Militares tentam dar golpe de Estado na Bolívia, diz governo do país
Tropas entraram no palácio do governo à força, segundo imprensa boliviana
Publicado em 26 de junho de 2024 às 17h06.
Última atualização em 26 de junho de 2024 às 18h27.
A Bolívia vive uma tarde de forte crise entre o presidente Luis Arce e os militares do país. Nesta quarta, 26, um general do Exército levou tropas à sede do governo, em La Paz, em um movimento que foi classificado de tentativa de golpe de Estado por autoridades do governo.
Segundo o jornal La Razón, militares entraram à força no palácio do governo, comandados pelo general Juan José Zuñiga. "Vamos recuperar esta pátria. Chega de empobrecer a nossa pátria", disse ele, à imprensa, antes de entrar no palácio. Zuñiga disse que unidades militares estavam mobilizados em várias partes do pais e prontos para agir. Ele prometeu mudanças no gabinete de ministros.
O presidente e o general tiveram uma discussão dentro do palácio, cercados por militares. Arce pediu ao general que se retirasse. Segundo o jornal La Razón, o general saiu do palácio e não respondeu o que iria fazer. Por volta das 18h, as tropas seguiam na praça Murillo, perto da sede do governo.
Enquanto a crise se desenrolava, várias autoridades do governo vieram a público denunciar a tentativa de golpe. "Denunciamos que há um golpe de Estado contra nosso governo democraticamente eleito", publicou David Choquehuanca, vice-presidente da Bolívia, em uma rede social.
Por volta das 17h40 (hora de Brasília), Arce divulgou um vídeo, ao lado de seus ministros, em que pede que a população apoie o governo e se posicione contra o golpe.
Algumas lideranças do país, como chefes de centrais sindicais e o ex-presidente Carlos Mesa, se posicionaram contra a tentativa de golpe e em defesa de Arce.
Cenas de mobilização militar na Bolívia
Na rede social X, Evo Morales denunciou que um "golpe de Estado está se formando". "Neste momento, pessoal das Forças Armadas e tanques estão posicionados na Plaza Murillo. Convocaram uma reunião de emergência no Estado-Maior do Exército, em Miraflores, às 15h, em uniformes de combate."
Pouco após a movimentação iniciar, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos ( OEA ), Luis Almagro, condenou os acontecimentos por meio de uma postagem no X.
"O Exército deve submeter-se ao poder civil legitimamente eleito. Enviamos nossa solidariedade ao presidente da Bolivia, Luis Arce Catacora, ao seu governo e a todo o povo boliviano. A comunidade internacional, a OEA e a secretaria-geral não tolerarão qualquer violação da ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar."
*Em atualização
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Com Agência O Globo.
Quem é Luís Arce?
Luís Arce, de 60 anos, é o presidente da Bolívia desde janeiro de 2020. Antes de comandar o país, ele atuou como ministro da Economia do país, em 2009, por nomeação do então presidente Evo Morales.
O político é considerado o pai do chamado "milagre econômico" boliviano, baseado em um modelo de desenvolvimento social comunitário produtivo.
Durante a sua gestão no ministério, Arce supervisionou a nacionalização de empresas de hidrocarbonetos, telecomunicações e mineração na Bolívia. Ele também exerceu protagonismo em um momento de rápida expansão da economia boliviana, com o PIB aumentando em 344% e a pobreza extrema reduzida de 38% para 15%.
Na época, o país passava por um processo de nacionalização dos hidrocarbonetos, que coincidiu com um boom sem precedentes dos preços do petróleo.
Em janeiro de 2020, Arce foi eleito candidato à presidência da Bolívia para as eleições nacionais de outubro de 2020 pelo partido Movimento ao Socialismo (MAS-IPSP), junto com o ex-chanceler David Choquehuanca como candidato à vice-presidência. Arce foi eleito presidente com 55,1% dos votos.
Rivalidade com Evo Morales
A disputa interna entre apoiadores de Evo Morales e de Luis Arce começou quando Evo voltou à Bolívia em 2020, após passar um ano exilado na Argentina por causa do golpe de Estado que levou à derrubada de seu governo, em 2019. O ex-presidente começou a criticar algumas decisões de Arce e seu apoiadores.
Morales foi presidente da Bolívia por quase 14 anos, entre 2006 e 2019. Ele renunciou em novembro daquele ano, depois de acusações de fraude nas eleições que lhe dariam o quarto mandato consecutivo. Ele perdeu o apoio das Forças Armadas do país e viu protestos tomarem conta das ruas da Bolívia, e deixou o país após pressão pública dos militares.