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Outubro de 1962, a crise de Cuba leva o mundo ao desespero

Por décadas, a "crise dos mísseis" foi apresentada como um episódio magistralmente administrado pelo presidente dos Estados Unidos na época, John F. Kennedy

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2012 às 14h56.

Washington - A instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba provocou há 50 anos a crise mais aguda da Guerra Fria, em que o mundo escapou do apocalipse atômico "por acaso", admitem os protagonistas do confronto.

Por décadas, a "crise dos mísseis" foi apresentada como um episódio magistralmente administrado pelo presidente dos Estados Unidos na época, John F. Kennedy.

A secretária de Estado Hillary Clinton não poupou comparações da gestão da crise por Kennedy com a atitude da administração Obama em relação à questão nuclear iraniana.

A abertura dos arquivos soviéticos e americanos apresenta uma realidade mais prosaica: os 13 dias de outubro revelaram a dificuldade para Kennedy e seu homólogo Nikita Khrushchev de controlar a sequência de eventos.

Preocupado com o atraso soviético em termos de armamento e com as ameaças dos Estados Unidos relacionadas à revolução cubana, o líder soviético decidiu em maio de 1962 enviar mais de 40.000 soldados e dezenas de mísseis nucleares para a ilha. A decisão foi tomada mesmo depois de Khruschev ter prometido aos americanos que não colocaria armas ofensivas em Cuba.

Somente por meio de fotografias tirada por um avião espião U-2 que as autoridades americanas descobriram em 16 de outubro a presença dos mísseis. "O sentimento era de choque e incredulidade", contou Robert Kennedy, o irmão do presidente.


A surpresa foi total, mas foi antecedida por vários relatórios enviados à CIA por agentes cubanos --882 apenas para o mês de setembro, segundo Michael Dobbs, autor de "One minute to midnight"-- que descrevia movimentos estranhos de comboios nas estradas da ilha à noite.

Mísseis na Turquia

Na Casa Branca, os generais exigiam ataques aéreos ou uma invasão de Cuba, enquanto o secretário de Defesa, Robert McNamara, e diplomatas preferiam o bloqueio da ilha para impedir que os navios soviéticos continuassem a entregar as armas.

No dia 22 de outubro, JFK anunciou a situação aos americanos e colocou as forças dos Estados Unidos em alerta. O mundo respirou aliviado quando soube que a maioria dos navios havia voltado.

Nos bastidores o drama continuou. Kennedy e Kruschev tentaram encontrar uma solução, mas os seus esforços eram comprometidos pela incapacidade de se comunicar diretamente e por mensagens e eventos contraditórios.

Na noite de 26 de outubro, os soviéticos propuseram retirar os seus mísseis em troca da garantia de que não houvesse invasão a Cuba, mas na manhã seguinte também exigiram publicamente a retirada de mísseis americanos da Turquia.


No sábado, dia 27, houve uma escalada da tensão: um U-2 foi abatido sobre Cuba, as coisas pareciam fora de controle. O Pentágono estava preparado para grandes ataques na terça-feira seguinte, seguidos pelo desembarque de 120.000 homens em Cuba.

Apenas 30 anos depois que os americanos souberam que "os soviéticos tinham dezenas de mísseis táticos na ilha, equipados com ogivas nucleares capazes de destruir uma força de invasão inteira", segundo Michael Dobbs.

O medo acabou vencendo na noite de sábado: Washington prometeu não invadir Cuba e, secretamente, retirar os mísseis da Turquia, enquanto Moscou retirou os seus mísseis de Cuba.

"Por anos, eu considerei a crise dos mísseis cubanos, como a crise política externa mais bem administrada nos últimos 50 anos (...)", confessou Robert McNamara durante uma coletiva de imprensa em Havana, em 2002. "Agora, concluí que qualquer que tenha sido a habilidade exibida, ao final desses 13 dias extraordinários, a sorte é que ajudou a evitar uma guerra nuclear".

Para o ex-agente do departamento cubano da KGB, Nikolai Leonov, "foi quase como se uma intervenção divina tivesse ajudado a nos salvar".

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