Pesquisadores veem pressa do governo como despreocupação ambiental
São Paulo - Dois dias depois do consórcio liderado pela estatal Chesf, montado de última hora pelo governo, vencer o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, ambientalistas e pesquisadores da área energética afirmaram que a pressa demonstrada pelo governo para concretizar o negócio é um sinal de que as questões ambientais serão deixadas de lado. […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h37.
São Paulo - Dois dias depois do consórcio liderado pela estatal Chesf, montado de última hora pelo governo, vencer o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, ambientalistas e pesquisadores da área energética afirmaram que a pressa demonstrada pelo governo para concretizar o negócio é um sinal de que as questões ambientais serão deixadas de lado.
Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/Manaus), diz que o leilão é preocupante porque só fará sentido se outra barragem for construída daqui a alguns anos. "Se houver apenas uma barragem, o projeto é economicamente inviável no longo prazo. Suponho, portanto, que a construção de uma segunda, a de Altamira, já é dada como certa. Ela aumentará enormemente a emissão de gases de efeito estufa. É uma bomba ambiental", diz.
O pesquisador explica que o apodrecimento da vegetação depositada no fundo de uma barragem gera metano, um gás de efeito estufa com 25 vezes mais impacto sobre o aquecimento global do que o gás carbônico. "Essa questão é totalmente ignorada", diz ele.
Um grupo de 40 pesquisadores - de antropólogos a engenheiros elétricos - produziu no fim de 2009 um documento apontando falhas no projeto da hidrelétrica de Belo Monte e as possíveis conseqüências ambientais, que vão de emissão de gases de efeito estufa até a extinção de espécies de peixes.
A região onde será construída a usina, no rio Xingu, é uma das mais importantes do país em biodiversidade, considerando o número de espécie de animais e plantas.
Francisco Hernandez, engenheiro elétrico da Universidade de São Paulo e um dos coordenadores do painel de especialistas, explica que, com o desvio das águas, em determinadas épocas do ano o rio ficará até cinco metros mais raso, o que prejudicará a reprodução de espécies de peixes e tartarugas.
"A obra terá um volume de escavações de pedra e terra semelhante ao do Canal do Panamá. As conseqüências ambientais começam pela ameaça de extinção de muitas espécies de peixes, como o Acari Zebra, que só existe lá", diz Hernandez.
Ociosidade anunciada
Segundo o engenheiro, outro problema é a variação do nível das águas do rio Xingu em diferentes épocas do ano, que vai de 800 metros cúbicos por segundo até 28 mil metros cúbicos. Dessa forma, a potência máxima de energia de 11,2 gigawatts (que transformaria a usina na terceira maior do mundo) só seria obtida em dois meses do ano.
"A vazão do rio Xingu flutua muito durante o ano. Em alguns meses, a vazão pode não ser suficiente para fazer a turbina principal funcionar. Estamos falando de períodos de até quatro meses de ociosidade", diz Hernandez.
Leia outras notícias sobre Belo Monte