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Produtores de tabaco acham incongruente maconha no Uruguai

Produtores consideram incongruente o fato de que o país legalize a droga e ao mesmo tempo adote uma severa legislação contra o tabaco

Uruguaios se aglomeram em frente ao Congresso, em Montevidéu, onde o governo aprovou a legalização e regularização da maconha (Reuters/Andres Stapff)
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Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2014 às 22h07.

Rio de Janeiro - Os produtores de tabaco de todo o mundo, reunidos a partir desta terça-feira em um evento na cidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, consideram incongruente o fato de que o Uruguai legalize a maconha e ao mesmo tempo adote uma severa legislação contra o tabaco .

"Para mim é o exemplo mais taxativo do nível irracional ao qual chegou o debate sobre o tabaco. Dizer que a maconha não causa danos e tentar proibir o cigarro não faz sentido", disse à Agência Efe o diretor-executivo da Associação Internacional de Cultivadores de Tabaco (ITGA, na sigla em inglês), o português Antonio Abrunhosa.

Os produtores consideram ainda mais incongruente que vários setores aplaudam a legalização da maconha no Uruguai ao mesmo tempo em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz esforços para restringir cada vez mais o consumo de tabaco.

"Duvido que algum estudo científico demonstre que fumar maconha não traz danos e que fumar cigarros, sim", acrescentou.

Para o diretor da ITGA, a situação no Uruguai é tão surrealista como a de Amsterdã, onde cafés especializados permitem aos clientes fumar maconha, mas proíbem o consumo de tabaco.

"É algo que não passa pela cabeça de alguém que tenha um mínimo de bom senso", declarou.

O executivo disse considerar que o presidente do Uruguai, José Mujica, foi mal assessorado a respeito e que se transformou em vítima da informação enganosa divulgada por interesses comerciais.

"Acho que Mujica se deixou levar por argumentos nos quais realmente não acredita", afirmou.

Para o representante da ITGA, os esforços para proibir o tabaco são impulsionados por empresas da indústria farmacêutica interessadas em oferecer alternativas aos cigarros.

"Trata-se de uma guerra comercial. Uma guerra da indústria farmacêutica que quer vender seus produtos. Muitas das campanhas contra o tabaco são financiadas por empresas que há anos tentam vender substitutos ao tabaco e para isso necessitam que o tabaco seja proibido", comentou.

Segundo Abrunhosa, o mais grave é que uma agência da ONU como a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha caído nessa armadilha.

"É uma campanha promovida com argumentos de saúde, mas quando sai uma decisão como esta de Mujica (de legalizar a maconha) se mostra que realmente não é a saúde o que lhes preocupa", assegurou.

Os membros da ITGA discutirão até quarta-feira na cidade de Santa Cruz do Sul sua posição perante a Sexta Conferência das Partes (COP-6) dos países assinantes do Convênio Marco para o Controle de Tabaco da OMS que será realizado na Rússia em outubro.

Na COP-6 serão discutidos os artigos 17 e 18 do Convênio Marco que preveem a redução dos cultivos de tabaco.

O Uruguai, um dos assinantes do Convênio Marco, anunciou medidas para restringir a promoção do tabaco na semana passada que coincidiram com a entrada em vigor da regulamentação que autoriza o cultivo e a comercialização da maconha no país.

O governo alega que as medidas adotadas fazem parte das determinações da Convenção Marco da OMS, com as quais o Uruguai se comprometeu.

O Uruguai, ao mesmo tempo, enfrenta desde 2010 em um tribunal de arbitragem do Banco Mundial um processo contra o Estado apresentado pela tabacaria Philip Morris e que questiona algumas das medidas antitabaco adotadas sob o governo do ex-presidente Tabaré Vázquez (2005-2010).

Após o encontro que teve ontem com o presidente americano, Barack Obama, em Washington, Mujica afirmou que na reunião não se falou nada sobre a maconha, mas sobre a política antitabaco do Uruguai.

"Estão morrendo oito milhões de pessoas ao ano por fumar no mundo; isto supera a Segunda Guerra Mundial e a Primeira, é um assassinato em massa. No Uruguai estamos em uma briga dura, duríssima, e temos que lutar contra interesses muito fortes", disse Mujica em entrevista coletiva conjunta com Obama.

São Paulo - Nessa semana, o presidente uruguaio José Mujica fez história ao assinar uma lei que criava um mercado legal de maconha no país. Considerando que a criminalização da droga e o combate ao tráfico são ineficazes, o Uruguai foi o primeiro país no mundo a legalizar a erva e colocar o controle da produção e venda nas mãos do Estado. Com a decisão, a discussão sobre a cannabis voltou ao centro das atenções - e outros governos já começam a pensar a respeito, indicando que novos mudanças na questão podem vir em um futuro próximo. Recentemente, o site Weed Blog postou um mapa colaborativo onde pontua, no Google Maps, mais de 40 países que estão, ao menos, discutindo e repensando a questão.  Veja a seguir oito países que, depois do Uruguai, estão discutindo a questão da legalização:
  • 2. Estados Unidos

    2 /9(Ron Wurzer/Getty Images)

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    Os Estados Unidos talvez sejam o país que levantam de maneira mais fervorosa a bandeira do combate às drogas - principalmente contra a maconha. Mas as coisas estão mudando lentamente. Desde 1996, cerca do metade dos estados passou a permitir o uso medicinal da erva. Recentemente, o Colorado se tornou o primeiro estado americano a legalizar o uso recreativo, com venda controlada pelo governo. Resultado: mais de 3,5 milhões de dólares arrecadados em impostos. Nova York também passou a permitir o seu uso medicinal e científico.
  • 3. Holanda

    3 /9(Luis Acosta/AFP)

  • A Holanda tem o histórico mais antigo de liberdade em relação à maconha: desde os anos 1970 existem os famosos coffee shops. Apesar de, em 2012, o governo ter tomado medidas no sentido da repressão - fechando coffee shops e restringindo à venda da maconha para os turistas, por exemplo -, cerca de 35 prefeitos estão organizados e pedem a legalização do cultivo da erva pelos holandeses.
  • 4. Marrocos

    4 /9(Andres Stapff/Reuters)

    Até os anos 1950, era legal cultivar maconha no Marrocos . Agora, com a erva na ilegalidade, apesar do país ser um grande produtor de maconha e haxixe, dois partidos políticos querem a "relegalização" do cultivo para uso médico e industrial.
  • 5. México

    5 /9(Jonathan Alcorn/Reuters)

    O México não vivencia grandes ondas de pressão pela legalização ou regularização da maconha - mesmo que dezenas de milhares tenham morrido na guerra às drogas nos últimos sete anos. Mas, na capital Cidade do México, foram propostas leis para permitir que certas lojas vendam até 5 gramas da erva. O prefeito da capital apoia a ideia, mas o governo federal desaprova. Ainda assim, pequenas quantidades de maconha e outras drogas foram descriminalizadas em 2009.
  • 6. Jamaica

    6 /9(Sean Gallup/Getty Images)

    Na Jamaica , até mesmo a posse da erva continua ilegal. Mas, geralmente, o indivíduo é obrigado a passar por reabilitação e pagar uma fiança para não ser preso. Desde os exemplos do Colorado e do Uruguai, muitos ativistas no país estão pressionando o governo para aprovar a descriminalização da cannabis.
  • 7. Guatemala

    7 /9(Getty Images)

    O presidente do país, Otto Perez Molina, já falou na ONU que a guerra às drogas falhou. Ele sabe do que está falando, já que seu país é um ponto estratégico na rota da cocaína no mundo. Ele anunciou, na ocasião, que a Guatemala estava estudando o assunto depois de ver exemplos "visionários", como os de Colorado e Washington, nos Estados Unidos.
  • 8. Brasil

    8 /9(NELSON ALMEIDA/Getty Images)

    No Brasil são cada vez mais frequentes as "Marchas da Maconha", que pedem a legalização da droga. O uso pessoal não é considerado crime, sim o transporte e o tráfico da droga. Atualmente, o grande debate é sobre a fragilidade da lei, que não deixa claro quanto de maconha é considerado uso pessoal e quanto já é considerado tráfico. Cabe ao juiz essa decisão, dando margem para subjetivismos e, por consequência, erros. O país tem como principal figura política a favor do "fim da guerra às drogas" o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso .
  • 9. Agora veja quem aprova e quem desaprova a erva

    9 /9(David McNew/Getty Images)

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