Para OMS, ebola gera grande preocupação no oeste da África
A Organização Mundial da Saúde revelou que a situação nos países mais afetados - Guiné, Libéria e Serra Leoa - "continua muito preocupante"
Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2014 às 17h16.
Especialistas em ebola se disseram preocupados nesta quinta-feira com a intensificação da epidemia no oeste da África, enquanto o número de infectados se aproxima dos 10.000.
Após uma reunião de emergência sobre a febre hemorrágica, a Organização Mundial da Saúde revelou que a situação nos países mais afetados - Guiné, Libéria e Serra Leoa - "continua muito preocupante".
"Foi uma avaliação unânime do comitê de que a situação se mantém como uma emergência sanitária de preocupação internacional", acrescentou.
No terceiro encontro do tipo desde que a epidemia de ebola teve início na Guiné, no começo do ano, os especialistas avaliavam novas formas de conter a transmissão da epidemia.
"A ênfase principal deve continuar sendo conter a transmissão do ebola nos três países mais afetados. Agir é o avanço mais importante para se evitar o contágio internacional", informou a OMS.
A meta é encontrar uma vacina, em um momento em que a epidemia parece avançar.
Em outra reunião realizada nesta quinta-feira, a União Europeia (UE) disponibilizou até € 24,4 milhões para a busca de vacinas e tratamentos.
Os recursos serão liberados rapidamente "a fim de iniciar o trabalho o mais rápido possível", destacou a Comissão Europeia, órgão executivo da UE.
"Estamos em uma corrida contra o tempo no que diz respeito ao ebola e precisamos responder à situação de emergência e encontrar, ao mesmo tempo, uma resposta de longo prazo", afirmou o presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso.
A porta-voz da OMS, Fadela Chaib, disse no começo da semana que "muita coisa mudou" desde o último encontro dos especialistas, em setembro, com registros de casos na Espanha e nos Estados Unidos.
Número de casos triplicou
Desde então, a taxa de infecção nos países mais afetados quase triplicou, e alguns especialistas alertaram para a possibilidade de as infecções chegarem a 10.000 por semana no começo de dezembro.
Em um sinal de esperança, as primeiras doses da vacina experimental rVSV contra o ebola chegaram ao Hospital da Universidade de Genebra, procedentes do Canadá, e a OMS revelou que sua meta seria enviar os primeiros suprimentos à África no início do ano que vem.
Mas em campo, a situação permanecia profundamente preocupante. A presidente liberiana, Ellen Johnson Sirleaf, admitiu que "a transmissão passou a nossa frente", ao anunciar novas medidas de controle nas fronteiras para reduzir a transmissão.
Apesar do quadro negativo, um integrante da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que trabalha na cidade de Foya (norte), disse à presidente Sirleaf que a cidade pode em breve ser declarada livre do ebola devido à ausência de registros de casos em três semanas.
A OMS alertou que a magnitude da doença nesse país - até agora o mais afetado - foi subestimada, com a "subnotificação" de casos, principalmente na capital, Monróvia.
Foi na Libéria que se originaram os casos diagnosticados na Nigéria, em julho, e nos Estados Unidos, em setembro.
Um novo esquema no aeroporto internacional do país vai relacionar a lista de passageiros com nomes de parentes de vítimas do ebola para tentar evitar o embarque de pessoas infectadas.
Ajuda africana
A União Africana (UA) anunciou nesta quinta-feira que os países africanos enviarão mais de mil profissionais de saúde para combater o ebola nos três países mais afetados.
"Vários Estados-membros se comprometeram a enviar equipes de saúde para Libéria, Serra Leoa e Guiné, entre eles a República Democrática do Congo, que mandará mil profissionais divididos em três grupos", afirmou em Freetown, capital de Serra Leoa, Nkosazana Dlamini-Zuma, presidente da Comissão da UA, sem anunciar uma data concreta para o envio.
"A comunidade internacional reagiu fornecendo principalmente a infraestrutura, mas não pessoal. A infraestrutura é vital para que haja centros de tratamento, mas sem profissionais de saúde, trata-se de um desperdício", acrescentou.
Na semana passada, a Comunidade do Leste da África, formada por Quênia, Uganda, Ruanda, Burundi e Tanzânia, tinha anunciado o envio de mais de 600 profissionais de saúde, entre eles 41 médicos.
Mas, por enquanto, a UA só tinha enviou a campo 22 profissionais.
Luz no fim do túnel em Serra Leoa
Também nesta quinta-feira, o presidente da vizinha Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, afirmou em entrevista à emissora britânica ITV News que a epidemia seria "contida" no país "até o fim do ano".
"Acredito que até o fim do ano, nós estaremos em condições, não de eliminar, mas de conter o vírus ebola", afirmou Koroma.
"A epidemia de ebola foi anunciada em maio e pegou a todos nós de surpresa. Não estamos sozinhos na luta. Fomos aconselhados pela OMS, que tem nos orientado sobre o que fazer e a cada etapa, tivemos consultas com eles. Acho que estamos reagindo de forma apropriada", acrescentou Koroma.
Uma boa notícia para um país onde a epidemia dá sinais de desestabilização social.
Na terça-feira, duas pessoas morreram em confrontos no país, quando equipes de saúde tentaram coletar uma amostra de sangue de uma idosa de 90 anos, suspeita de estar infectada com o vírus.
Armada de facões, uma multidão enfrentou as forças de segurança na cidade de Koidu, contaram fontes médicas à AFP.
De acordo com os números mais recentes da OMS, a atual epidemia de ebola, a mais letal desde que o vírus foi identificado em 1976, registra 9.936 infecções desde o início do ano, sendo 4.877 mortais.