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Retirada de civis de Homs é suspensa em meio a negociações

Retirada de civis sitiados na cidade síria de Homs foi suspensa por razões logísticas e será retomada na quarta

Civis deixam a cidade sitiada de Homs, na Síria: maioria das pessoas retiradas estava em estado de extrema debilidade (Bassel Tawil/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de fevereiro de 2014 às 16h12.

Damasco - A retirada de civis sitiados na cidade síria de Homs foi suspensa nesta terça-feira por razões logísticas e será retomada na quarta-feira, no momento em que regime e oposição retomavam em Genebra complicadas negociações.

Segundo a agência das Nações Unidas para operações de emergência, 1.132 pessoas foram retiradas em quatro dias da parte antiga de Homs, cidade considerada a "capital da revolução" e que pagou muito caro por sua oposição ao regime de Bashar al-Assad .

A maioria das pessoas retiradas estava em estado de extrema debilidade, depois de terem sofrido o assédio imposto desde junho de 2012 pelas tropas do regime que realizam uma série de ofensivas para retomar a localidade das mãos dos rebeldes.

No entanto, "a operação de retirada não ocorreu hoje por (dificuldades) logísticas. Amanhã de manhã retomaremos a ajuda alimentar, assim como a retirada de civis" dos bairros sitiados pelo Exército em Homs, afirmou por telefone Talal Barazi, governador local.

A trégua na cidade - negociada entre o regime e os rebeldes com a mediação da ONU - já havia sido prolongada até a noite de quarta-feira para permitir mais retiradas, e também para facilitar a chegada de ajuda humanitária aos que decidiram ficar nos bairros destruídos pela guerra.

Já em Genebra representantes do governo sírio e da oposição sentaram-se nesta terça-feira à mesma mesa com o mediador da ONU para a segunda rodada de negociações de paz, que foram retomadas na segunda-feira com dificuldades.

O mediador da ONU, Lakhdar Brahimi, tentava sair do diálogo de surdos que, no momento, caracteriza estas negociações para encontrar uma saída política para um conflito armado que, segundo uma ONG, deixou mais de 136.000 mortos desde março de 2011.

No entanto, segundo Brahimi, a nova rodada teve um início difícil, sem maiores sinais de avanços.


"Hoje não tenho muito o que dizer, exceto que o início desta semana foi tão trabalhoso quanto o anterior", afirmou o diplomata aos jornalistas.

"Não estamos fazendo muitos progressos", admitiu.

Na segunda-feira, Brahimi já havia se reunido com as duas delegações separadamente e não quis fazer declarações à imprensa ao final do encontro.

"O ambiente é negativo", comentou uma fonte ligada à delegação governamental antes do início da reunião desta terça.

Na noite de segunda-feira, a delegação opositora síria advertiu que não participará de uma terceira rodada se não houver avanços.

Durante a primeira rodada de negociações, também em Genebra, o regime de Damasco havia aceitado a retirada de civis, mas expressou reservas sobre a entrada de ajuda do exterior aos bairros em poder de terroristas, em referência aos rebeldes.

No plano diplomático internacional as divergências também eram óbvias.

A Rússia, aliada de Damasco, considerou absolutamente inaceitável o projeto de resolução apresentado ao Conselho de Segurança da ONU sobre a situação humanitária na Síria, afirmou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

"As ideias que nos transmitiram (...) são absolutamente inaceitáveis e contêm um ultimato para o governo" sírio, acrescentou.

"O Conselho de Segurança deve prestar atenção a um aspecto não menos importante (da crise): o aumento do terrorismo", afirmou o chanceler russo.

Na segunda-feira, vários países ocidentais tentaram fazer com que a Rússia aceitasse uma resolução sobre a situação humanitária na Síria.


Tínhamos fome

Os vídeos divulgados sobre as retiradas de civis de Homs mostram dezenas de pessoas, entre elas muitas crianças, atravessando uma rua devastada na segunda-feira, carregando malas, enquanto os veículos da ONU se dirigiam a toda velocidade em direção a elas.

As imagens refletem o desamparo desses civis sitiados durante meses, em condições degradantes, alimentando-se apenas com azeitonas e ervas.

"Graças a Deus", diz um homem, com uma longa barba, ao rebelde que o filma. "Decidimos sair porque tínhamos fome".

Os civis retirados são recebidos pelo Crescente Vermelho em um centro de acolhida, onde recebem atendimento médico.

No entanto, segundo as Nações Unidas, os homens retirados do setor antigo de Homs são interrogados pelas forças de segurança sírias com a supervisão do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).

No total, "336 homens, com idades entre 15 e 55 anos, foram detidos após terem sido retirados para interrogatório", declarou Melissa Fleming, porta-voz do Acnur.

Deles, 42 foram libertados e os demais seguem em poder das autoridades, que os interroga em um colégio situado perto de Homs.

"O Acnur está no recinto do colégio, mas não assiste aos interrogatórios", acrescentou a porta-voz.

Quando os homens são liberados, eles conversam com representantes do Acnur e, geralmente, pedem para se juntar novamente com suas famílias.

O Programa Mundial de Alimentos indicou à AFP o envio aos bairros sitiados de 310 pacotes de alimentos e 1,5 tonelada de trigo, entre sexta-feira e domingo, tornando "possível alimentar 1.550 pessoas durante um mês". Cerca de 3.000 pessoas estavam bloqueadas no setor antigo de Homs antes do início da operação humanitária.

Atualização às 17h11 de 11/02/2014

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Damasco - A retirada de civis sitiados na cidade síria de Homs foi suspensa nesta terça-feira por razões logísticas e será retomada na quarta-feira, no momento em que regime e oposição retomavam em Genebra complicadas negociações.

Segundo a agência das Nações Unidas para operações de emergência, 1.132 pessoas foram retiradas em quatro dias da parte antiga de Homs, cidade considerada a "capital da revolução" e que pagou muito caro por sua oposição ao regime de Bashar al-Assad .

A maioria das pessoas retiradas estava em estado de extrema debilidade, depois de terem sofrido o assédio imposto desde junho de 2012 pelas tropas do regime que realizam uma série de ofensivas para retomar a localidade das mãos dos rebeldes.

No entanto, "a operação de retirada não ocorreu hoje por (dificuldades) logísticas. Amanhã de manhã retomaremos a ajuda alimentar, assim como a retirada de civis" dos bairros sitiados pelo Exército em Homs, afirmou por telefone Talal Barazi, governador local.

A trégua na cidade - negociada entre o regime e os rebeldes com a mediação da ONU - já havia sido prolongada até a noite de quarta-feira para permitir mais retiradas, e também para facilitar a chegada de ajuda humanitária aos que decidiram ficar nos bairros destruídos pela guerra.

Já em Genebra representantes do governo sírio e da oposição sentaram-se nesta terça-feira à mesma mesa com o mediador da ONU para a segunda rodada de negociações de paz, que foram retomadas na segunda-feira com dificuldades.

O mediador da ONU, Lakhdar Brahimi, tentava sair do diálogo de surdos que, no momento, caracteriza estas negociações para encontrar uma saída política para um conflito armado que, segundo uma ONG, deixou mais de 136.000 mortos desde março de 2011.

No entanto, segundo Brahimi, a nova rodada teve um início difícil, sem maiores sinais de avanços.


"Hoje não tenho muito o que dizer, exceto que o início desta semana foi tão trabalhoso quanto o anterior", afirmou o diplomata aos jornalistas.

"Não estamos fazendo muitos progressos", admitiu.

Na segunda-feira, Brahimi já havia se reunido com as duas delegações separadamente e não quis fazer declarações à imprensa ao final do encontro.

"O ambiente é negativo", comentou uma fonte ligada à delegação governamental antes do início da reunião desta terça.

Na noite de segunda-feira, a delegação opositora síria advertiu que não participará de uma terceira rodada se não houver avanços.

Durante a primeira rodada de negociações, também em Genebra, o regime de Damasco havia aceitado a retirada de civis, mas expressou reservas sobre a entrada de ajuda do exterior aos bairros em poder de terroristas, em referência aos rebeldes.

No plano diplomático internacional as divergências também eram óbvias.

A Rússia, aliada de Damasco, considerou absolutamente inaceitável o projeto de resolução apresentado ao Conselho de Segurança da ONU sobre a situação humanitária na Síria, afirmou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

"As ideias que nos transmitiram (...) são absolutamente inaceitáveis e contêm um ultimato para o governo" sírio, acrescentou.

"O Conselho de Segurança deve prestar atenção a um aspecto não menos importante (da crise): o aumento do terrorismo", afirmou o chanceler russo.

Na segunda-feira, vários países ocidentais tentaram fazer com que a Rússia aceitasse uma resolução sobre a situação humanitária na Síria.


Tínhamos fome

Os vídeos divulgados sobre as retiradas de civis de Homs mostram dezenas de pessoas, entre elas muitas crianças, atravessando uma rua devastada na segunda-feira, carregando malas, enquanto os veículos da ONU se dirigiam a toda velocidade em direção a elas.

As imagens refletem o desamparo desses civis sitiados durante meses, em condições degradantes, alimentando-se apenas com azeitonas e ervas.

"Graças a Deus", diz um homem, com uma longa barba, ao rebelde que o filma. "Decidimos sair porque tínhamos fome".

Os civis retirados são recebidos pelo Crescente Vermelho em um centro de acolhida, onde recebem atendimento médico.

No entanto, segundo as Nações Unidas, os homens retirados do setor antigo de Homs são interrogados pelas forças de segurança sírias com a supervisão do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).

No total, "336 homens, com idades entre 15 e 55 anos, foram detidos após terem sido retirados para interrogatório", declarou Melissa Fleming, porta-voz do Acnur.

Deles, 42 foram libertados e os demais seguem em poder das autoridades, que os interroga em um colégio situado perto de Homs.

"O Acnur está no recinto do colégio, mas não assiste aos interrogatórios", acrescentou a porta-voz.

Quando os homens são liberados, eles conversam com representantes do Acnur e, geralmente, pedem para se juntar novamente com suas famílias.

O Programa Mundial de Alimentos indicou à AFP o envio aos bairros sitiados de 310 pacotes de alimentos e 1,5 tonelada de trigo, entre sexta-feira e domingo, tornando "possível alimentar 1.550 pessoas durante um mês". Cerca de 3.000 pessoas estavam bloqueadas no setor antigo de Homs antes do início da operação humanitária.

Atualização às 17h11 de 11/02/2014

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