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Jornalistas que investigavam genocídio são condenados a prisão em Mianmar

Repórteres foram acusados de violarem a Lei de Segredos Oficiais, quando coletaram e obtiveram documentos confidenciais sobre genocídio rohingya

Juiz de Mianmar considerou dois repórteres da Reuters culpados de violarem uma lei sobre segredos de Estado (Ann Wang/Reuters)
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Reuters

Publicado em 3 de setembro de 2018 às 09h00.

Última atualização em 3 de setembro de 2018 às 09h08.

Yangon - Um juiz de Mianmar considerou dois repórteres da Reuters culpados de violarem uma lei sobre segredos de Estado e os condenou a 7 anos de prisão nesta segunda-feira, em um caso visto como um teste para o progresso democrático no país do sudeste asiático.

O juiz Ye Lwin, do distrito de Yangon, disse que Wa Lone, de 32 anos, e Kyaw Soe Oo, de 28, violaram a Lei de Segredos Oficiais, que data da era colonial do país, quando coletaram e obtiveram documentos confidenciais.

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"Os réus... violaram a seção 3.1 da Lei de Segredos Oficiais e estão condenados a 7 anos", disse o juiz, acrescentando que o tempo que os repórteres já passaram na prisão desde que foram detidos no dia 12 de dezembro será levado em consideração.

Os advogados de defesa podem recorrer ao tribunal regional e depois à Suprema Corte.

Os dois repórteres haviam se declarado inocentes e dito à corte que a polícia plantou documentos durante sua cobertura jornalística sobre a violência no Estado de Rakhine.

Defensores da liberdade de imprensa, a Organização das Nações Unidas (ONU), a União Europeia e países incluindo Estados Unidos, Canadá e Austrália haviam pedido a absolvição dos jornalistas.

"Hoje é um dia triste para Mianmar, para os jornalistas da Reuters Wa Lone e Kyaw Soe Oo e para a imprensa de todas as partes", disse o editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler, em um comunicado.

"Não esperaremos enquanto Wa Lone e Kyaw Soe Oo sofrem esta injustiça e avaliaremos como proceder nos próximos dias, inclusive se buscaremos socorro em um fórum internacional", acrescentou.

Os repórteres disseram ao tribunal que dois policiais lhes entregaram documentos em um restaurante na cidade de Yangon momentos antes de outros agentes chegarem para prendê-los.

Uma testemunha da polícia afirmou que o encontro no restaurante foi uma cilada para prender os jornalistas de forma a impedi-los ou puni-los por sua cobertura de um massacre de muçulmanos rohingyas em Rakhine.

Ao menos 50 pessoas lotaram a sala da pequena corte nesta segunda-feira, e muitas ficaram do lado de fora. O juiz Ye Lwin leu um sumário de depoimentos de testemunhas durante cerca de uma hora antes de pronunciar seu veredicto.

Ele disse que se descobriu que "documentos confidenciais" encontrados com os dois réus teriam sido úteis "para inimigos do Estado e organizações terroristas". Os documentos em sua posse e em seus celulares "não são informação pública".

"Não temo nada"

Vários repórteres tomaram nota chorando quando o juiz emitiu sua decisão.

Chit Su Win, esposa de Kyaw Soe Oo, irrompeu em lágrimas depois do veredicto, e familiares tiveram que ampará-la enquanto ela deixava o recinto.

Wa Lone trocou apertos de mão com apoiadores, dizendo-lhes para não se preocuparem. Usando algemas e escoltado por policiais, ele se dirigiu a um aglomerado de amigos e repórteres.

"Sabemos o que fizemos. Sabemos que não fizemos nada errado. Não temo nada. Acredito na justiça, democracia e liberdade", disse.

Kyaw Soe Oo também disse a repórteres que não cometeu nenhum crime e que ambos manterão sua luta pela liberdade de imprensa.

"O que eu quero dizer a este governo é: vocês podem nos colocar na prisão, mas não tapem os olhos e ouvidos do povo".

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