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Presidente ucraniano anuncia trégua com a oposição

A capital ucraniana será palco nesta quinta-feira de uma intensa atividade diplomática


	Viktor Yanukovich: o presidente ucraniano anunciou "uma trégua e a retomada das negociações para deter o banho de sangue"
 (Ukranian Presidential Press-Ser/AFP)

Viktor Yanukovich: o presidente ucraniano anunciou "uma trégua e a retomada das negociações para deter o banho de sangue" (Ukranian Presidential Press-Ser/AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 22h01.

O presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, anunciou nesta quarta-feira uma "trégua" com a oposição, diante da ameaça de sanções ocidentais contra o seu governo no dia seguinte a graves episódios de violência que deixaram 26 mortos em Kiev.

A capital ucraniana será palco nesta quinta-feira de uma intensa atividade diplomática, com as chegadas dos chefes da diplomacia francesa, alemã e polonesa e de um alto funcionário russo.

Neste contexto, o presidente Yanukovytch anunciou "uma trégua e a retomada das negociações para deter o banho de sangue", depois de um encontro com os três líderes da oposição.

Em um pronunciamento à nação durante a noite de terça para quarta-feira, enquanto os policiais avançavam contra os manifestantes no centro de Kiev, o presidente foi taxativo com a oposição, acusando suas lideranças de pregarem a "luta armada" para tomar o poder e ameaçando de processá-los.

No mesmo sentido, a Rússia denunciou uma "tentativa de golpe de Estado".

Mas o presidente americano, Barack Obama, advertiu nesta quarta para as "consequências" da violência na Ucrânia e ressaltou que o governo de Kiev deve garantir aos "manifestantes pacíficos" o direito de se manifestar "sem medo de serem reprimidos".

No centro da capital ucraniana, de onde se erguiam várias colunas de fumaça negra, a tensão ainda era perceptível nesta quarta.

Os manifestantes continuavam a queimar pneus na Praça da Independência, grande reduto dos manifestantes contrários a Yanukovytch.

O governo ucraniano endureceu o tom nesta quarta, anunciando uma operação "antiterrorista" contra grupos radicais infiltrados entre os manifestantes.

Yanukovytch também substituiu o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.


O presidente nomeou Yuri Iliin, chefe do Estado-Maior, no lugar de Volodymyr Zamana, segundo o texto do decreto publicado no site da Presidência, que não apresenta o motivo dessa nomeação.

Mais de 1.500 armas de fogo e 100.000 cartuchos de munições passaram pelas "mãos dos criminosos" desde terça-feira, indicaram os Serviços de Segurança Ucranianos (SBU). Nas últimas semanas, a adoção de um eventual estado de emergência foi mencionado pelas autoridades ucranianas.

O Exército poderá utilizar a partir de agora suas armas para "limitar ou proibir a circulação de veículos e pedestres" como parte da operação "antiterrorista", de acordo com o Ministério da Defesa.

Além disso, os militares poderão revistar e deter pessoas que cometerem "atos ilegais".

O registro mais recente dos protestos de terça-feira em Kiev divulgado pelo Ministério da Saúde indica 26 mortos e 241 feridos hospitalizados, incluindo 79 policiais e cinco jornalistas.

Ao menos dez policiais estão entre os mortos, segundo o Ministério do Interior.

Um dos líderes da oposição, o campeão de boxe Vitali Klitschko, considerou nesta quarta que apenas a renúncia do presidente pode trazer calma para o país.

"O sangue correu pelas ruas de Kiev (...). Viktor Yanukovytch é responsável pelo assassinato de cidadãos pacíficos", declarou Klitschko em um vídeo divulgado no site do partido Udar.

As manifestações começaram em novembro, quando o governo decidiu repentinamente suspender as negociações de associação à UE e estreitar as relações econômicas com a Rússia.


Ameaças de sanções

Neste contexto de crise política, uma das piores atravessadas por esta ex-república soviética desde a sua independência em 1991, a União Europeia anunciou que estudará sanções contra os responsáveis pela violência.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, indicou que analisará junto às autoridades de segurança do bloco "todas as opções, incluindo sanções contra os responsáveis pela repressão e pelas violações aos direitos humanos na Ucrânia.

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou na noite desta quarta-feira que havia conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, e que ambos concordaram em "fazer o máximo para evitar uma escalada da violência" na Ucrânia, durante declarações concedidas à imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris.

Angela Merkel disse ter "informado" o presidente russo da viagem dos chefes da diplomacia francesa, Laurent Fabius; alemã, Frank-Walter Steinmeier; e polonesa, Radoslaw Sikorski, na quinta-feira a Kiev.

"Nós decidimos manter contatos com a Rússia", acrescentou.

Fabius considerou em Paris que "é necessário restabelecer o diálogo político entra a oposição e o poder", na presença do secretário de Estado americano John Kerry.

Os três ministros prestarão contas a seus colegas europeus, segundo fontes diplomáticas.

John Kerry afirmou, por sua vez, que o presidente ucraniano Viktor "Yanukovytch pode escolher entre proteger o povo ao qual serve- que é a escolha do compromisso e do diálogo - ou entre a violência e o confronto."

"Acreditamos que a escolha seja clara", acrescentou Kerry.

"Todos nós ficamos consternados com as cenas de violência e com o nível de abuso que os cidadãos sofreram nas ruas nos últimos dias. Estamos com o povo ucraniano", acrescentou o secretário americano.

Já o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, fez um apelo à União Europeia, para que convença a oposição ucraniana a cooperar com as autoridades e se distanciar das forças radicais que querem um "golpe de Estado".

Lavrov pediu para que a UE "aproveite os contatos com a oposição para incitá-la a cooperar com as autoridades e a se distanciar das forças radicais que desencadearam confrontos sangrentos e que estão à caminho de um golpe de Estado", durante uma conversa por telefone com Frank-Walter Steinmeier.

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