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Reino Unido deve despachar refugiados para Ruanda nesta terça

Boris Johnson fez acordo com país africano mediante pagamento inicial de US$ 157 milhões; Dinamarca também estuda deportar imigrantes para a África

Barco com refugiados no Mediterrâneo: Reino Unido vai despachar imigrantes para Ruanda (Valeria Ferraro/Anadolu Agency via Getty Images/Getty Images)

Barco com refugiados no Mediterrâneo: Reino Unido vai despachar imigrantes para Ruanda (Valeria Ferraro/Anadolu Agency via Getty Images/Getty Images)

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Carla Aranha

Publicado em 14 de junho de 2022 às 10h29.

Última atualização em 26 de julho de 2022 às 11h52.

Uma das medidas mais controversas sobre políticas de imigração deve ser colocada em prática nesta terça, dia 14. Até o final do dia, o Reino Unido deve despachar o primeiro grupo de refugiados para Ruanda, na África. O primeiro-ministro Boris Johnson fez um acordo de 157 milhões de dólares com o país africano visando a construção de abrigos e facilidades para a recepção de imigrantes que aportam no Reino Unido -- a maioria chega de barco, cruzando o Canal da Mancha.

O primeiro voo para Ruanda deve custar cerca de 600 mil dólares, segundo a imprensa britânica. A medida tem objetivo de “desencorajar” redes de traficantes de pessoas e os próprios candidatos a asilo, segundo o governo do Reino Unido. A Justiça britânica tentou barrar a deportação dos refugiados, sem sucesso – o caso foi parar na Corte Suprema, que negou o pedido. Mesmo assim, grupos de direitos humanos e advogados conseguiram reverter a ordem de embarque de alguns imigrantes, com base em questões como condição de saúde precária e alegações de tortura no país de origem.

No ano passado, mais de 28.500 pessoas cruzaram o Canal da Mancha em botes para chegar ao Reino Unido. Mais da metade são de países como o Irã e o Iraque, enquanto o restante é formado por sudaneses, líbios e albaneses, segundo o governo britânico.

“Pessoas fugindo da guerra e perseguição merecem compaixão e empatia, elas não deveriam ser tratadas como commodities e serem transferidas para outros países enquanto seus pedidos de residência são processados”, disse Gillian Triggs, alta comissária da Agência da ONU para Refugiados, o Acnur.

A ideia é que os imigrantes fiquem em abrigos em Ruanda enquanto seus pedidos de asilo são processados no Reino Unido. Os custos de alimentação, hospedagem e todas as demais despesas deverão ser pagas pelo governo britânico. Para as Nações Unidas, no entanto, a situação é complexa, já que há registros de perseguição política e negação de direitos plenos a imigrantes em Ruanda.

Campos de refugiados em Ruanda já abrigam mais de 130 mil pessoas, especialmente de países africanos como o Burundi, com um dos maiores índices de pobreza do mundo, e a República Democrática do Congo, devastada por uma guerra civil que durou vinte anos. Ruanda, por sua vez, viveu um genocídio na década de 90 que deixou 800 mil mortos em cem dias.

A decisão do Reino Unido, no entanto, não é inédita na Europa. No ano passado, a Dinamarca assinou um memorando com Ruanda para a deportação de refugiados para o país, mediante uma série de pagamentos. O plano ainda não foi adiante, mas o governo dinamarquês vem conversando também com a Etiópia para estabelecer uma política semelhante.

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