetros ao sudoeste.
A central, ocupada pelas tropas russas desde 4 de março de 2022, foi alvo de ataques várias vezes. Além disso, foi desconectada da rede elétrica, o que cria uma situação precária para os habitantes e aumenta o temor de um incidente nuclear grave.
Há semanas circulam relatos do agravamento da situação em Zaporizhzhya, que nos últimos meses viu em seus arredores uma série de batalhas, disparos de foguetes e artilharias — algumas delas caindo inclusive perto da central nuclear.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Rússia pode ter planos de explodir partes do complexo nuclear. O exército ucraniano alertou na terça-feira para uma "possível provocação" dos russos na região da usina, e a Rússia mencionou o risco de um "ato subversivo" de Kiev com "consequências catastróficas".
Danilo, um jovem empreendedor de 27 anos, afirmou que está acompanhando a situação de forma "permanente". "Fizemos alguns preparativos. Compramos roupas de proteção, respiradores, capas para os sapatos, por via das dúvidas", contou.
As autoridades locais organizaram no final de junho uma simulação de evacuação com 138 mil pessoas, que vivem num raio de 50 quilômetros ao redor da usina nuclear — um risco que lembra o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, na época da União Soviética.
Essa evacuação é "o pior cenário", disse à AFP Olena Zhuk, presidente do conselho regional de Zaporizhzhia, explicando que as possíveis consequências podem ser "locais, muito locais e não locais". A funcionária acredita que, se houver um incidente, ele pode ser do tipo local.
Os russos "não precisam fazer algo espetacular. Podem tirar fotos da usina nuclear em chamas (...) para justificar sua retirada" da área, caso as tropas de Kiev avancem em sua contraofensiva.
Irina e seu marido já têm tudo preparado em caso de um desastre nuclear. "Temos água em casa. Estoques de comida. Temos uma mala de emergência há um ano e meio", contou a corretora imobiliária de 52 anos. "Estamos avisados, fomos informados. Se acontecer, vamos fechar todas as janelas e portas, e selá-las com fita", explicou.
O serviço de emergência tem postos itinerantes em diferentes pontos da cidade para informar sobre o perigo das minas e as instruções em caso de um incidente nuclear.
A autoridade local aconselhou os moradores a terem uma reserva de vinho. "É oficial que o antioxidante presente no vinho tinto pode proteger contra a radiação", afirmou Zhuk. "Pode ser útil", assegurou.
Liubov, uma mulher de 69 anos que fugiu de Enerhodar em setembro, não acredita que haja risco de ação dos russos contra a usina nuclear. "Só estão nos amedrontando", avaliou.
O Exército ucraniano informou, nesta quinta-feira, que as tensões estão "diminuindo" em torno da usina graças ao trabalho das tropas e dos diplomatas ucranianos, bem como dos aliados da Ucrânia, que estão pressionando a Rússia.
A usina nuclear de Zaporizhzhya, com seis reatores, é o maior complexo nuclear da Europa e um dos dez maiores do mundo. Ela foi construída pela União Soviética perto da cidade de Enerhodar, às margens da barragem de Kakhovka, responsável por alimentar o lago que resfria seus seis reatores — ao todo, há 15 em toda a Ucrânia.
Segundo a estatal energética ucraniana, Energoaton, o nível de água no lago permanece estável, apesar de a reserva ter se esvaziado.