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Por conta da crise, número de sem-teto bate recorde na Grécia

Cerca de 20 mil gregos tiveram de se privar de suas casas após a crise econômica

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 29 de dezembro de 2011 às 05h48.

Atenas - Georgios Markuris, um técnico em informática que trabalha na Universidade de Atenas, nunca pensou que iria chegar a ser um dos 20 mil gregos aos quais a crise privou de uma casa.

Markukis, que também trabalhou como músico e até já viajou para a América Latina para aprender a música local, relata como chegou a esta situação de pobreza.

'Perdi meu emprego e entrei em uma profunda depressão. Me transformei em outra pessoa. Perdi meus amigos e minha família. Há três meses me vi na rua, sem um lar', explica.

Desde que a crise da dívida explodiu em meados de 2010 e a Grécia foi objeto de um plano de resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de duras medidas de austeridade, cerca de meio milhão de pessoas perderam seu emprego, dezenas de milhares de empresas fecharam e o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou drasticamente.

Mas uma das faces mais duras desta crise é a dos indivíduos sem-teto, um fenômeno até então quase desconhecido na Grécia, mas que agora é muito comum na capital.

No último ano, o número de cidadãos vivendo nas ruas aumentou 25% e a maioria tem 'um perfil totalmente diferente' do de antes, explica Olga Theodorikakou, coordenadora da associação humanitária 'Klimaka'.

'Eles são da classe média. Até pouco tempo tinham um trabalho e uma casa. O único fator que os transformou em sem-teto foi o desemprego', diz.

Markuris reconhece que é um 'sortudo', já que encontrou abrigo na Klimaka, mas em todo o país existem apenas 300 vagas, ou seja, uma para cada 67 pessoas sem lar.

O problema está relacionado, segundo Spyros Psikhas, ex-representante grego na federação europeia de associações de ajuda aos sem-teto, com o fato de a Grécia não reconhecer as pessoas que não têm casa como um grupo em risco de exclusão social, o que impede que existam políticas adequadas para lutar contra o problema.

'A Grécia carece de um verdadeiro Estado de bem-estar social. Os desempregados recebem um auxílio durante um ano, mas depois ficam sem nada. Os trabalhadores autônomos nem sequer têm direito ao desemprego', explica Panos Tsakloglu, professor da Universidade de Economia e Negócios de Atenas.

'Até agora era a família que evitava que estas pessoas caíssem na pobreza. Mas agora isto também está falhando', acrescenta.

A ONG Médicos do Mundo (MdM) dispõe de quatro centros na Grécia e até o ano passado parecia impensável que os pacotes que distribui fossem recebidos pela população local de um país que, desde 1981, faz parte da UE, uma das regiões mais prósperas do planeta.

Mas não é mais assim: se há um ano apenas 7% dos atendidos pela MdM era gregos, agora são mais de 30%.

'Quando uma pessoa perde seu emprego na Grécia, deve começar a pagar pelos serviços médicos. Talvez se pense que o preço não é alto (5 euros por consulta), mas se as famílias dependem inclusive da caridade para comer, é muito dinheiro', conta Nikitas Kanakis, presidente da MdM Grécia.

Só em Atenas, as organizações de caridade distribuem cerca de 20 mil refeições diárias. Um desses locais é o centro Kyada, onde por volta de 2 mil pessoas se amontoam na filas e é fácil reconhecer os novos pobres.

Suas roupas denotam seu recente pertencimento à classe média e é evidente seu desconforto nessa situação. A comida - um prato de ervilhas e uma rabanada - termina rápido e os que ficam sem comer esboçam resignação e se conformam com uma bebida.

Psikhas se queixa que o Estado está tendo que ser substituído pelas ONGs: 'Acho que os políticos não se dão conta do que vem pela frente'.

Olga considera que os novos sem-teto são 'facilmente reintegráveis' na sociedade, já que são pessoas qualificadas e em idade produtiva.

'Mas se passarem mais de um ano na rua, se acostumam a isso e acreditam que não há nenhuma saída. Então as possibilidades de poderem voltar a uma situação normal são muito poucas', alerta.

O marinheiro Giorgos é um deles. Há duas décadas trabalhava na poderosa frota comercial grega. 'Viajávamos pelo Mediterrâneo. Gostava muito da Espanha', lembra.

Há anos, vive na rua, à mercê das intempéries, das drogas, da miséria. Ele dá uma tragada em seu cachimbo de heroína e se submerge no pesado e prazeroso sonho de suas lembranças, tentando esquecer o que o cerca.

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Atenas - Georgios Markuris, um técnico em informática que trabalha na Universidade de Atenas, nunca pensou que iria chegar a ser um dos 20 mil gregos aos quais a crise privou de uma casa.

Markukis, que também trabalhou como músico e até já viajou para a América Latina para aprender a música local, relata como chegou a esta situação de pobreza.

'Perdi meu emprego e entrei em uma profunda depressão. Me transformei em outra pessoa. Perdi meus amigos e minha família. Há três meses me vi na rua, sem um lar', explica.

Desde que a crise da dívida explodiu em meados de 2010 e a Grécia foi objeto de um plano de resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de duras medidas de austeridade, cerca de meio milhão de pessoas perderam seu emprego, dezenas de milhares de empresas fecharam e o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza aumentou drasticamente.

Mas uma das faces mais duras desta crise é a dos indivíduos sem-teto, um fenômeno até então quase desconhecido na Grécia, mas que agora é muito comum na capital.

No último ano, o número de cidadãos vivendo nas ruas aumentou 25% e a maioria tem 'um perfil totalmente diferente' do de antes, explica Olga Theodorikakou, coordenadora da associação humanitária 'Klimaka'.

'Eles são da classe média. Até pouco tempo tinham um trabalho e uma casa. O único fator que os transformou em sem-teto foi o desemprego', diz.

Markuris reconhece que é um 'sortudo', já que encontrou abrigo na Klimaka, mas em todo o país existem apenas 300 vagas, ou seja, uma para cada 67 pessoas sem lar.

O problema está relacionado, segundo Spyros Psikhas, ex-representante grego na federação europeia de associações de ajuda aos sem-teto, com o fato de a Grécia não reconhecer as pessoas que não têm casa como um grupo em risco de exclusão social, o que impede que existam políticas adequadas para lutar contra o problema.

'A Grécia carece de um verdadeiro Estado de bem-estar social. Os desempregados recebem um auxílio durante um ano, mas depois ficam sem nada. Os trabalhadores autônomos nem sequer têm direito ao desemprego', explica Panos Tsakloglu, professor da Universidade de Economia e Negócios de Atenas.

'Até agora era a família que evitava que estas pessoas caíssem na pobreza. Mas agora isto também está falhando', acrescenta.

A ONG Médicos do Mundo (MdM) dispõe de quatro centros na Grécia e até o ano passado parecia impensável que os pacotes que distribui fossem recebidos pela população local de um país que, desde 1981, faz parte da UE, uma das regiões mais prósperas do planeta.

Mas não é mais assim: se há um ano apenas 7% dos atendidos pela MdM era gregos, agora são mais de 30%.

'Quando uma pessoa perde seu emprego na Grécia, deve começar a pagar pelos serviços médicos. Talvez se pense que o preço não é alto (5 euros por consulta), mas se as famílias dependem inclusive da caridade para comer, é muito dinheiro', conta Nikitas Kanakis, presidente da MdM Grécia.

Só em Atenas, as organizações de caridade distribuem cerca de 20 mil refeições diárias. Um desses locais é o centro Kyada, onde por volta de 2 mil pessoas se amontoam na filas e é fácil reconhecer os novos pobres.

Suas roupas denotam seu recente pertencimento à classe média e é evidente seu desconforto nessa situação. A comida - um prato de ervilhas e uma rabanada - termina rápido e os que ficam sem comer esboçam resignação e se conformam com uma bebida.

Psikhas se queixa que o Estado está tendo que ser substituído pelas ONGs: 'Acho que os políticos não se dão conta do que vem pela frente'.

Olga considera que os novos sem-teto são 'facilmente reintegráveis' na sociedade, já que são pessoas qualificadas e em idade produtiva.

'Mas se passarem mais de um ano na rua, se acostumam a isso e acreditam que não há nenhuma saída. Então as possibilidades de poderem voltar a uma situação normal são muito poucas', alerta.

O marinheiro Giorgos é um deles. Há duas décadas trabalhava na poderosa frota comercial grega. 'Viajávamos pelo Mediterrâneo. Gostava muito da Espanha', lembra.

Há anos, vive na rua, à mercê das intempéries, das drogas, da miséria. Ele dá uma tragada em seu cachimbo de heroína e se submerge no pesado e prazeroso sonho de suas lembranças, tentando esquecer o que o cerca.

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