Exame Logo

Síria deve insistir em sua 'guerra de desgaste'

"O regime acredita que a comunidade internacional vai perceber que ele não pode ser derrubado, que a pressão vai cair e assim vai renovar o diálogo", avalia Peter Harling

Helicóptero do exército sírio sobrevoa manifestação pró-regime com bandeiras do país (©AFP / Louai Beshara)
DR

Da Redação

Publicado em 15 de março de 2012 às 14h35.

Beirute - O regime sírio deve persistir em sua estratégia de atacar a resistência e utilizar suas vitórias militares para forçar a comunidade internacional a negociar, afirmam os analistas.

"O regime acredita que a comunidade internacional vai perceber, em algum momento, que ele não pode ser derrubado, que a pressão vai cair e assim vai renovar o diálogo", avalia Peter Harling, especialista em Síria do International Crisis Group.

"Enviar emissários em missões pouco claras ajuda Assad a convencer-se de que ele está certo", acrescenta, referindo-se ao enviado da ONU e da Liga Árabe, o antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, que retornou de mãos vazias de uma missão em Damasco neste último fim de semana.

Mas, para especialistas, o regime está condenado, apesar de seu poderio militar e o fato de não hesitar em usá-lo, como demonstrou contra os redutos rebeldes de Baba Amr em Homs (centro) e de Idleb (noroeste), recentemente atacados.

"O regime se colocou em uma guerra desgastante. Ele deve insistir na ficção de vitórias militares, embora saiba que a luta não vai acabar rapidamente", afirma Harling.

O presidente sírio Bashar al-Assad desfruta de diversas vantagens para tanto: o forte apoio da Rússia, uma comunidade internacional paralisada e uma oposição dividida, que já deixou de ser uma alternativa concreta.

"Hoje, a pressão internacional é menor, há um desejo de acalmar as coisas, porque, com o bloqueio russo, não se pode fazer muito", afirmou Fabrice Balanche, diretor do Centro de Pesquisa francês Gremmo.

"Os russos disseram: 'Com a Síria, somos nós que lidamos, somos nós que resolveremos a crise'", acrescenta.


A Rússia, que fornece armas para Damasco, junto com Pequim bloqueou duas vezes as resoluções da ONU que condenavam a repressão na Síria, onde a violência já custou a vida de mais de 9.000 pessoas em um ano, segundo ativistas.

Os pesquisadores temem uma guerra civil, em um contexto de elevadas tensões religiosas entre sunitas e xiitas, e pede, de forma cada vez mais insistente, que os rebeldes sejam armados.

A Síria possui 23 milhões de habitantes, a maioria sunita, enquanto seu regime é da minoria alauita, uma facção do xiismo.

Washington e seus aliados ocidentais se opuseram à idéia de armar os rebeldes, mas o Qatar e a Arábia Saudita, poderosos sunitas, têm repetidamente pedido o fornecimento de armas.

"Se os sauditas e o Qatar realmente quiserem dar os meios aos rebeldes, eles podem conseguir reverter o equilíbrio de poder", acredita Joshua Landis, que dirige o Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Oklahoma.

"Mas se o regime for destruído, a crise humanitária pode piorar", acrescenta. "Isso não vai parar com as mortes, isso só vai aumentar, como aconteceu no Iraque".

"Você quebra, você paga, todo mundo sabe disso e é por isso que ninguém quer ir. A Arábia Saudita e a Turquia perceberem que isso pode ser seu Vietnã", afirmou.

Para os especialistas, o atual impasse diplomático incentiva o regime a continuar com a sua estratégia de esmagar militarmente os rebeldes a qualquer preço, mesmo que esteja claro que isso poderá durar por muito tempo.

"Eu não acredito que as manobras do regime funcionem, visto sua relação com seu próprio povo: ele é odiado por milhões de pessoas e não faz nada para renovar essa relação", afirma Harling.

"Se ele não renovar esta relação, só irá criar as condições para uma guerra civil", concluiu.

Veja também

Beirute - O regime sírio deve persistir em sua estratégia de atacar a resistência e utilizar suas vitórias militares para forçar a comunidade internacional a negociar, afirmam os analistas.

"O regime acredita que a comunidade internacional vai perceber, em algum momento, que ele não pode ser derrubado, que a pressão vai cair e assim vai renovar o diálogo", avalia Peter Harling, especialista em Síria do International Crisis Group.

"Enviar emissários em missões pouco claras ajuda Assad a convencer-se de que ele está certo", acrescenta, referindo-se ao enviado da ONU e da Liga Árabe, o antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, que retornou de mãos vazias de uma missão em Damasco neste último fim de semana.

Mas, para especialistas, o regime está condenado, apesar de seu poderio militar e o fato de não hesitar em usá-lo, como demonstrou contra os redutos rebeldes de Baba Amr em Homs (centro) e de Idleb (noroeste), recentemente atacados.

"O regime se colocou em uma guerra desgastante. Ele deve insistir na ficção de vitórias militares, embora saiba que a luta não vai acabar rapidamente", afirma Harling.

O presidente sírio Bashar al-Assad desfruta de diversas vantagens para tanto: o forte apoio da Rússia, uma comunidade internacional paralisada e uma oposição dividida, que já deixou de ser uma alternativa concreta.

"Hoje, a pressão internacional é menor, há um desejo de acalmar as coisas, porque, com o bloqueio russo, não se pode fazer muito", afirmou Fabrice Balanche, diretor do Centro de Pesquisa francês Gremmo.

"Os russos disseram: 'Com a Síria, somos nós que lidamos, somos nós que resolveremos a crise'", acrescenta.


A Rússia, que fornece armas para Damasco, junto com Pequim bloqueou duas vezes as resoluções da ONU que condenavam a repressão na Síria, onde a violência já custou a vida de mais de 9.000 pessoas em um ano, segundo ativistas.

Os pesquisadores temem uma guerra civil, em um contexto de elevadas tensões religiosas entre sunitas e xiitas, e pede, de forma cada vez mais insistente, que os rebeldes sejam armados.

A Síria possui 23 milhões de habitantes, a maioria sunita, enquanto seu regime é da minoria alauita, uma facção do xiismo.

Washington e seus aliados ocidentais se opuseram à idéia de armar os rebeldes, mas o Qatar e a Arábia Saudita, poderosos sunitas, têm repetidamente pedido o fornecimento de armas.

"Se os sauditas e o Qatar realmente quiserem dar os meios aos rebeldes, eles podem conseguir reverter o equilíbrio de poder", acredita Joshua Landis, que dirige o Centro de Estudos do Oriente Médio da Universidade de Oklahoma.

"Mas se o regime for destruído, a crise humanitária pode piorar", acrescenta. "Isso não vai parar com as mortes, isso só vai aumentar, como aconteceu no Iraque".

"Você quebra, você paga, todo mundo sabe disso e é por isso que ninguém quer ir. A Arábia Saudita e a Turquia perceberem que isso pode ser seu Vietnã", afirmou.

Para os especialistas, o atual impasse diplomático incentiva o regime a continuar com a sua estratégia de esmagar militarmente os rebeldes a qualquer preço, mesmo que esteja claro que isso poderá durar por muito tempo.

"Eu não acredito que as manobras do regime funcionem, visto sua relação com seu próprio povo: ele é odiado por milhões de pessoas e não faz nada para renovar essa relação", afirma Harling.

"Se ele não renovar esta relação, só irá criar as condições para uma guerra civil", concluiu.

Acompanhe tudo sobre:DitaduraPrimavera árabeSíria

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame