Trump confirma que irá declarar "emergência nacional" para construir muro
A medida extraordinária, que permite ao presidente dos Estados Unidos mobilizar fundos sem passar pelo Congresso, irrita muitos congressistas
AFP
Publicado em 15 de fevereiro de 2019 às 06h45.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2019 às 07h50.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , optou nesta quinta-feira por uma medida contundente para financiar o muro que prometeu levantar na fronteira com o México: decretar em breve uma "emergência nacional", uma medida excepcional que ameaça provocar uma feroz batalha política e judicial.
Após horas de suspense, o presidente republicano prometeu promulgar um acordo orçamentário, negociado por parlamentares republicanos e democratas esta semana, para evitar uma paralisação parcial do governo federal.
Esse texto foi aprovado por uma ampla maioria no Senado, controlado pelos republicanos. Na Câmara de Representantes, o projeto recebeu 300 votos a favor e 128 contra.
A lei agora deverá ser promulgada por Trump.
O texto aprovado prevê menos de um quarto dos fundos pedidos por Trump para a construção do muro. Destina cerca de 1,4 bilhão de dólares para essa obra, quando o presidente havia pedido 5,7 bilhões e, além disso, a lei não menciona a palavra "muro", optando por "barreira".
Mas Trump não se conforma com os fundos previstos por esse acordo e "agirá também mediante decretos - incluindo a emergência nacional - para pôr fim à crise de segurança nacional e humanitária na fronteira", indicou a porta-voz do governo americano, Sarah Sanders.
"Uma vez mais, o presidente cumpre sua promessa de construir o muro, de proteger a fronteira e garantir a segurança do nosso grande país", disse.
O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, anunciou que apoiava a decisão do presidente em relação à "emergência nacional".
Mas essa medida extraordinária, que permite ao presidente dos Estados Unidos mobilizar fundos sem passar pelo Congresso, irrita muitos congressistas, inclusive republicanos.
"Declarar a emergência nacional seria um ato sem base jurídica, um grave abuso de poder da presidência e uma tentativa desesperada de desviar a atenção do fato de que o presidente não cumpriu sua promessa fundamental de que o México pagaria pelo muro", escreveram os líderes democratas da Câmara e do Senado, Nancy Pelosi e Chuck Schumer.
"Não há emergência na fronteira" com o México, havia dito pouco antes Pelosi, a presidente da Câmara. "Vamos estudar nossas opções e estaremos prontos para responder de forma apropriada", acrescentou, sem descartar a via judicial.
Uma lei aprovada em 1976, a "National Emergencies Act", autoriza o presidente dos Estados Unidos a declarar uma "emergência nacional" para conceder a si próprio poderes extraordinários. Ao recorrer a esse texto, Trump poderia financiar o muro sem a autorização do Congresso e recorrer ao exército para construí-lo.
Todos os presidentes americanos aproveitaram esse poder, embora em circunstâncias distintas. George W. Bush o fez após os atentados de 11 de setembro de 2011, e Barack Obama recorreu a essa lei durante a epidemia de gripe H1N1 em 2009.
Evitar um novo "shutdown"
O acordo aprovado nesta quinta-feira inclui 1,375 bilhão de dólares para construir uma nova "barreira física" em um trecho de 88 km na fronteira entre o México e os Estados Unidos, menos de um quarto dos 5,7 bilhões que Trump exige para construir um muro entre os dois países.
Alguns comentaristas e congressistas ultraconservadores que o presidente escuta haviam criticado duramente o texto antes de sua passagem pelo Congresso, e o próprio Trump tinha se mostrado insatisfeito com seu conteúdo.
Washington tem até a meia-noite de sexta-feira para evitar um novo bloqueio orçamentário, que deixaria sem fundos 25% das administrações federais.
A vontade de Trump de construir o muro na fronteira com o México e a rejeição de seu plano por parte dos republicanos provocaram recentemente o maior "shutdown" na história dos Estados Unidos. Durante 35 dias, cerca de 800.000 funcionários federais deixaram de receber seu salário por esse bloqueio orçamentário.
O mandatário acabou cedendo ante os democratas e renunciou temporariamente ao muro para acabar com a paralisação parcial do governo. Mas nesta quinta-feira demonstrou que não havia esquecido uma das grandes promessas da campanha eleitoral de 2016.