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Paquistão faz 15 anos como membro do clube nuclear

Das oito potências nucleares, o Paquistão - único país islâmico da lista - é o que apresenta uma situação econômica pior

Paquistão: o objetivo principal do programa nuclear paquistanês foi desde seu início garantir a segurança do país. (SXC.Hu)
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Da Redação

Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.

Islamabad - Faz 15 anos que o Paquistão decidiu mostrar ao mundo que possuía armas nucleares, um poder que se enfraquece diante dos problemas agudos que o país asiático sofre em termos de segurança e escassez de energia.

Na semana passada, o recém eleito primeiro-ministro, Nawaz Sharif, qualificou como uma "tragédia que um país com armas nucleares não tenha eletricidade", em referência à falta endêmica de energia nas casas e nas empresas do Paquistão.

Das oito potências nucleares - lista que costuma não trazer a Coreia do Norte, devido ao estágio elementar de seu programa atômico -, o Paquistão - único país islâmico da lista - é o que apresenta uma situação econômica pior.

"O uso civil de energia atômica é caro e complexo", lamentou o físico nuclear Pervez Hoodbhoy, que dúvida do plano para aumentar a provisão de energia de origem nuclear no país, "porque a comunidade internacional bloqueia a venda de combustível atômico ao Paquistão".

Sharif, que esta semana assumiu seu cargo como chefe de Governo após vencer as eleições de maio, liderava também o Executivo que em 28 de maio de 1998 autorizou a detonação de cinco artefatos nucleares nas montanhas de Chagai, no sudoeste do país.

"Decidiu fazê-lo por medo de que crescesse a pressão internacional sobre o Paquistão, após o teste nuclear que a Índia tinha feito duas semanas antes", explicou o analista local e professor universitário, Humayun Khan.


"O país tinha nesse momento a necessidade de mostrar abertamente seu poder nuclear para manter a credibilidade de sua estratégia de dissuasão militar perante a Índia", acrescentou Khan.

Embora o teste atômico tenha acontecido em 1998, o programa nuclear nasceu 25 anos antes, depois da derrota militar que o Paquistão sofreu em 1971 e que lhe custou a perda de sua parte ocidental após o sucesso, com apoio indiano, do movimento separatista bengalês.

Essa perda, que marcou profundamente a política externa e de defesa do país, provocou um sentimento de vulnerabilidade que aumentou com o primeiro teste nuclear indiano, três anos depois.

"Para o Paquistão já não havia como voltar atrás depois dos testes indianos de 1974", afirma a analista Maria Sultam, diretora de um importante centro de estudos de defesa em Islamabad, próximo ao estamento militar.

O objetivo principal do programa nuclear paquistanês foi desde seu início garantir a segurança do país perante a ameaça que seu poderoso vizinho e rival indiano representava, e na opinião dos analistas essa meta foi cumprida.

"O Paquistão não podia enfrentar com poderio convencional a ameaça que a Índia representava, por isso que teve que recorrer à arma nuclear como única via para estabilizar a situação", diz Khan, destacando que "desde 1998 não houve guerras com a Índia".


A segurança trazida pela arma nuclear teve, no entanto, efeitos nocivos, segundo a opinião de alguns críticos, como Hoodbhoy, que defende o congelamento do programa militar porque "não dá resposta para os problemas diários das pessoas".

Além disso, a energia nuclear não ajudou a corrigir o enorme déficit energético do país (a eletricidade produzida em reatores só representa entre 2% e 3%), e Hoodbhoy opina que o aumento da insurgência local tem a ver com a bomba.

"A arma nuclear nos deu tal segurança frente a outros estados que o Paquistão abrigou grupos "jihadistas" ou entrou em aventuras militares sem enfrentar o risco de que se desencadeasse uma guerra", disse o crítico Hoodbhoy.

Segundo este professor da Universidade Quaid-e-Azam de Islamabad, a evidência é que a Índia não respondeu com ataques ao Paquistão, após episódios como a entrada em 1999 de tropas paquistanesas na região de Kargil, na porção da Caxemira sob controle indiano.

Também não o fez, lembra Hoodbhoy, após os ataques ao Parlamento indiano em 2001 ou os atentados na cidade de Mumbai em 2008, incidentes ambos protagonizados por grupos supostamente treinados em solo paquistanês.

Maria defende, por outro lado, o papel da arma nuclear paquistanesa como fator de segurança não só para o Paquistão mas também para a região, já que evitou uma guerra com a Índia, que, segundo esta analista, "iniciaria a terceira guerra mundial".


A escalada nuclear desde 1998 no Sul da Ásia continuou a ritmo desigual mas parou, e segundo o centro de estudos sueco Sipri, ambos os países aumentaram no ano passado seu arsenal atômico, estimado em uma centena de bombas cada um.

De acordo com o Sipri, uma das referências mundiais em questões relativas a controle de armamento, tanto a Índia como o Paquistão aumentaram suas reservas em cerca de dez cabeças, mas Maria Sultam desmente categoricamente esses cálculos.

"Não se correspondem em absoluto com a capacidade de produção indiana, que é muito maior", diz Maria, alegando que o que o Paquistão faz foi "diversificar seu arsenal para se adaptar aos novos desafios estratégicos, mas não tem necessidade de produzir mais bombas.

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Islamabad - Faz 15 anos que o Paquistão decidiu mostrar ao mundo que possuía armas nucleares, um poder que se enfraquece diante dos problemas agudos que o país asiático sofre em termos de segurança e escassez de energia.

Na semana passada, o recém eleito primeiro-ministro, Nawaz Sharif, qualificou como uma "tragédia que um país com armas nucleares não tenha eletricidade", em referência à falta endêmica de energia nas casas e nas empresas do Paquistão.

Das oito potências nucleares - lista que costuma não trazer a Coreia do Norte, devido ao estágio elementar de seu programa atômico -, o Paquistão - único país islâmico da lista - é o que apresenta uma situação econômica pior.

"O uso civil de energia atômica é caro e complexo", lamentou o físico nuclear Pervez Hoodbhoy, que dúvida do plano para aumentar a provisão de energia de origem nuclear no país, "porque a comunidade internacional bloqueia a venda de combustível atômico ao Paquistão".

Sharif, que esta semana assumiu seu cargo como chefe de Governo após vencer as eleições de maio, liderava também o Executivo que em 28 de maio de 1998 autorizou a detonação de cinco artefatos nucleares nas montanhas de Chagai, no sudoeste do país.

"Decidiu fazê-lo por medo de que crescesse a pressão internacional sobre o Paquistão, após o teste nuclear que a Índia tinha feito duas semanas antes", explicou o analista local e professor universitário, Humayun Khan.


"O país tinha nesse momento a necessidade de mostrar abertamente seu poder nuclear para manter a credibilidade de sua estratégia de dissuasão militar perante a Índia", acrescentou Khan.

Embora o teste atômico tenha acontecido em 1998, o programa nuclear nasceu 25 anos antes, depois da derrota militar que o Paquistão sofreu em 1971 e que lhe custou a perda de sua parte ocidental após o sucesso, com apoio indiano, do movimento separatista bengalês.

Essa perda, que marcou profundamente a política externa e de defesa do país, provocou um sentimento de vulnerabilidade que aumentou com o primeiro teste nuclear indiano, três anos depois.

"Para o Paquistão já não havia como voltar atrás depois dos testes indianos de 1974", afirma a analista Maria Sultam, diretora de um importante centro de estudos de defesa em Islamabad, próximo ao estamento militar.

O objetivo principal do programa nuclear paquistanês foi desde seu início garantir a segurança do país perante a ameaça que seu poderoso vizinho e rival indiano representava, e na opinião dos analistas essa meta foi cumprida.

"O Paquistão não podia enfrentar com poderio convencional a ameaça que a Índia representava, por isso que teve que recorrer à arma nuclear como única via para estabilizar a situação", diz Khan, destacando que "desde 1998 não houve guerras com a Índia".


A segurança trazida pela arma nuclear teve, no entanto, efeitos nocivos, segundo a opinião de alguns críticos, como Hoodbhoy, que defende o congelamento do programa militar porque "não dá resposta para os problemas diários das pessoas".

Além disso, a energia nuclear não ajudou a corrigir o enorme déficit energético do país (a eletricidade produzida em reatores só representa entre 2% e 3%), e Hoodbhoy opina que o aumento da insurgência local tem a ver com a bomba.

"A arma nuclear nos deu tal segurança frente a outros estados que o Paquistão abrigou grupos "jihadistas" ou entrou em aventuras militares sem enfrentar o risco de que se desencadeasse uma guerra", disse o crítico Hoodbhoy.

Segundo este professor da Universidade Quaid-e-Azam de Islamabad, a evidência é que a Índia não respondeu com ataques ao Paquistão, após episódios como a entrada em 1999 de tropas paquistanesas na região de Kargil, na porção da Caxemira sob controle indiano.

Também não o fez, lembra Hoodbhoy, após os ataques ao Parlamento indiano em 2001 ou os atentados na cidade de Mumbai em 2008, incidentes ambos protagonizados por grupos supostamente treinados em solo paquistanês.

Maria defende, por outro lado, o papel da arma nuclear paquistanesa como fator de segurança não só para o Paquistão mas também para a região, já que evitou uma guerra com a Índia, que, segundo esta analista, "iniciaria a terceira guerra mundial".


A escalada nuclear desde 1998 no Sul da Ásia continuou a ritmo desigual mas parou, e segundo o centro de estudos sueco Sipri, ambos os países aumentaram no ano passado seu arsenal atômico, estimado em uma centena de bombas cada um.

De acordo com o Sipri, uma das referências mundiais em questões relativas a controle de armamento, tanto a Índia como o Paquistão aumentaram suas reservas em cerca de dez cabeças, mas Maria Sultam desmente categoricamente esses cálculos.

"Não se correspondem em absoluto com a capacidade de produção indiana, que é muito maior", diz Maria, alegando que o que o Paquistão faz foi "diversificar seu arsenal para se adaptar aos novos desafios estratégicos, mas não tem necessidade de produzir mais bombas.

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