WFP: Somente na América Latina e Caribe, 80,3 milhões de crianças foram beneficiadas com refeições escolares em 2022, incluindo café da manhã, lanche ou almoço (Divulgação: redes sociais WFP)
Repórter
Publicado em 16 de outubro de 2023 às 09h10.
O Dia Mundial da Alimentação é celebrado todo dia 16 de outubro desde 1981, data que também foi criada a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação) com objetivo de fazer a sociedade e governos refletirem sobre a importância de investir e garantir a segurança alimentar a todos.
Para aproveitar este marco, o WFP (Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas), em parceria com a Fome de Tudo, ONG que oferece diversas soluções para combater a fome e o desperdício de alimentos, lançam nesta segunda-feira, 16, uma campanha para universalizar a alimentação escolar em países da América Latina e Caribe.
“O WFP já é responsável pela alimentação escolar em mais de 120 países, trabalhando com recursos próprios, de terceiros e ONGs. Neste caso, a Fome de Tudo veio para fortalecer esse processo, para ser uma catalisadora de investidores que nós da WFP não temos muitas vezes acesso, como especialistas em alimentos e empreendedorismo social,” afirma Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência do WFP.
Somente em 2021, 15,5 milhões de crianças em idade escolar em 57 países receberam refeições nutritivas e lanches do WFP, que há mais de seis décadas trabalha com governos para apoiar iniciativas de refeições escolares e saúde, tendo colaborado com mais de 100 países para criar programas nacionais sustentáveis de refeições escolares.
“A parceria com a WFP nasceu com o objetivo de empoderar pessoas. O empreendedorismo e a economia circular são a chave para tornar o terceiro setor mais sustentável. Junto com a WFP queremos capacitar pessoas e o foco primário não será para realizar um trabalho assistencialista. Buscamos gerar mudanças alimentando programas mais eficientes e já existentes,” afirma Úrsula Corona, CEO do Fome de Tudo.
O objetivo agora com essa nova campanha é incentivar e facilitar a apropriação desses programas sociais pelo governo nacional em regiões mais precárias de 10 países: República Dominicana, Nicarágua, Guatemala, Venezuela, EL Salvador, Cuba, Bolívia, Colômbia, Haiti e Brasil.
“Não vamos entrar com o dinheiro nas escolas públicas, vamos usar os recursos para fazer projetos que serão trabalhados junto com municípios e estados em uma ótica de conscientização da importância da alimentação escolar. Vamos mostrar como esse dinheiro pode ser mais bem utilizado, por exemplo. Queremos mostrar para a sociedade que a alimentação nas escolas é um direito que ela tem,” afirma Balaban.
Há diversos benefícios para os países que investem em alimentação escolar universal, ou seja, onde toda escola pública oferece comida gratuita e de qualidade a todos os alunos. O diretor do WFP cita alguns exemplos.
Na economia, o WFP tem um estudo hoje que mostra que a cada 1 dólar investido em programas de alimentação escolar, haverá um retorno econômico de 9 dólares. “É possível, por exemplo, investir no produtor local, fazendo com que o seu alimento seja produzido para as escolas da região. É uma forma de estimular a economia circular,” diz Balaban.
Já no setor da saúde, o diretor do WFP afirma que uma criança bem alimentada, também usa menos o SUS, ou seja, afinal, tende a ter menos problemas de saúde.
Na educação, uma criança sem fome aprende mais, por isso a CEO da ONG afirma que é muito importante que a segurança alimentar venha junto com a educação. "Afinal, sem comida a criança não aprende, sem comida em casa a ida da criança para a escola é a garantia, assim como a permanência e o progresso dela nos estudos. Pensar em alimentação escolar é muito além do que um prato de comida na escola,” afirma Corona.
A alimentação escolar também pode impactar no desenvolvimento social. Em muitos países africanos muitas meninas não podem ir à escola, mas o fato de ter alimentação no local faz com que os pais as enviem para as aulas, afirma Balaban. “Neste caso, é possível equalizar uma questão de gênero, fazendo com a menina tenha a oportunidade de estudo por conta do programa de alimentação escolar.”
Será mais fácil começar pela América Latina pela questão da logística, afirma Balaban. Eles querem levar representantes do poder público e privado para conhecer e aprender com essas realidades, mas em um projeto futuro, a ideia é chegar a apoiar outros países de outras regiões mais necessitadas, como a África.
“A ideia é expandir a campanha em várias regiões, mas vamos iniciar pela América Latina, fazendo com que nenhuma criança na nossa região esteja fora da escola e sem alimentação escolar,” afirma o diretor do WFP.
No Brasil, o objetivo da campanha será em influenciar no aperfeiçoamento das políticas públicas focando nas regiões Norte e Nordeste, por serem menos desenvolvidas.
“O Brasil é um país extremamente desigual, e queremos que essas duas regiões estejam no mesmo patamar das demais. Existe muito espaço para melhorar, principalmente com os ribeirinhos, quilombolas e indígenas,” diz Balaban.
Apesar de suas desigualdades, o Brasil tem uma política universal de que toda escola pública brasileira oferece comida gratuita a todos os alunos - iniciativa que não existe em alguns países latinos como El Salvador, Honduras, Guatemala, Nicarágua e Colômbia, segundo Balaban.
“Todos esses países têm alimentação escolar, mas não são universais. Todas as crianças de escolas públicas precisam ter direito a uma alimentação de qualidade gratuita. É um direito do cidadão e um dever do Estado. Queremos mostrar cada vez mais para o mundo a importância de investir em programas de alimentação escolar universais e gratuitos.”
Somente na América Latina e Caribe, 80,3 milhões de crianças foram beneficiadas com refeições escolares em 2022, incluindo café da manhã, lanche ou almoço. A maioria dessas crianças vivem na América do Sul (63,2 milhões), seguida pela América Central (13,3 milhões) e Caribe (3,8 milhões), segundo relatório da WFP.