Responsável por quebra de sigilo de tucanos diz que Rui Falcão copiou arquivos
VEJA teve acesso ao depoimento de Amaury Ribeiro Jr. à Polícia Federal, no qual ele confirma que foi convidado para integrar equipe de espiões da pré-campanha
Da Redação
Publicado em 21 de outubro de 2010 às 20h16.
São Paulo - O jornalista Amaury Ribeiro Junior, que encomendou a quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha de José Serra, e de outras pessoas ligadas ao PSDB, afirmou em depoimento à Polícia Federal (PF) que os dados obtidos por ele com a cooperação de servidores da Receita Federal de São Paulo foram copiados em abril deste ano por Rui Falcão, um dos coordenadores da pré-campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República. VEJA obteve a transcrição integral do termo de declaração de Ribeiro Junior à PF, que está anexado ao inquérito do caso. Em nenhum momento, em seu depoimento, ele diz ter agido para “proteger” Aécio Neves, tese sustentada pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, e outros dirigentes do partido. A credibilidade de Ribeiro Junior é relativa, já que ele está no olho do furacão do escândalo da quebra de sigilos, mas sua narrativa ajuda a jogar luz sobre alguns pontos da operação criminosa que culminou com a criação de um dossiê que seria usado para prejudicar Serra na campanha.
Ribeiro Junior afirma que começou a investigar pessoas ligadas ao PSDB “há dez anos”, quando ainda trabalhava no jornal O Globo. Seu "foco", diz, eram as privatizações do governo FHC. Depois disso, ele passou pelas redações do antigo Jornal do Brasil e da revista Istoé, onde afirma ter continuado a recolher informações sobre o partido. No final de 2007, foi contratado pelo jornal O Estado de Minas e, segundo conta, continuava nutrindo interesse especial pelos tucanos. Em 2008, Ribeiro Junior diz ter recebido uma dica passada por “fontes da comunidade de informações”. Haveria um grupo de espiões que, segundo Ribeiro Junior, trabalharia para Serra, investigando outro tucano, Aécio Neves. No depoimento, o jornalista afirma que, por conta própria, “decidiu retomar as investigações das privatizações, agora (naquele momento) focando também pessoas ligadas a José Serra”.
As quebras de sigilo realizadas na Receita Federal ocorreram em outubro do ano passado. Nesse período, Ribeiro Junior havia decidido se demitir do jornal, alegando que precisava cuidar do pai, que estava doente e faleceu pouco depois. O jornalista aproveitou para tirar férias em seu último mês na empresa, antes de formalizar a demissão. Foi durante as férias dele que as quebras de sigilo foram perpetradas. Ele viajou a São Paulo para pegar o material. De posse das informações, não voltou a trabalhar no jornal mineiro, apesar de garantir ter deixado uma cópia dos papéis na redação. O jornal O Estado de Minas nunca publicou nenhuma reportagem sobre o assunto.
Pois bem. Por volta de abril deste ano, Ribeiro Junior diz ter sido convidado para trabalhar na pré-campanha de Dilma Rousseff. Ele foi chamado por Luiz Lanzetta, também jornalista, incumbido de formar um “núcleo de inteligência”, ou seja, espionagem, para a petista. Ribeiro Junior foi a Brasília e se hospedou em um flat no apart-hotel Meliá. O lugar pertence a um certo “Jorge”, que segundo Amaury lhe foi apresentado como “responsável pela administração dos gastos da casa do Lago Sul (a sede do tal grupo de inteligência) e da campanha de Dilma Rousseff. Ribeiro Junior diz ter levado para o apartamento um laptop com suas “apurações”, ou seja, a investigação ilegal sobre a família de Serra. E afirmou à PF “ter certeza” que o material “foi copiado por Rui Falcão, pois somente ele tinha a chave do citado apartamento, pois já havia residido no mesmo”. O jornalista também afirmou à polícia que foi até a recepção do apart-hotel e verificou que o nome de Falcão constava como sendo o ocupante do apartamento.
Rui Falcão vive em São Paulo e acaba de se reeleger deputado estadual pelo PT. Naquele período, no entanto, era um dos mais atuantes articuladores da pré-campanha de Dilma Rousseff. Ele representava o grupo do PT paulista, que, liderado pela ex-prefeita Marta Suplicy, disputava espaço internamente com o PT de Minas Gerais, cujo principal representante àquela altura era o ex-prefeito de Belo Horizonte, e amigo pessoal de Dilma, Fernando Pimentel. O PT tenta emplacar a versão de que as quebras de sigilo encomendadas por Ribeiro Junior foram motivadas por um suposto “fogo amigo” entre Serra e Aécio, mas o único momento em que essa expressão aparece no depoimento do jornalista é quando ele se refere à briga interna entre os grupos petistas de espionagem na tal casa do Lago Sul. Depois que o escândalo do dossiê estourou, Ribeiro Junior foi contratado pela TV Record, do bispo Edir Macedo, que apóia a candidatura Dilma.