Uma mulher recolhe água potável de um caminhão pipa em La Calera, perto de Bogotá ( Daniel MUÑOZ/AFP Photo)
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2024 às 15h26.
Não lavar o carro, calçadas e varandas, usar a máquina de lavar até que tenha roupas suficientes para enchê-la, um copo de água para escovar os dentes, banhos de até cinco minutos — em dupla ou, para aqueles que não vão sair, nenhum banho. Essas foram algumas dicas dadas ainda no início desta semana pelo prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán, que repete exaustivamente o mantra "cada gota conta".
O primeiro setor da capital já ficou sem água até as 8h da manhã desta sexta-feira, seguindo as diretrizes do racionamento que entrou em vigor no dia anterior devido a uma seca sem precedentes na região.
— Tome banho em dupla. Trata-se de um exercício pedagógico para poupar água, não de outras coisas. Essas coisas irão nos ajudar muito, essas mudanças de comportamento são importantes — destacou em entrevista à reder Notícias Caracol, na terça-feira, pedindo aqueles que ficarão em casa no fim de semana "que não se banhe".
Segundo a gerente da empresa Acueducto, Natasha Avendanõ, o racionamento já mostrou resultados:
— Reduzimos 15,8 m³ por segundo, isso é um bom balanço. O objetivo é chegar a 15 m³ por segundo todos os dias com a mudança de comportamento dos cidadãos — disse à rede.
As restrições entraram em vigor na quinta-feira e impõem cortes de água de 24 horas a cada dez dias em bairros de Bogotá e outras dez cidades vizinhas, atingidas por uma escassez sem precedentes, um reflexo do fenômeno El Niño e, principalmente, das mudanças climáticas. Cerca de dez milhões de pessoas — um quinto da população — serão impactadas. Em duas semanas, as autoridades avaliarão se a medida será prorrogada. Escolas e hospitais estão isentos das restrições.
O Chingaza paramo — um sistema alpino de zonas úmidas rico em lagos glaciais — fornece cerca de 70% da água potável de Bogotá, e suas represas estão em seu nível mais baixo desde 1980. Avendaño afirmou, porém, que apesar dos números positivos, "não houve afluência dos reservatórios", o que significa que os níveis do reservatório permanecem o mesmo: "Não caiu uma gota de água".
Um dos culpados é o fenômeno climático El Niño, que desde o início do ano causa transtornos na Colômbia, sobretudo no frio centro andino, que segundo o Ministério do Meio Ambiente atingiu "temperaturas anormais" de até 24ºC , e a ministra Susana Muhamad afirmou que apenas no final de abril ou início de maio voltará a chover com força suficiente para aliviar a situação de emergência nos reservatórios.
Mas Muhamad também assegurou que a seca se deve a uma "nova realidade climática" e a condições para as quais "a cidade e a região têm que se adaptar".
A Colômbia é abençoada com abundantes fontes de água doce, mas milhões de pessoas não têm acesso à água limpa como resultado da grave poluição da água, do desmatamento e da agricultura, e . O presidente Gustavo Petro, em uma longa postagem no X na quinta-feira, disse que metade do abastecimento de água do país depende de seus pântanos, selvas e florestas andinas "que já foram saqueados em 80% para a agricultura ou mineração para construção".
"Haverá secas piores do que a que estamos enfrentando", disse, acrescentando que os moradores de Bogotá poderiam agora julgar se a "urbanização desenfreada" era sustentável. Petro disse que o país há muito prioriza a urbanização em detrimento do "financiamento sério da adaptação às mudanças climáticas", afirmando que, com os atuais níveis de investimento, levaria um século para fornecer água potável e saneamento adequado para os 17 milhões de pessoas que atualmente não têm. O custo ideal seria de US$ 26 bilhões.
"Isso é absurdamente irracional em meio a uma crise climática que se agravará devido ao crescente consumo de carvão e petróleo nas sociedades ricas do norte", argumentou, afirmando que havia ordenado uma "mudança substancial" nos investimentos para garantir que nos próximos 30 anos toda população tenha água limpa.
Em janeiro, a falta de chuvas causou centenas de incêndios florestais na Colômbia, que consumiram cerca de 17.100 hectares de mata. Em Bogotá, as Colinas Orientais que cercam a capital queimaram por vários dias.
As principais cidades do mundo são consideradas em risco de ficar sem água devido às atividades humanas e às secas ligadas às mudanças climáticas.
O México teve 21% menos chuvas do que o normal em 2023 — o ano mais seco desde o início dos registros — e os reservatórios que atendem à capital de 20 milhões de pessoas despencaram, provocando cortes no abastecimento e nervosismo entre os moradores.
Em 2023, os moradores de Montevidéu, capital do Uruguai, recorreram em massa à água engarrafada, pois os reservatórios caíram tanto que as autoridades tiveram de misturar água salobra de rio ao suprimento de água potável e aumentar os níveis permitidos de sódio e cloreto.
E os residentes da cidade sul-africana da Cidade do Cabo escaparam por pouco do chamado "Dia Zero", quando as torneiras teriam secado em 2018 devido a uma seca de vários anos.