Theresa May ordena investigação pública sobre incêndio em Londres
As causas do incêndio são desconhecidas, mas os moradores já criticavam a má gestão da empresa que administrava o prédio
AFP
Publicado em 15 de junho de 2017 às 15h58.
A primeira-ministra britânica Theresa May anunciou nesta quinta-feira a abertura de uma investigação pública sobre o incêndio em um conjunto habitacional de Londres , que deixou 17 mortos, entre indícios de negligências.
"A completa investigação pública", que também examinará a ação das autoridades, servirá para assegurar que "esta terrível tragédia é investigada apropriadamente", afirmou May à televisão. "Devemos isso às famílias, às pessoas que perderam seus entes queridos e seus domicílios", afirmou May.
Os bombeiros prosseguiam nesta quinta com a busca de corpos no prédio destruído. O novo balanço subiu para 17 mortos.
"Infelizmente, posso confirmar que o número de mortos é de 17", afirmou o comandante da polícia de Stuart Cundy em declaração à imprensa.
As autoridades acreditam que o balanço de mortos aumentará à medida que os bombeiros avançarem dentro da estrutura calcinada. Trinta e sete pessoas continuam hospitalizadas, 17 delas em estado grave, e já não se espera encontrar sobreviventes.
A comandante dos bombeiros de Londres, Dany Cotton, disse que há partes do prédio que não são seguras e que levará tempo para inspecionar todos os andares.
"Há um número desconhecido de pessoas dentro do prédio, mas seria um milagre que estivesse alguém vivo", explicou à Sky News. "Vai levar semanas até o prédio ser inspecionado adequadamente", acrescentou.
Os corpos das seis vítimas encontradas no lado de fora da torre foram identificados, informou ainda, enquanto que os corpos dos outros 11 falecidos continuam no interior do prédio.
"Há um risco de que não conseguiremos identificar todas as vítimas", ressaltou Cundy.
Prefeito é vaiado
Theresa May visitou o local da tragédia nesta quinta, mas evitou falar com as pessoas. O prefeito Sadiq Khan também se dirigiu ao lugar, e foi vaiado pelos moradores em vários momentos. Também foi constantemente interrompido quando tentava falar com a imprensa.
Khan disse, à margem da investigação, são necessárias medidas para se assegurar que outros conjuntos habitacionais de Londres cumpram com os requisitos anti-incêndios. "Entendo perfeitamente a revolta dos vizinhos", acrescentou.
A rainha Elizabeth II, por sua vez, publicou um comunicado afirmando que suas "orações e pensamentos estão com as famílias que perderam seus entes queridos".
As causas do incêndio, que teve início na noite de terça-feira, são desconhecidas, mas os moradores já criticavam a má gestão da empresa que administrava o prédio.
"Quase 90% dos residentes assinaram no fim de 2015 uma petição que reclamava da má gestão da empresa responsável pela manutenção do edifício", disse David Collins, presidente da associação de moradores da torre até outubro do ano passado.
"Escutei que alguns alarmes de incêndio não funcionaram, não me surpreende. Estou consternado, mortificado, mas não surpreso", completou à AFP. David Collins também apontou a responsabilidade do governo do bairro de Kensington e Chelsea.
De acordo com documentos divulgados na internet, alguns moradores reclamaram em várias ocasiões nos últimos anos do estado do edifício e dos possíveis riscos de incêndio. "Ninguém quis levar em consideração nossas advertências, uma catástrofe como esta era inevitável", publicou em seu blog o Grupo de Ação de Grenfgell após a tragédia.
De acordo com vários moradores, os trabalhos de reforma do ano passado podem ter favorecido a propagação do fogo, extremamente rápida.
O organismo público KCTMO (Kensington & Chelsea Tennant Management Organisation), que administra o prédio, reconheceu em um comunicado "estar ciente das preocupações de longa data dos moradores". "É cedo para especular as causas do incêndio", acrescenta.
Comunidade modesta em bairro rico
Cerca de 800 pessoas, a maioria imigrantes muito humildes, vivia na Torre Grenfell, construída em 1974 em meio a um bairro do rico distrito de Kensington e Chelsea, a pouca distância do bairro boêmio e animado de Notting Hill.
"Apenas uma catástrofe vai expor a incapacidade e a incompetência de nosso proprietário" (KCTMO), postou recentemente o morador Edward Daffarn, no blog do Grupo de Ação da Grenfell.
A vereadora trabalhista Judith Blakeman, que faz parte da junta diretora da KCTMO, disse ao Guardian que apresentou 19 queixas sobre as medidas anti-incêndios do prédio, e que foram ignoradas. "Eles me tratavam como se os aborrecesse. Diziam que a junta considerava as medidas contra incêndios corretas", explicou.
A reforma feita há um ano, que custou 8,7 milhões de libras, incluiu novas janelas e sistema de calefação. A empresa que realizou as obras, Rydon, disse que estas "cumpriram com todas as medidas de controle, regulação de incêndio e normas de segurança".
Os vizinhos receberam a instrução de permanecer em casa e bloquear a fumaça com toalhas, mas os bombeiros não conseguiram chegar até o andar mais alto por causa da violência do fogo.
"As escadas não estavam destinadas a serem usadas como uma saída de emergência por uma multidão", destacou Mark Coles, diretor de regulações técnicas del Instituto da Institution of Engineering and Technology (IET).
"O conselho que os moradores receberam era de, em caso de incêndio, ficar em casa. A velocidade com que o fogo se propagou sugere que houve uma falha grave nas técnicas de design e instalação", acrescentou.
David Collins disse que nunca se prestou atenção às queixas dos moradores. "Se as mesmas preocupações ocorressem na parte rica de Kensington e Chelsea, isso teria sido resolvido", afirmou.
"Esta é uma comunidade multiétnica, multicultural e diversa, que não foi bem atendida pelas pessoas que a representavam", concluiu.