Exame Logo

Símbolo de império de Trump é demolido em Atlantic City, marcando o fim de uma era

Inaugurado em 1984, ele foi uma das três casas de jogos do ex-presidente na cidade. Curiosos pagaram US$ 10 para assistir à demolição

Trump Plaza (Donald Kravitz/Getty Images)
AO

Agência O Globo

Publicado em 17 de fevereiro de 2021 às 16h51.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2021 às 21h17.

Menos de um mês depois de Donald Trump deixar a presidência dos Estados Unidos, um símbolo de seu império caiu por terra: o Trump Plaza, o primeiro cassino construído por ele e um vestígio do passado glamoroso de Atlantic City, se transformou na manhã desta quarta-feira em uma nuvem de escombros, poeira e barulho.

Explosivos cuidadosamente colocados implodiram a torre branca de 39 andares no Atlantic Ocean, que ficou vazia por anos. As autoridades municipais estavam ansiosas para colocá-lo abaixo em meio a reclamações de que pedaços de concreto estavam caindo do prédio.

Veja também

Apesar da manhã gelada de inverno, o ''evento'' atraiu centenas de curiosos, que pagaram US$ 10 para estacionar seus carros em um antigo campo de aviação a menos de 3,2 quilômetros de distância para assistir à destruição final do Plaza.

Embora o nome de Trump, já desbotado, ainda pudesse ser visto nos contornos dos gigantes letreiros que marcavam o edifício, este já não pertencia há anos ao ex-presidente americano.

Carl Icahn o adquiriu quando comprou o Trump Entertainment Resorts, em 2016, mas não revelou planos futuros para a propriedade. Na ocasião, o cassino já estava fechado havia dois anos. O prédio foi considerado um “risco iminente de segurança”, de acordo com o prefeito de Altantic City.

— Você via pedaços de concreto caindo do último andar - disse o prefeito Marty Small em uma entrevista.

O prefeito, que lutou para demolir o Plaza, disse que quer substituí-lo por um empreendimento de uso misto, talvez algo centrado no entretenimento familiar.

— A última coisa de que precisamos agora é outro cassino.

Trump Plaza (DON EMMERT/Getty Images)

Trump se interessou por cassinos no início de sua carreira. A ideia de entrar no negócio surgiu no fim de 1975, quando ouviu uma reportagem de rádio sobre como uma greve de funcionários de hotéis em Las Vegas havia feito o preço das ações do Hilton despencar — embora os dois hotéis-cassino fossem uma pequena parte do portfólio da empresa.

“Gosto do negócio de cassinos”, escreveu Trump em seu livro de 1987, “The Art of the Deal”. “Gosto da escala, que é enorme, gosto do glamour e, acima de tudo, gosto do fluxo de caixa.”

Trump acrescentou ainda:

“Ocorreu-me que mesmo se eu finalmente conseguisse construir o hotel e se tornasse um grande sucesso na maior cidade do mundo, ainda não seria tão lucrativo quanto um hotel-cassino de sucesso moderado em uma pequena cidade deserta, no Southwest . O que fiz logo depois de ouvir aquela reportagem no rádio foi fazer uma viagem até Atlantic City".

O 'blefe' de Trump

Ele admite no livro que blefou para garantir seu futuro parceiro no Trump Plaza. No início do projeto, Trump convidou executivos do Holiday Inn para ver, via internet, quanto trabalho havia sido feito.

Na verdade, o prédio mal havia sido iniciado, mas Trump reuniu “cada escavadeira e caminhão basculante” que seu empreiteiro conseguiu reunir para fazer parecer que eles estavam ocupados no trabalho quando os representantes do Holiday Inn viessem visitar.

“Se eles conseguissem realizar algum trabalho de verdade, tanto melhor, mas se necessário, ele deveria fazer com que as escavadeiras cavassem a sujeira de um lado do local e jogassem em outro”, disse ele.

O Holiday Inn decidiu se juntar a Trump no projeto. Mas a parceria não durou muito — em 1986, Trump comprou a participação do Holiday Inn.

O sucesso inicial do Trump Plaza geraria mais gastos. Trump assumiu mais dívidas, comprando e terminando o Taj Mahal, também em Atlantic City, depois de entrar em uma guerra de lances pela empresa controladora, a Resorts International, com Merv Griffin.

No auge, o portfólio de Trump consistia em quatro cassinos, três em Atlantic City e um em Indiana. A expansão foi cara, no entanto, e o alto endividamento de sua empresa tornou difícil competir com os rivais. A certa altura, os cassinos de Trump não tinham dinheiro para colocar bancos na frente das máquinas caça-níqueis.

Queda da receita

Atlantic City era o único lugar para jogar legalmente no leste dos Estados Unidos e foi por um tempo o maior mercado de jogos depois de Las Vegas. A receita do cassino de Atlantic City atingiu o pico de US$ 5,2 bilhões, em 2006.

A expansão das apostas legalizadas nos estados vizinhos levou a um colapso do tráfego para o remoto resort de praia de Nova Jersey, com mais da metade das propriedades mudando de mãos ou fechando.

Nove cassinos da cidade geraram US$ 1,5 bilhão em vendas no ano passado, embora os jogos de cassino on-line e apostas esportivas tenham gerado mais US$ 1,4 bilhão em receitas em todo o estado.

Tilman Fertitta comprou o Trump Marina, em Atlantic City, por US$ 38 milhões em 2011, rebatizando-o como Golden Nugget. Em uma apresentação recente, Fertitta disse que aumentou as vendas em 36% desde a aquisição do cassino e gerou um retorno de 15% sobre o investimento na operação que já foi perdida.

Fertitta também o usou para construir um negócio de apostas on-line com um valor de mercado atual de mais de US$ 800 milhões.

O Hard Rock International comprou o Trump Taj Mahal, remodelou e rebatizou-o. É agora o segundo cassino de maior bilheteria da cidade, depois do Borgata, do MGM Resorts International.

Joe Lupo, presidente do Hard Rock Hotel & Casino Atlantic City, disse em uma entrevista coletiva, no dia 2 deste mês, que a empresa estava tão satisfeita com o desempenho financeiro que havia visto em um 2020 difícil, devido à pandemia, que estava pagando US$ 1 milhão em bônus aos funcionários.

Em 2014, Trump entrou com uma ação judicial para a remoção de seu nome dos dois resorts restantes de Nova Jersey, dizendo que eles estavam em ruínas. O cassino fluvial de Indiana também foi vendido.

Agora, o império Trump não inclui cassinos — nem mesmo no Trump International Hotel Las Vegas, que se anuncia como “um hotel de luxo sofisticado, para não fumantes e não-jogadores".

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Mundo

Mais na Exame