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Putin propõe governo provisório na Ucrânia sem Zelensky antes de negociar a paz

Presidente ucraniano rejeitou a ideia e declarou que medida fazia parte de uma manobra de Moscou para adiar o fim do conflito

Vladimir Putin: presidente russo resiste às pressões de diversos países para a paz com a Ucrânia (Yuri Kochetkov/AFP)

Vladimir Putin: presidente russo resiste às pressões de diversos países para a paz com a Ucrânia (Yuri Kochetkov/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 28 de março de 2025 às 18h03.

Última atualização em 28 de março de 2025 às 18h13.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, sugeriu nesta sexta-feira, 28, a criação de uma "administração de transição" na Ucrânia sob a tutela das Nações Unidas e sem a participação do líder ucraniano, Volodymyr Zelensky, antes de qualquer negociação para um acordo de paz.

O mandatário russo mencionou a proposta um dia após aliados europeus de Kiev terem se reunido em Paris para discutir possíveis garantias de segurança que poderiam ser concedidas à Ucrânia. Os países, no entanto, não chegaram a um consenso sobre o envio de tropas em um eventual cenário de paz.

As declarações de Putin, feitas durante uma visita a Murmansk, no noroeste do país, também foram feitas após uma semana de contatos diplomáticos dos Estados Unidos com delegações dos dois países na Arábia Saudita. O retorno de Donald Trump à Casa Branca e sua aproximação de Moscou preocupam a Ucrânia e seus aliados europeus, que temem a possibilidade da imposição de uma paz com condições benéficas para a Rússia.

— Poderíamos, claro, discutir com os Estados Unidos, até mesmo com países europeus e, claro, com nossos parceiros e amigos, sob a tutela da ONU, a possibilidade de estabelecer uma administração de transição na Ucrânia — disse Putin. — Para fazer o quê? Para organizar uma eleição presidencial democrática que resultaria na chegada de um governo com competências e que teria a confiança do povo. Depois, para iniciar com estas autoridades negociações sobre um acordo de paz e assinar documentos legítimos.

O chefe de Estado assegurou que "no âmbito das atividades de manutenção da paz da ONU, já se recorreu diversas vezes a uma administração de transição". Como resposta, Zelensky declarou que a proposta de Putin era uma manobra para adiar a paz. Em entrevista coletiva, o ucraniano acusou seu homólogo russo de buscar atrasar "qualquer possibilidade, processo, negociação e qualquer passo em direção ao fim da guerra".

O presidente ucraniano foi eleito em 2019 para um mandato de cinco anos. Esse mandato deveria ter terminado em maio de 2024, mas as autoridades ucranianas afirmam que a invasão em grande escala da Rússia e a Lei Marcial na Ucrânia impossibilitam a realização de um novo pleito. A legislação ucraniana sobre Lei Marcial proíbe eleições presidenciais, parlamentares e locais – o que justifica a permanência de Zelensky no cargo. A Rússia, porém, alega que o mandato dele expirou.

Na Ucrânia, os pedidos por eleições presidenciais são raros, e até mesmo os principais opositores de Zelensky dizem que elas seriam difíceis de organizar – e poderiam ser manipuladas pela Rússia, publicou a BBC. Se Zelensky resolvesse convocar uma votação no período de Lei Marcial, algo que ele chegou a sugerir em agosto de 2023, poderia ser acusado de cometer um crime grave. Para os ucranianos, dizem especialistas, a prioridade é ganhar a guerra.

Após as reuniões na Arábia Saudita, o governo dos Estados Unidos anunciou na terça-feira um acordo para conter as hostilidades no Mar Negro, mas a Rússia posteriormente estabeleceu condições como o fim das sanções ocidentais contra Moscou. Em seu encontro durante a madrugada com militares russos em Murmansk, Putin destacou que suas tropas "têm a iniciativa estratégica" em toda a linha de frente.

— Há motivos para pensar que vamos acabar com eles. Estamos avançando progressivamente, talvez não tão rápido quanto gostaríamos, mas com insistência e certeza, para alcançar todos os objetivos anunciados — disse Putin, em referência ao início do conflito, em fevereiro de 2022, quando a Rússia justificou sua operação como necessária para "desmilitarizar e desnazificar" a Ucrânia, cujas aspirações de integrar a Otan são consideradas como uma ameaça por Moscou.

Apesar dos esforços dos Estados Unidos para uma trégua, o presidente russo rejeitou a proposta americana de um cessar-fogo sem condições, que Kiev aceitou. Putin, no entanto, afirmou que concordou em não atacar as instalações de energia ucranianas por 30 dias. A Ucrânia acusa a Rússia de violar a promessa e Moscou também afirma que Kiev não cumpriu seus compromissos de não atacar instalações energéticas, uma acusação que o Exército ucraniano nega.

Nesta sexta-feira, o Exército russo afirmou que um bombardeio ucraniano provocou um "grande incêndio" e a destruição de uma estação de medição de gás em Sudzha, na região de Kursk. Em comunicado, o porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, disse que "as tentativas de executar os bombardeios continuam diariamente". A operadora de energia ucraniana Naftogaz, por sua vez, acusou a Rússia de ter "bombardeado" suas instalações, sem revelar mais detalhes.

A Rússia afirmou nesta sexta-feira que retomou uma localidade da região de Kursk, invadida pelas tropas ucranianas em meados de 2024 durante uma ofensiva surpresa, e que registrou avanços no nordeste da Ucrânia. Mais de três anos após o início da ofensiva, não há um balanço preciso de vítimas, embora analistas estimem que o conflito possa ter deixado centenas de milhares de mortos, entre civis e militares.

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