Segundo ativistas dos direitos humanos, vítimas foram mortas nos subúrbios de Damasco e Homs (AFP)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2011 às 17h09.
Cairo - A Síria viveu nesta sexta-feira uma nova e sangrenta jornada de protestos políticos que terminou com pelo menos 15 mortes, enquanto o governo anunciou que havia encerrado o envio de militares para perto da fronteira com a Turquia.
Segundo relatos de ativistas de direitos humanos e grupos da oposição, as vítimas foram mortas nos subúrbios de Damasco e na cidade de Homs, ao norte da capital, e incluem pelo menos dois menores de idade. Como é habitual em todas as sextas-feiras desde meados de março, os protestos começaram após o final das orações do meio-dia, a celebração religiosa semanal mais importante para o islamismo, em meio a fortes medidas de segurança.
Os Comitês Locais de Coordenação, uma rede informativa da oposição, identificaram 12 dos mortos e disseram que um deles, de 13 anos, morreu no bairro de Al Kisua, em Damasco, e outro, de 12 anos, no bairro da cidade de Homs. Alguns deles foram enterrados nesta própria sexta-feira, gerando novos protestos contra o regime de Bashar al-Assad. Segundo ativistas da oposição, houve manifestações em múltiplos pontos do país, das quais participaram centenas de milhares de pessoas.
Nos arredores da grande mesquita de Al Tal, em Damasco, a Polícia dispersou um desses protestos, segundo as mesmas fontes. Uma rede de informação opositora, Flash, relatou que na capital se notava nesta sexta-feira uma presença das forças de segurança "sem precedentes", que incluía franco-atiradores situados em alguns telhados.
Estes relatos não puderam ser confirmados de forma independente devido às restrições das autoridades sírias, que prenderam ou proibiram o trabalho de jornalistas da imprensa internacional e expulsaram do país correspondentes estrangeiros.
Nas últimas horas, o regime de Damasco permitiu a entrada de uma equipe da emissora americana "CNN", mas impôs limitações a seus deslocamentos. Por outro lado, fontes da oposição e a rede informativa que a apoia afirmaram que no bairro de Al Kisua soldados e oficiais da I Brigada do Exército se recusaram a participar da repressão oficial e protegeram um protesto e um funeral realizados na área.
Essa ação envolveu disparos contra forças de segurança e civis armados que estavam atacando os ativistas da oposição, segundo as mesmas fontes. A emissora de televisão síria, no entanto, negou que tenha havido choques armados entre policiais e militares no local.
A agência oficial "Sana", por sua vez, informou nesta sexta-feira que o Exército havia encerrado o envio de militares à cidade de Yisr al Shugur, perto da fronteira com a Turquia, aonde chegaram em 12 de junho.
Esse povoado foi palco de confrontos no início do mês que causaram 120 mortes, a maioria integrantes das forças de segurança e militares, segundo os relatórios oficiais.
A ação do Exército, que manteve Yisr al Shugur sob ataque durante três dias antes das tropas entrarem na cidade em 12 de junho, intensificou um êxodo de sírios para a Turquia que as autoridades do país vizinho cifraram em 11.739 refugiados.
Tanto a "Sana" como a emissora de televisão estatal fizeram nesta sexta-feira apelos aos sírios que estão em campos de refugiados na Turquia para que retornem o país, "já que se restabeleceu a segurança na cidade".
Os Estados Unidos expressaram nesta quinta-feira à noite sua preocupação pelos relatos de concentração de tropas sírias perto da fronteira com a Turquia, já que poderiam desestabilizar ainda mais a região.
"Caso seja verdade, essa agressiva ação só exacerbaria a já instável situação dos refugiados na Síria", afirmou a secretária de Estado americana, Hillary Clinton.
Coincidindo com a nova jornada de protestos na Síria, nesta sexta-feira entraram em vigor novas sanções da União Europeia contra Damasco, que implicam no congelamento de ativos e na proibição de representantes do regime de viajarem para território comunitário.
Essas sanções se estenderam a outras sete pessoas, entre as quais dois primos do presidente.