Síria é "câmara de tortura", diz ONU em apelo por libertações
Em negociações, delegação do governo sírio não compareceu, mas rejeitou as alegações de tortura sistemática
Reuters
Publicado em 14 de março de 2017 às 12h08.
Última atualização em 14 de março de 2017 às 16h46.
Genebra - A principal autoridade de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu nesta terça-feira que dezenas de milhares de detidos sejam libertados de prisões da Síria , e que os torturadores sejam julgados, como parte das medidas para que haja uma paz duradoura.
Ex-detidos sírios também testemunharam perante o Conselho de Direitos Humanos da ONU sobre o sofrimento e a preocupação com homens, mulheres e crianças ainda sob custódia do governo ou de grupos extremistas, entre eles Al-Nusra e Estado Islâmico.
"Hoje, de certa maneira, o país inteiro se tornou uma câmara de tortura, um lugar de horror selvagem e absoluta injustiça", disse o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein.
"Garantir a responsabilização, estabelecer a verdade e providenciar reparações (é algo que) deve acontecer se for para o povo sírio encontrar a reconciliação e a paz algum dia", afirmou ao fórum de direitos humanos das Nações Unidas, em Genebra.
Zeid exortou as partes em guerra a interromperem as torturas e execuções e libertar os detidos, ou ao menos fornecer informações básicas às suas famílias.
A delegação do governo sírio não compareceu, mas rejeitou as alegações de tortura sistemática. O enviado da Rússia, seu principal aliado, classificou o evento como uma "perda de tempo precioso".
Noura Al-Ameer, ex-detido e ativista, citou o caso de Ranya, uma mulher detida em 2012 com seis de seus filhos e ainda desaparecida.
"Muitas outras mulheres estão detidas com os filhos, detidas em locais que não servem nem para animais, muito menos para crianças", disse Al-Ameer ao conselho.
O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Inquérito da ONU na Síria, observou que seu relatório de 2016 revelou que a escala de mortes nas prisões indicou que o governo do presidente sírio, Bashar Al-Assad, é responsável pelo "extermínio como crime contra a humanidade".
"Vozes demais estão sendo silenciadas pelo desaparecimento forçado, pela detenção arbitrária ou pela morte", afirmou.
Zeid e Pinheiro prometeram apoiar um novo mecanismo da ONU que irá coletar indícios e preparar arquivos criminais para processos de autoridades nacionais ou de um tribunal internacional.