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Trump “showman” ou Trump moderado: quem governará os EUA?

As incertezas trazidas pela vitória do republicano deixaram o mundo em alerta. Analistas esperam mudanças na forma como os EUA se relacionam com o mundo

Donald Trump: novo presidente dos Estados Unidos deixa o mundo em um mar de incertezas, avaliam analistas (Win McNamee/Getty Images)

Gabriela Ruic

Publicado em 11 de novembro de 2016 às 07h00.

Última atualização em 11 de novembro de 2016 às 11h32.

São Paulo – Depois de se consolidar como o presidente dos Estados Unidos, o empresário Donald Trump se encontrou com o atual líder do país, Barack Obama, para acertar os rumos da transição de poder. O republicano assumirá o cargo no dia 20 de janeiro de 2017.

Agora, o mundo observa com atenção aos desdobramentos dessa vitória nas eleições e começa a se perguntar como será a presidência do empresário. Segundo analistas de política internacional, esse cenário é ainda uma incógnita e um fator especialmente nebuloso é se o Trump candidato terá uma presença mais forte no Trump presidente.

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E isso é essencial para prever os rumos que o país tomará daqui em diante.

“Uma coisa é fazer campanha e outra é governar”, pontua Marcio Coimbra, coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec e diretor do Comitê de Política Acadêmica do Institute of World Politics (EUA), “na presidência, ele vai ter que ter uma presença mais moderada, pois sabe que as coisas são diferentes”.

Relação com o Congresso

“Para todas as iniciativas que sugeriu durante campanha, Trump precisará da aquiescência do Congresso para executá-las, assim como terá de confirmar todos os secretários que indicar”, explica Coimbra. Com um Congresso de maioria republicana, Trump terá de manobrar com cautela para não se chocar com os interesses do seu partido.

Terá também de se acertar com o establishment republicano que muito o rechaçou durante sua campanha. “Se ele governar com uma agenda que se choque com o partido, o Congresso irá deixa-lo de joelhos”, prevê Coimbra.

Essa maioria, no entanto, é frágil e pode mudar em breve, visto que as eleições legislativas nos EUA são feitas de dois em dois anos. “Se ele pisar na bola, a população tem a chance de tirar esse poder de suas mãos ao propor uma renovação no Congresso nas próximas eleições”. Ou seja, ele tem pouco tempo se conciliar com o partido, realizar o que propôs e agradar o seu eleitorado.

Sérgio Gil, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, crê que o desafio de conciliar a retórica da campanha e as expectativas do eleitorado será um dos maiores desafios de Trump.

“Por mais que se venda a ideia de que o presidente dos Estados Unidos é o mais poderoso do mundo e por mais que ele tenha a maioria no Congresso, a vida dele não será fácil”, pontua. “Dificilmente as coisas serão como ele vende. Ele é um marqueteiro, um homem midiático”, explica. “Causa surpresa e causa temores, sem dúvidas”, conclui.

Relação com o mundo

Se o comportamento de Trump como presidente é imprevisível quanto ao contexto interno do país, na comunidade internacional, o clima também é de dúvidas. Durante a campanha, o empresário chegou a anunciar seu plano de política externa, sinalizando a adoção de uma postura isolacionista, na contramão se observa hoje no mundo.

“Sua eleição tem um impacto enorme na esfera internacional e abre espaço para incertezas dos compromissos assumidos pelos EUA”, explica Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV/CPDOC. “É um ponto de interrogação nos rumos do planeta”, continua.

Segundo o grupo Europe Vote Watch, consultoria de análises políticas baseada na Europa, os próximos anos de atuação dos EUA no mundo serão de retração. A entidade segue a linha dos analistas no sentido de lembrar que ainda é cedo para tecer comentários profundos, no entanto, prevê um giro do país em direção ao isolamento.

Além disso, avalia que a ascensão do empresário ao poder poderá causar uma onda de populismo do outro lado do oceano, na Europa . “Esperamos o ressurgimento dos populistas na Europa no curto prazo. Será fácil para eles usar os americanos como exemplo e promover as visões de Trump como dominantes”, avalia.

Terrorismo

Quando o tema é terrorismo , Lucas Leite, professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco, enxerga a possibilidade de uma postura isolacionista como “um absurdo” e uma ideia antiquada “de um século atrás”.

Trump criticou a atuação dos EUA como um construtor nacional, isto é, como um ator que age na reconstrução interna de um país, como o que vem sendo feito no Iraque e na Síria. “Mas isso é diferente de não intervir e não assumir o protagonismo”, pontua.

No que diz respeito ao combate contra o grupo extremista Estado Islâmico ( EI ), por exemplo, o professor enxerga essa estratégia isolacionista com maus olhos. “Um discurso de guerra fria no qual separamos o ‘eu’ do ‘outro’ não faz sentido quando falamos de uma organização transnacional como o EI”.

Economia

Na visão de Spektor, os maiores perigos vistos na eleição do empresário centram-se menos no temperamento intempestivo mostrado durante a corrida eleitoral e mais na compreensão equivocada que Trump teria revelado acerca de temas e processos internacionais, especialmente sobre a economia.

Um dos pontos, explica, é sobre uma possível tentativa de fechar a economia americana, como alardeado pelo republicano em campanha. “Se tentar fechar a economia, mantendo o déficit nas alturas como está, o resultado será uma espiral inflacionária que machucará a sua base eleitoral”, esclarece. “E, no processo, os EUA arrastarão todo mundo junto”, alerta.

Para Gil, há dezenas de perguntas em aberto: “Ele irá romper os acordos internacionais? Como tratará os migrantes? Vai deportar milhões de pessoas? Como irá compor o modelo estratégico do Departamento de Estado? E a CIA?”

Os questionamentos, por enquanto, permanecem sem respostas, mas ele deixa o alerta: “O mundo precisará manter os olhos abertos e observar para onde tudo isso nos levará”, conclui.

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