Supremacista que matou 51 na Nova Zelândia é julgado e fica "impassível"
Brenton Tarrant, agressor que transmitiu massacre em mesquita ao vivo no Facebook em 2019, deve ser o primeiro do país a ter prisão perpétua
AFP
Publicado em 24 de agosto de 2020 às 08h11.
Última atualização em 24 de agosto de 2020 às 08h34.
O supremacista branco que matou 51 muçulmanos na Nova Zelândia em 2019, permaneceu impassível nesta segunda-feira, 24, quando os sobreviventes e o promotor descreveram em uma sala de audiência o horror vivenciado na duas mesquitas de Christchurch atacadas.
O processo do australiano Brenton Tarrant, 29 anos, que foi declarado culpado de 51 assassinatos e 40 tentativas de assassinato e de uma acusação de terrorismo, entrou na última fase. O tribunal de Christchurch deve anunciar a condenação na quinta-feira.
O agressor participou por videoconferência nas audiências precedentes, da penitenciária de segurança máxima de Auckland, mas nesta segunda-feira foi levado ao tribunal. Esta foi a primeira vez que encontrou os sobreviventes e os parentes das vítimas desde os ataques, que aconteceram em 15 de março de 2019.
Naquele dia, Abdiaziz Ali Jama, uma refugiada somali de 44 anos, viu quando seu cunhado Muse Awale foi assassinado. "Ainda vejo as imagens e ouço o 'ratatatatata' da arma na minha cabeça", declarou Jama no tribunal.
Vestido com o uniforme de detento, ao lado de três policiais, Brenton Tarrant permaneceu em silêncio e impassível, levantando a cabeça algumas vezes para observar o público.
O promotor Barnaby Hawes fez um relato sombrio dos acontecimentos e afirmou que o réu "queria matar mais pessoas". Hawes explicou como o australiano matou de forma metódica mulheres, crianças e homens, gravando o massacre e transmitindo ao vivo nas redes sociais, e como ignorou os pedidos de clemência de algumas vítimas.
Quando observou um menino de três anos agarrado à perna do pai, Tarrant o executou "com dois tiros disparados com precisão", declarou Hawes.
Vários juristas acreditam que Tarrant será a primeira pessoa na Nova Zelândia a ser condenada à prisão perpétua sem a possibilidade de obter liberdade condicional.
Tarrant, que se declarou culpado, foi detido quando pretendia seguir até Ashburton, a uma hora de distância ao sul de Christchurch, para atacar uma terceira mesquita.
Preparação do ataque
"Ele admitiu à polícia que compareceu às mesquitas com o objetivo de matar o maior número de possível de pessoas", destacou Hawes.
"Durante as audiências... explicou que os ataques foram motivados por convicções ideológicas e que esperava espalhar o medo entre os que chama de 'invasores', sobretudo a população muçulmana e todos os imigrantes não europeus", completou.
Gamal Fouda, imã da mesquita Al Noor de Christchurch, contou que no dia do ataque "viu o ódio nos olhos de um terrorista fanático". "Seu ódio não é necessário", afirmou o australiano.
Tarrant chegou à Nova Zelândia em 2017, afirmou o promotor. Ele morava em Dunedin, 360 km ao sul de Christchurch, onde acumulou um arsenal e comprou mais de 7.000 munições.
Dois meses antes dos ataques, ele viajou a Christchurch para observar os lugares. Usou um drone para filmar as entradas e saídas da mesquita de Al Noor, ao mesmo tempo que fez anotações detalhadas do trajeto até a mesquita de Linwood.
Em 15 de março de 2019, Tarrant dirigiu de Dunedin até Christchurch, equipado com várias armas semiautomáticas nas quais incluiu vários símbolos, além de referências às Cruzadas e a atentados recentes.
Ele estava com os carregadores repletos de munições e garrafas "para incendiar as mesquitas", declarou Hawes. "Ele disse que lamentava não ter feito isso".
Alguns minutos antes dos ataques, o australiano enviou seu "manifesto" de 74 páginas a um site extremista, avisou a sua família sobre o que pretendia fazer e enviou e-mails a várias redações com ameaças contra as mesquitas.
Tarrant optou por fazer a própria defesa, sem um advogado. O juiz Cameron Mander determinou restrições à cobertura da imprensa para evitar que o acusado utilize o processo para propagar suas mensagens de ódio.
O magistrado indicou aos meios de comunicação, que não estão autorizados a transmitir ao vivo as audiências, o que podem e o que não podem fazer. O massacre levou o governo a endurecer as leis sobre as armas e contra o extremismo na internet.