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Sapo Pepe: a história do meme favorito de Donald Trump

Como o Sapo Pepe virou a figura predileta do movimento de direita dos Estados Unidos — e do Brasil

Sapo Pepe: símbolo de como a política é cada vez mais indecifrável e imprevisível nas redes sociais (Reprodução/Reprodução)

Sapo Pepe: símbolo de como a política é cada vez mais indecifrável e imprevisível nas redes sociais (Reprodução/Reprodução)

RK

Rafael Kato

Publicado em 20 de fevereiro de 2017 às 14h31.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2017 às 16h08.

Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google PlayPara ler esta reportagem antecipadamente, assine EXAME Hoje.

À primeira vista, parece só um sapo com jeito de ter sido feito no editor de imagens MS Paint. Mas Pepe, o tal sapo, virou emblema para os seguidores do presidente norte-americano Donald Trump e seu uso pela chamada “direita alternativa” nos Estados Unidos levou a Liga Anti-Difamação, umas das principais associações judaicas do país, a colocá-lo em seu hall de símbolos de ódio, junto da suástica. Virou, também, símbolo de como a política é cada vez mais indecifrável e imprevisível nas redes sociais.

Pepe é um “meme”, aquele tipo de informação engraçadinha que se espalha rapidamente. Segundo o site Know Your Meme, dedicado a catalogar e analisar os memes, Pepe foi um dos mais populares de 2016. O Google Trends também mostrou um pico em sua popularidade culminando com as eleições americanas, quando Pepe foi mais procurado que termos quentes do pleito como “Wikileaks” e “John Podesta”, o líder da campanha da democrata Hillary Clinton e envolvido em um escândalo de vazamento de e-mails.

Criado em 2005, Pepe surgiu como personagem dos quadrinhos Boy’s Club (Clube dos Garotos) onde tinha como principal característica se portar como um adolescente. Seu comportamento escatológico caiu nas graças dos fóruns de troca de imagens, conhecidos pelas postagens anônimas e por serem o nascedouro das piadas que depois correm a internet. O 4chan, um dos mais populares destes fóruns, tem cerca de 18 milhões de usuários ativos. É um número pequeno se comparado aos gigantes Twitter e Facebook. Mas são 18 milhões barulhentos. Muito dos usuários destes fóruns são heavy users da internet, e vários fazem parte de grupos de ativistas on-line como o Anonymus.

Por volta de 2014, Pepe virou alvo de uma campanha dos usuários do 4chan, principalmente os ligados à direita-alternativa. Surgiram montagens em que o personagem aparecia como um judeu estereotipado observando os ataques terroristas no 11 de setembro, ou travestido de Hitler. Quando Donald Trump retwittou, em novembro de 2015, uma imagem em que ele próprio aparecia caracterizado como Pepe, o meme tomou conta da rede.

Em setembro de 2016, em meio à acalorada disputada entre o republicano Donald Trump e Hillary Clinton, Donald Trump Jr. twittou uma montagem sobre o pôster do filme Os Mercenários em que o pai aparecia cercado por figuras como Rudy Giuliani, o atual vice-presidente Mike Pence, o atual secretário de habitação Ben Carson, e Pepe. A montagem foi uma resposta a Clinton, que disse que metade dos seguidores de Trump faziam parte de uma cesta de deploráveis e à gestora de conteúdo da campanha de Cliton, Elizabeth Chan, que escreveu um artigo intitulado “Trump, o Sapo Pepe os Supremacistas Brancos”.

Na mesma época, montagens fazendo troça com Clinton apareceram nos fóruns do 4chan, o que ajudou a enfraquecer a presença da democrata nas redes, e Pepe virou uma espécie de cabo eleitoral de Trump, aparecendo em centenas de imagens junto do candidato, ou propagando seu ideário. “Hillary nunca conseguiu estimular a criatividade de seu partido , sua presença na internet não era orgânica como foi a do Trump ou o próprio Bernie Sanders fez”, diz Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e especialista em comunicação e internet.

Algo semelhante aconteceu quando a Liga Anti-Difamação classificou Pepe como símbolo de ódio. Embora Jonathan A. Greenblatt, presidente da associação, tenha ressaltado em comunicado que “os racistas estão abusando de um personagem para propagar uma mensagem negativa”, uma enxurrada de memes anti-semitas tomou conta da internet. Hoje a Liga Anti-Difamação encabeça uma campanha para retomar Pepe, a “Salvem Pepe!”, que conta também com a participação de Matt Furie, criador do personagem.

Mas apesar destes esforços a vitória de Trump parece ter solidificado Pepe como uma insígnia da direita. O “emoji” do sapo é usado por simpatizantes do movimento – inclusive diversos perfis brasileiros -- e inspirou a logomarca da rede social Gab, criada para ser uma versão “pró-liberdade de expressão” do Twitter, mas acusada de ser apenas um fórum de discussões racistas. “As redes sociais estiveram no centro destas eleições americanas, e tenho certeza que vão estar no centro das eleições presidencias no Brasil em 2018. Por isso o meme de Pepe é importante”, diz Amadeu.

E este fenômeno não é único dos Estados Unidos. Na Europa os franceses transformaram Pepe em “Pepe Le Pen”, uma piada com a candidata ultra-nacionalista Marine Le Pen, da Frente Nacional, e na Rússia o Twitter oficial da embaixada do país no Reino Unido twittou Pepe. Talvez ninguém tenha explicado melhor este fenômeno do que um usuário do 4chan, que exclamou pouco depois da eleição. “Nós conseguimos. Nós elegemos um meme como presidente.”

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