EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 20 de fevereiro de 2014 às 15h58.
Damasco - O regime sírio e seu aliado russo acusaram nesta quinta-feira os Estados Unidos de incentivar a violência na Síria ao apoiar os rebeldes, na véspera da votação na ONU de um projeto de resolução humanitária.
A disputa entre russos e americanos se intensificou na semana passada, depois do fracasso de uma nova rodada de negociações entre o regime e a oposição em Genebra, destinada a encontrar uma solução pacífica para mais de três anos de um conflito devastador na Síria.
O regime de Bashar al-Assad acusou a Jordânia de incitar a rebelião no sul da Síria com o apoio dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, após a falta de resultados concretos em Genebra.
"A frente sul é hoje a mais visada (...). O papel da Jordânia, em coordenação com as inteligências americana, saudita e israelense, não é mais um segredo", afirmou o jornal estatal As-Saura, acusando Washington de favorecer "a escalada" da violência no país.
Os rebeldes no sul indicaram na terça-feira que se preparam para uma grande ofensiva contra Damasco. Milhares deles são treinados na Jordânia há mais de um ano pelos Estados Unidos. Outros países ocidentais participarão da operação, segundo fontes do regime e da rebelião.
Ao receber o rei da Jordânia, Abdullah II, na semana passada, o presidente americano, Barack Obama, expressou sua vontade de aumentar a pressão sobre Assad, equanto seu chefe da diplomacia, John Kerry, acusou Moscou de "favorecer a postura de superioridade" adotada pelo presidente sírio em Genebra.
"Nossos parceiros dizem que nós não venceremos o terrorismo na Síria enquanto o presidente Assad estiver no poder", mas esta "política americana apenas incentiva os extremistas que financiam o terrorismo e fornece armas às organizações e grupos terroristas", afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, em visita a Bagdá.
"E no fim das contas, isso não resultará em nada além de uma escalda do conflito", acrescentou Lavrov que, assim como o regime sírio, chama os rebeldes de "terroristas".
Essas divergências, que inviabilizaram qualquer solução política para o conflito, devem se concretizar na sexta-feira na ONU, onde os países ocidentais decidiram submeter a uma votação no Conselho de Segurança um projeto de resolução sobre a situação humanitária na Síria, que não tem o apoio da Rússia.
O projeto apoiado por Londres, Washington e Paris, do qual a AFP obteve uma cópia, pede a "todas as partes que abandonem imediatamente os cercos às zonas habitadas" e cita uma série de localidades que foram cercadas, como Homs (centro) e o campo palestino de Yarmouk, perto de Damasco.
Ela exige "o fim imediato de todos os ataques contra os civis (...), incluindo os bombardeios aéreos, e, sobretudo, a utilização de barris de explosivos", em uma clara referência à tática utilizada pelo Exército sírio em Aleppo (norte).
A resolução não prevê sanções automáticas no caso de desrespeito aos dispositivos contidos nessa resolução, mas deixa em aberto a possibilidade de "adotar medidas adicionais". Segundo os diplomatas, Moscou rejeita obstinadamente qualquer menção explícita ao governo sírio.
Na quarta-feira, a Agência da ONU para a ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA) retomou a distribuição de ajuda aos civis sitiados no campo de Yarmouk.
A distribuição de comida e medicamentos foi interrompida em 8 de fevereiro por causa do início dos combates nesse acampamento palestinos cercado desde junho pelo exército sírio.
Ao norte de Damasco, as tropas sírias e os insurgentes se enfrentavam pelo controle de Yabroud, um reduto rebelde em Qalamoun, região estratégica na fronteira com o Líbano.
Já em Aleppo (norte), oito soldados morreram e outros 20 ficaram feridos em um atentado praticado por jihadistas da Frente al-Nosra diante de uma prisão. Um carro-bomba explodiu diante do presídio e, depois, dois suicidas detonaram explosivos dentro do local, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede na Grã-Bretanha.
Além disso, ao menos seis pessoas morreram em um outro atentado com carro-bomba em um posto policial na fronteira entre a Síria e a Turquia.
No Líbano, profundamente dividido em relação ao conflito sírio, um líder militar alauíta - comunidade à qual pertence Assad - foi morto em Trípoli (norte) e confrontos mortais foram travados depois entre alauítas e sunitas, no dia seguinte a um duplo atentado que deixou ao menos dez mortos perto do Centro Cultural do Irã, aliado de Assad e do movimento xiita Hezbollah.