Por que a última vez que NY votou em um republicano foi com Ronald Reagan
A polarização crescente nos EUA fez as eleições de Reagan nos anos 80 ser o último momento marcante de vitória republicana em estados democratas
Carolina Riveira
Publicado em 25 de outubro de 2020 às 12h28.
Última atualização em 11 de agosto de 2021 às 14h16.
O presidente americano, Donald Trump , fez sua carreira empresarial na cidade de Nova York. Foi por lá que o presidente e magnata construiu marcos de seu patrimônio, como a Trump Tower, logo em frente ao Central Park -- construída na década de 70 e comprada por Trump 20 anos depois.
Mas, pela segunda eleição seguida, Trump não deve conseguir ser um candidato competitivo no estado. O democrata Joe Biden tem mais de 99% de chances de vencer em Nova York, segundo o modelo estatístico do site FiveThirtyEight.
No estado, quase metade dos mais de 18 milhões de habitantes ficam na região metropolitana da cidade de Nova York, um reduto democrata. A última vez que Nova York votou em um republicano foi com Ronald Reagan, em 1984. Era o segundo mandato de Reagan, que já havia sido eleito em 1980, mas gozava de uma popularidade alta.
Em 2016, embora tenha perdido a eleição, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton ganhou em Nova York com 58% dos votos, ante 36% de Trump.
Não significa que estados progressistas como Nova York ou a Califórnia não tenham uma fatia considerável de eleitores conservadores. Trump, por exemplo, teve 2,8 milhões de votos em Nova York em 2016, contra 4,6 milhões de Clinton. Mas, pelo modelo do colégio eleitoral, a democrata levou sozinha todos os 29 votos do estado.
Pelo colégio eleitoral americano, não valem só os votos gerais do país; a depender do tamanho da população, cada estado tem uma quantidade de votos dentre os 538 do chamado colégio eleitoral. Em todos os estados (com exceção de dois), o vencedor fica com todos os votos do colégio eleitoral, não importa o quão apertada tenha sido a eleição.
A disputa mais "apertada" em Nova York neste século foi na reeleição de George W. Bush, em 2004, contra John Kerry. Ainda assim, Kerry levou com folga.
Em 2016, por exemplo, Trump também levou o Michigan, um dos estados historicamente em disputa nas eleições. O presidente venceu por só 11.000 votos de diferença, mas foi o suficiente para lhe garantir os 16 votos do estado no colégio eleitoral. Antes de 2016, a última vez que um republicano tinha ganhado no Michigan havia sido com George H. W. Bush (o "Bush pai"), em 1988.
Nova York já foi o estado mais populoso dos Estados Unidos, mas perdeu a posição para a Califórnia e, depois, foi ultrapassada também pelo Texas e pela Flórida. Enquanto a Califórnia é também tradicionalmente democrata, o Texas costuma votar nos republicanos (a última vitória democrata foi em 1976, com Jimmy Carter). Já a Flórida é um dos chamados swing states, estados com voto pouco definido na eleição e que são disputados com unhas e dentes pelos candidatos.
Barack Obama venceu na Flórida em 2008 e 2012, mas Trump venceu Hillary Clinton em 2016. Neste ano, as pesquisas no estado estão tecnicamente empatadas, com Biden pouco menos de 2 pontos à frente. Segundo as projeções do FiveThirtyEight, Biden tem 67% de chance de vencer na Flórida. Como o estado é populoso, tem um papel crucial na eleição: é o terceiro com mais votos no colégio eleitoral (29), atrás só da Califórnia (55) e do Texas (38).
Em suas duas eleições, em 1984 e 1980, Reagan conseguiu vencer também em redutos democratas como a Califórnia, o Massachusetts, Nova Jersey e New Mexico. Foram vitórias avassaladoras: dos 538 votos no colégio eleitoral americano, Regan teve 489 contra Jimmy Carter em 1980; depois, em 1984, teve nada menos que 525 votos contra Walter Mondale, ex-vice do próprio Jimmy Carter.
Cada vez menos disputa
Como alguns estados já são marcadamente republicanos ou democratas, há historicamente menos disputa nestes lugares. É mais comum que os candidatos invistam a maior parte dos recursos nos swing states, estados que realmente possam fazer a diferença.
E esse cenário tem se intensificado, uma vez que uma reviravolta nos moldes de Reagan nos estados democratas é quase impossível nos tempos recentes.
A polarização crescente nos EUA contribui para ter poucos eleitores mudando de ideia. Neste ano, a alguns meses da eleição, só cerca de 10% dos eleitores estavam indecisos.
Segundo a última pesquisa da Gallup, do ano passado, com dados de 2018, só dez dos 50 estados são de fato competitivos nos Estados Unidos. É o menor número desde 2008.
Na outra ponta, há algumas surpresas nas eleições deste ano: a mais notável é no Arizona, onde um democrata não ganhava a presidência desde Bill Clinton em 1996. Pela média das pesquisas, Biden lidera com 3 pontos de vantagem.
Apesar das surpresas, pelo lado dos democratas, também tem sido mais difícil vencer em estados republicanos. O Kentucky não elege um democrata desde Bill Clinton, enquanto o último democrata a ganhar a presidência no Alabama foi Jimmy Carter.
No geral, os eleitores de grandes cidades têm se inclinado rumo aos democratas, assim como jovens e parte do eleitorado negro e latino, como mostram pesquisas recentes da parceria Exame/IDEIA nos estados-chave da eleição americana. Já os eleitores mais velhos, de regiões mais rurais e brancos têm se inclinado a Trump.
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