Ucrânia relança ofensiva, enquanto Rússia acusa Ocidente
Governo de Kiev retomou operação militar contra rebeldes no leste do país, provocando reação do presidente russo, Vladimir Putin
Da Redação
Publicado em 1 de julho de 2014 às 14h37.
Kramatorsk - O governo de Kiev retomou nesta terça-feira sua operação militar contra os rebeldes separatistas no leste do país, provocando uma reação exacerbada do presidente russo, Vladimir Putin , que vê na crise ucraniana uma intenção ocidental de atacar a Rússia .
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, afirmou nesta terça-feira que soldados e guardas de fronteira haviam retomado o posto de Dovjanskiï, ocupado pelos separatistas pró-russos na região de Lugansk (leste da Ucrânia).
Em um comunicado, a Presidência anunciou a "primeira vitória" do Exército ucraniano depois da retomada da "operação antiterrorista" contra os rebeldes na madrugada desta terça-feira.
Poroshenko afirmou que suas forças "passarão ao ataque" depois de ter rejeitado a prorrogação do cessar-fogo, apesar das pressões russas e europeias.
O controle da fronteira é um dos objetivos de Kiev, que quer impedir a entrada de homens e equipamentos vindos da Rússia nas zonas rebeldes.
Uma "ofensiva da artilharia e da aviação" teve início no leste da Ucrânia, região habitada por cerca de 7 milhões de pessoas, anunciou o ministro da Defesa, Oleksiï Dmytrachkivskiï.
Para Putin, toda a responsabilidade pelas operações militares no leste da Ucrânia recai agora sobre o presidente Petro Poroshenko.
"Até agora, Piotr Alexeevich (Poroshenko) não tinha vínculo direto com o início das operações militares. A partir de agora, assume completamente esta responsabilidade. Não só do ponto de vista militar, como também político", declarou Putin em seu discurso anual sobre política externa.
Putin também pediu aos países ocidentais que construam uma cooperação com a Rússia "em pé de igualdade" e baseada no respeito mútuo, depois de defender os interesses geopolíticos de Moscou, alegando que, caso contrário, as forças da Otan teriam se instalado rapidamente na Crimeia, a península ucraniana anexada por Moscou em março.
No mesmo sentido, o Ministério russo das Relações Exteriores declarou que os ocidentais devem "parar de utilizar a Ucrânia como moeda de troca nos jogos geopolíticos".
Disparos de morteiros
De acordo com testemunhas citadas por sites locais de Donetsk e pelo jornal ucraniano on-line Pravda.com.ua, combates estão sendo travados 30 km a sudoeste de Donetsk, nos arredores da cidade de Mariinka. Uma testemunha indicou que tanques do Exército ucraniano participam dos confrontos.
Em outras partes, no entanto, a situação parece relativamente a mesma em relação aos últimos dias do cessar-fogo, marcados por muitas trocas de tiros.
O incidente mais grave desde o fim do cessar-fogo até então foi registrado nesta terça-feira, em Kramatorsk, na região de Donetsk, onde tiros de origem desconhecida deixaram quatro mortos em um ônibus, informou o governo regional, leal a Kiev, citado pela agência Interfax Ucrânia.
Em uma rua arborizada de Kramatorsk, cerca de 80 km ao norte de Donetsk, jornalistas da AFP viram pessoas tapando as crateras criadas por morteiros que, segundo elas, mataram cinco pessoas.
"As pessoas estavam indo ao mercado quando o tiroteio começou", explicou Valentina Balabaï, enquanto seu marido pregava placas de madeira sobre as janelas quebradas de sua casa. "Havia dois corpos aqui, mais dois à frente, e um quinto, do outro lado da rua".
Em Donetsk, um correspondente da AFP constatou tiroteios no final desta manhã nos arredores da sede da polícia regional. Moradores afirmaram que os tiros haviam sido disparados por grupos de rebeldes bem armados.
De acordo com o Ministério do Interior da Ucrânia, sete policiais ficaram feridos.
Além disso, em razão das operações militares, o tráfego de ônibus e carros foi interrompido em uma parte da região que os rebeldes rebatizaram de "República Popular de Donetsk".
O não prolongamento do cessar-fogo, anunciado pelo presidente Poroshenko em um discurso transmitido à nação pela TV, marcou o fracasso dos esforços de Moscou e dos europeus representados por Berlim e Paris, que tentavam ampliá-lo na .
Após seu discurso, Poroshenko ligou para a chanceler alemã, Angela Merkel, para o presidente francês, François Hollande, e para o secretário de Estado americano, John Kerry, para informá-los de sua decisão.
Seu ministro das Relações Exteriores, Pavlo Klimkin, passou boa parte da noite telefonando para seus colegas europeus para explicar a situação.
Em seu discurso televisionado da noite passada, Petro Poroshenko culpou os rebeldes por terem recusado o plano de paz proposto recentemente por seu governo.
Ele não mencionou a Rússia, considerada por Kiev e o Ocidente como sendo a grande responsável pela agitação separatista.