Prefeitos dos EUA rebatem Trump por minimizar luta contra a covid-19
Autoridades alertam que cidades correm o risco de ficar sobrecarregadas após retrocesso na luta contra contra o vírus
AFP
Publicado em 5 de julho de 2020 às 18h12.
Prefeitos do sul e do oeste dos Estados Unidos alertaram neste domingo que suas cidades correm o risco de ficar sobrecarregadas com o aumento de infecções por covid-19 , devido a um retrocesso na luta contra o vírus e às tentativas do presidente Donald Trump de minimizar a severidade da sua propagação.
A covid-19 está causando estragos nos estados do sul e oeste do país. Nos últimos dias, a Flórida registrou 10.000 novos casos, o Arizona registrou hospitalizações recordes e as unidades de terapia intensiva em Houston, Texas, estão operando quase em plena capacidade.
As autoridades locais começaram a se desesperar e sugerir a possibilidade de emitir ordens de confinamento, enquanto Trump continua minimizando a doença com ações como evitar usar máscara e organizar comícios.
O presidente insiste regularmente que em breve haverá uma vacina e se refere à baixa proporção de casos graves entre os infectados. "As mensagens confusas" do presidente têm sido um problema, disse à ABC Kate Gallego, a prefeita de Phoenix, Arizona.
Aglomerações e champanhe grátis
"Trump estava na minha comunidade, ele optou por não usar uma máscara e realiza grandes eventos enquanto eu tento impedir as pessoas de sair", disse Gallego, do Partido Democrata.
A prefeita disse que o Arizona começou a reabrir sua economia cedo demais. "Tínhamos bares cheios de champanhe grátis, sem máscaras", acrescentou.
A capacidade insuficiente de testar fez com que as pessoas, incluindo algumas com sintomas, esperassem até oito horas em seus carros para serem testadas, disse Gallego.
Quando pediu ajuda à Agência Federal de Gerenciamento de Emergências para fazer mais testes, "eles nos disseram que estavam parando de fazer isso, como se estivessem declarando vitória".
A ocupação em unidades de terapia intensiva nos hospitais do Arizona é quase 100%, segundo o jornal Arizona Republic. O estado passou a marca de 1.800 mortes.
Cautela sobre a vacina
O chefe da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA), Stephen Hahn, foi mais cauteloso quando questionado sobre o otimismo do presidente.
Sobre a previsão de Trump de que "até o final do ano" haverá uma vacina disponível, Hahn disse que, embora os esforços de pesquisa tenham sido feitos com "velocidade sem precedentes", ele não pode "prever quando haverá uma vacina acessível".
Poucos especialistas esperam que até o final do ano uma vacina esteja disponível em grande escala.
"Todo caso, toda morte é trágica", disse à ABC Hahn sobre as alegações do presidente de que 99% dos casos secretos de 19 anos são "totalmente inofensivos".
A juíza Lina Hidalgo, democrata que chefia o executivo de um condado da região de Houston, emitiu uma ordem de confinamento no início da pandemia, mas o governador do Texas, Greg Abbott, proibiu essas restrições por parte dos governos locais.
Dado o claro aumento de infecções, esse governador republicano ordenou o uso de máscaras faciais na maioria dos municípios do Texas.
"O que estamos vendo", disse Hidalgo à ABC, "é que as ilusões não são boas políticas econômicas nem boas políticas de saúde pública".
Acima das capacidades
A juíza disse que os hospitais em Houston, que tem o maior complexo médico do mundo, e em dezenas de cidades do Texas tiveram a sua capacidade excedida.
Encorajados por Trump, estados com praias e clima bom foram os primeiros a retomar suas economias.
"A cidade de Miami foi a última cidade em todo o estado da Flórida a reabrir", disse o prefeito republicano Francis Suarez à ABC. "Fui criticado por esperar demais. Quando reabrimos, as pessoas começaram a socializar como se o vírus não existisse".
Tom Bossert, ex-consultor de segurança nacional de Trump, alertou que as coisas podem piorar ainda mais.
Desde 19 de junho, a Flórida registrou 100.000 novos casos de coronavírus. "Essas pessoas ainda estão infectadas. Há fortes razões para acreditar que agora, hoje, existem 500.000 pessoas infectadas na Flórida".
"Somente as máscaras não vão eliminar o vírus".