Países árabes saem da letargia e reagem perante repressão na Síria
Apesar da importância do país para a estabilidade do Oriente Médio, Síria perdeu o apoio de Arábia Saudita e da Liga Árabe
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2011 às 12h01.
Cairo - Ao mesmo tempo que o regime de Bashar al-Assad aperta a corda em torno da população síria, os países árabes saíram de sua letargia e estreitam o cerco diplomático sobre Damasco.
Com o resto do mundo pendente do vermelho e do verde das bolsas de valores, os países árabes parecem assumir que a repressão já ultrapassou o limite do aceitável e, nas últimas horas, eclodiram chamadas ao fim da violência.
O rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, convocou uma reunião na noite de domingo com seu embaixador em Damasco em razão da "violência inaceitável", enquanto Kuwait e Bahrein fizeram o mesmo nesta segunda-feira com seus representantes na capital síria.
Horas antes, a Liga Árabe havia abandonado seu silêncio para pedir às autoridades sírias o fim imediato da violência, e até a vizinha Jordânia qualificou a crise como "inquietante, lamentável e dolorosa".
Analistas e opositores se perguntam agora se esta reação chega tarde demais e se deveria ser mais contundente. A sexta-feira passada, marcada por protestos na Síria, foi batizada com o nome de "Deus está conosco, embora ninguém nos apoie".
Essa solidão dos manifestantes foi expressada pela condenação dos Comitês de Coordenação Local, um dos principais grupos da oposição, em direção "às nações amigas que não se posicionaram às claras, inclusive as libertadas, cujas revoluções acenderam a revolução síria". Ou seja, Egito e Tunísia.
"Os Governos árabes estão muito preocupados com a estabilidade e em geral veem a revolução como um risco que deve ser evitado", disse à Agência Efe Gamal Abdel Gawad, analista e diretor do Centro de Estudos Estratégicos Al-Ahram.
No entanto, Abdel Gawad considerou que a brutal campanha de repressão na semana passada contra a cidade de Hama, no norte, foi percebida como "um ponto de inflexão" que levou os países árabes a não tolerarem mais a situação.
"Hama tem um grande valor simbólico, porque foi uma cidade arrasada em 1982 pelo pai de Bashar, Hafez al-Assad. De certa forma, é a Ruanda árabe", explicou o analista.
As causas da inação árabe são variadas, mas existem duas que se repetem em qualquer análise. Por um lado, o complexo desenho étnico-religioso e a posição estratégica da Síria, vizinha de Israel e tradicionalmente um contrapeso na região às monarquias sunitas do Golfo e aos regimes pró-ocidentais de Egito e Jordânia.
Para Abdel Gawad, "a Síria é um país central no Oriente Médio, e até mesmo a Arábia Saudita, apesar das tensas relações com Damasco, estava preocupada pelo impacto da revolta sobre a estabilidade da região".
Apesar de ser um país de maioria sunita, a Síria é governada pela minoria xiita alauí, o que levou a Liga Árabe a alertar sobre o temor da explosão de um conflito sectário na Síria, o que provocaria "consequências negativas em toda região".
Por outro lado, sobre o mutismo árabe exerceu um papel importante o temor do efeito do contágio da revolução síria em outros países, como os do Golfo, que com exceção do pequeno reino do Bahrein, conseguiram até o momento se esquivar das revoltas.
Apesar disso, o colunista do jornal pan-árabe "Asharq al-Awsat", Hussein Shoboksi destacou que os árabes "já não podem se conter mais e a irritação é pública".
Em declarações ao canal de televisão Al Jazeera, o jornalista ressaltou que as palavras já não são suficientes e previu uma ação coordenada dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) com o tradicional aliado sírio da Turquia para tomar "medidas maciças de pressão".
"Já começou o efeito bola de neve", acrescentou Shobokshi, em alusão às reações da comunidade internacional na última semana.
A concatenação de condenações começou com a declaração presidencial do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira passada - um texto que não chegou a ser uma resolução, com maiores implicações jurídicas.
Apesar das desavenças anteriores, a ofensiva diplomática de última hora foi recebida de braços abertos pela oposição síria.
A Conferência Síria pela Mudança, com base na Turquia, disse em comunicado que o discurso do rei Abdelaziz "demonstra a responsabilidade histórica do reino árabe saudita e estimula seu apoio histórico a seus irmãos".
Em qualquer caso, não convém esquecer que o regime sírio manteve nas últimas décadas sérias diferenças com seus vizinhos sunitas.
Por enquanto, os grandes parceiros da Síria na região, Irã e o grupo xiita Hezbollah, não abriram a boca contra o regime de Al-Assad e é extremamente improvável que façam isso no futuro.
Do mesmo modo, também não parece factível que os vizinhos árabes da Síria possam apoiar uma intervenção armada para frear a repressão, como fizeram na Líbia contra Muammar Kadafi.
Abdel Gawad afirmou que é preciso relativizar a influência exterior, uma vez que "as revoltas nos países árabes demonstraram que são imunes à intervenção estrangeira. O curso dos eventos segue sua própria dinâmica".
Cairo - Ao mesmo tempo que o regime de Bashar al-Assad aperta a corda em torno da população síria, os países árabes saíram de sua letargia e estreitam o cerco diplomático sobre Damasco.
Com o resto do mundo pendente do vermelho e do verde das bolsas de valores, os países árabes parecem assumir que a repressão já ultrapassou o limite do aceitável e, nas últimas horas, eclodiram chamadas ao fim da violência.
O rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdul Aziz, convocou uma reunião na noite de domingo com seu embaixador em Damasco em razão da "violência inaceitável", enquanto Kuwait e Bahrein fizeram o mesmo nesta segunda-feira com seus representantes na capital síria.
Horas antes, a Liga Árabe havia abandonado seu silêncio para pedir às autoridades sírias o fim imediato da violência, e até a vizinha Jordânia qualificou a crise como "inquietante, lamentável e dolorosa".
Analistas e opositores se perguntam agora se esta reação chega tarde demais e se deveria ser mais contundente. A sexta-feira passada, marcada por protestos na Síria, foi batizada com o nome de "Deus está conosco, embora ninguém nos apoie".
Essa solidão dos manifestantes foi expressada pela condenação dos Comitês de Coordenação Local, um dos principais grupos da oposição, em direção "às nações amigas que não se posicionaram às claras, inclusive as libertadas, cujas revoluções acenderam a revolução síria". Ou seja, Egito e Tunísia.
"Os Governos árabes estão muito preocupados com a estabilidade e em geral veem a revolução como um risco que deve ser evitado", disse à Agência Efe Gamal Abdel Gawad, analista e diretor do Centro de Estudos Estratégicos Al-Ahram.
No entanto, Abdel Gawad considerou que a brutal campanha de repressão na semana passada contra a cidade de Hama, no norte, foi percebida como "um ponto de inflexão" que levou os países árabes a não tolerarem mais a situação.
"Hama tem um grande valor simbólico, porque foi uma cidade arrasada em 1982 pelo pai de Bashar, Hafez al-Assad. De certa forma, é a Ruanda árabe", explicou o analista.
As causas da inação árabe são variadas, mas existem duas que se repetem em qualquer análise. Por um lado, o complexo desenho étnico-religioso e a posição estratégica da Síria, vizinha de Israel e tradicionalmente um contrapeso na região às monarquias sunitas do Golfo e aos regimes pró-ocidentais de Egito e Jordânia.
Para Abdel Gawad, "a Síria é um país central no Oriente Médio, e até mesmo a Arábia Saudita, apesar das tensas relações com Damasco, estava preocupada pelo impacto da revolta sobre a estabilidade da região".
Apesar de ser um país de maioria sunita, a Síria é governada pela minoria xiita alauí, o que levou a Liga Árabe a alertar sobre o temor da explosão de um conflito sectário na Síria, o que provocaria "consequências negativas em toda região".
Por outro lado, sobre o mutismo árabe exerceu um papel importante o temor do efeito do contágio da revolução síria em outros países, como os do Golfo, que com exceção do pequeno reino do Bahrein, conseguiram até o momento se esquivar das revoltas.
Apesar disso, o colunista do jornal pan-árabe "Asharq al-Awsat", Hussein Shoboksi destacou que os árabes "já não podem se conter mais e a irritação é pública".
Em declarações ao canal de televisão Al Jazeera, o jornalista ressaltou que as palavras já não são suficientes e previu uma ação coordenada dos países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) com o tradicional aliado sírio da Turquia para tomar "medidas maciças de pressão".
"Já começou o efeito bola de neve", acrescentou Shobokshi, em alusão às reações da comunidade internacional na última semana.
A concatenação de condenações começou com a declaração presidencial do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira passada - um texto que não chegou a ser uma resolução, com maiores implicações jurídicas.
Apesar das desavenças anteriores, a ofensiva diplomática de última hora foi recebida de braços abertos pela oposição síria.
A Conferência Síria pela Mudança, com base na Turquia, disse em comunicado que o discurso do rei Abdelaziz "demonstra a responsabilidade histórica do reino árabe saudita e estimula seu apoio histórico a seus irmãos".
Em qualquer caso, não convém esquecer que o regime sírio manteve nas últimas décadas sérias diferenças com seus vizinhos sunitas.
Por enquanto, os grandes parceiros da Síria na região, Irã e o grupo xiita Hezbollah, não abriram a boca contra o regime de Al-Assad e é extremamente improvável que façam isso no futuro.
Do mesmo modo, também não parece factível que os vizinhos árabes da Síria possam apoiar uma intervenção armada para frear a repressão, como fizeram na Líbia contra Muammar Kadafi.
Abdel Gawad afirmou que é preciso relativizar a influência exterior, uma vez que "as revoltas nos países árabes demonstraram que são imunes à intervenção estrangeira. O curso dos eventos segue sua própria dinâmica".